Correio da Cidadania

Irã: a guerra é certa?

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Foi altamente sintomática a resignação, em março, do almirante William Fallon ao comando das forças americanas no Oriente Médio, depois de duas críticas à postura agressiva da administração Bush. Ao Financial Times: "Outra guerra é justamente para onde não queremos ir". E à TV Al Jazeera: "Este constante rufar de tambores de guerra não ajuda e não é útil".

 

Vai no mesmo sentido a informação do ex-candidato presidencial republicano, Ron Paul, de que o governo estaria em vias de enviar ao congresso uma resolução propondo o bloqueio naval do Irã, o que equivaleria a uma declaração de guerra.

 

Seymour Hersh, o mais importante repórter investigativo americano, sustenta que algo de igual teor já está sendo feito por Bush. No fim do ano passado, ele lançou, com apoio dos chefes dos dois partidos, um programa secreto com 400 milhões de dólares destinados à "desestabilização da liderança dos aiatolás". Estes recursos estão sendo aplicados em ações no território do Irã pelas Forças Especiais americanas e por grupos das minorias Baluchi e Ahwazi, como o M.E.K (Mujahedin-e Khalq), qualificado nos Estados Unidos como terrorista por ter matado cidadãos americanos, o PJAK (organização curda que pratica o terrorismo no norte do Irã) e o Jundallah, que mantém vínculos com os talibans.

 

Além de Bush, cada vez mais autoridades civis e militares vem insistindo em repetir o sugestivo refrão de que "todas as opções estão na mesa". Por seu lado, os israelenses são mais explícitos. Para Shaul Mofaz, membro do ministério, "se o Irã continuar com seu programa de desenvolvimento de armas nucleares, nós atacaremos." E o major-general Aharon Zeevi-Farsh, afirmou, ao apoiar o ataque, que "o preço que Israel pagará será muito menos doloroso do que o preço que será forçado a pagar se os iranianos obtiverem a bomba nuclear".

 

Muitos analistas acreditam que Israel já se decidiu pela guerra. Uma prova disso seria o recente exercício no Mediterrâneo e na Grécia, em que foram usados 100 caças-bombardeiros F-15 e F-16, considerado como o ensaio de uma possível operação contra o Irã.

 

Em junho, autoridades da Secretaria da Defesa disseram à ABC News que o ataque israelense provavelmente aconteceria dentro de um ano. Nesse prazo, o Irã poderia enriquecer urânio suficiente para a produção de bombas nucleares e instalar sistemas de defesa aérea SA 20, comprados da Rússia e altamente eficientes, coisas que Israel não admite.

 

Contrapondo-se a estes fatos, há outros que também devem ser levados em conta. O National Security Network calcula que a política de ameaças contra o Irã é responsável por um aumento de 30 a 40 dólares no preço do petróleo. O Irã já reiterou que em caso de bombardeio de suas instalações nucleares retaliaria, atacando objetivos militares americanos e israelenses. Sem dúvida, fechariam o estreito de Ormuz, através de mísseis ou minas. Com isso, seria impedido o tráfego de navios que transportam a maior parte do petróleo do Oriente Médio. O preço do petróleo chegaria a níveis inimagináveis, levando ao pânico as economias do mundo ocidental, já vulneradas pela inflação e a crise americana. Mesmo antes da resposta militar iraniana, o barril de petróleo de imediato subiria para cerca de 300 a 400 dólares, segundo analistas da área.

 

Iniciada a guerra, o Irã não ficaria sozinho. O Hizbollah e o Hamas lançariam ataques contra o território israelense. As forças americanas no Iraque sofreriam ataques da parte dos milicianos do aiatolá Al Sadr. Igualmente, as demais milícias xiitas iraquianas, que apóiam o governo atual, não ficariam omissas, em função dos laços que as ligam aos xiitas iranianos. E, como lembrou tempos atrás o secretário da defesa Robert Gates, o conflito motivaria muitos milhares de jovens muçulmanos a aderirem aos movimentos jihadistas, incendiando toda a região, além de promover ataques em todo o mundo a interesses americanos.

 

Comentando essa situação, o chefe do Estado Maior, conjunto das forças armadas americanas, almirante Mike Mullen, declarou na semana passada que "é uma parte do mundo muito instável e eu não preciso que ela se torne ainda mais instável".

 

Apesar de tudo, Bush parece não ter desistido da idéia de bombardear o Irã. No entanto, só o fará garantido previamente pela aprovação dos seus principais objetivos no Iraque: a nova lei, que privatiza o petróleo, e o SOFA (Status of Foreign Agreement), que normatiza a permanência de forças americanas no Iraque. Essa nova lei assegura o controle do petróleo iraquiano pelos Estados Unidos e suas benesses para as grandes petrolíferas americanas. Com o SOFA, tropas americanas serão estabelecidas no país, impedindo que futuros governos se "comportem mal".

 

Já que "todas as opções estão sobre a mesa", o prazo para que esses objetivos sejam alcançados é curto. Tem de ser antes de novembro, quando das eleições presidenciais.

 

Por isso mesmo, Bush declarou que quer o SOFA e a nova lei do petróleo aprovados até fins de julho. Caso tenha se resolvido pela guerra, terá algum tempo para convencer a opinião pública americana, evitando danos á candidatura de John McCain. Mas problemas surgiram.

 

Primeiro, o governo iraquiano rejeitou certas cláusulas do SOFA, como atentatórias à soberania: direito do exército americano prender quem quiser, lançar operações sem consultar Bagdá e controlar o espaço aéreo; imunidade legal para os soldados e mercenários estrangeiros e permanência em 56 bases por tempo indeterminado. O primeiro-ministro Maliki chegou a dizer que as chances de aprovar o SOFA, como concebido, eram nulas. E não ficou nisso. Exigiu que o território iraquiano e seu espaço aéreo não fossem usados num ataque a outros países (leia-se Irã). Bush lhe deu as devidas garantias E topou rediscutir as cláusulas vetadas pelos iraquianos.

 

Mas Maliki foi adiante. Um prazo para retirada das tropas americanas teria de ser estabelecido. Ora, a Casa Branca sempre rejeitou esta idéia. Delineou-se um impasse.

 

Bush, é claro, não desistiu. Ele sabe que Maliki precisa do apoio do exército americano durante algum tempo para dominar a rebeldia sunita e os nacionalistas do aiatolá Al Sadr. Por isso, o primeiro-ministro iraquiano não deseja romper com ele.

 

Sucede que Maliki está sob intensa pressão, não só da parte dos sunitas e do movimento de Al Sadr, mas também de outras forças, como os membros do seu próprio partido, o Dawa (os quais, de olho nas eleições provinciais de outubro, não querem se malquistar com o povo majoritariamente anti-americano), os iranianos, xiitas como ele, e aliados de longa data, e o aiatolá Sistani, o líder de maior prestígio no país, que taxou o SOFA de mera desculpa para justificar tropas americanas no país.

 

Sendo o SOFA a questão maior a ser resolvida no Irã, os deputados deixaram a nova lei do petróleo de lado. Ao que tudo indica, sua discussão só será retomada depois de decididas as regras do acordo militar. Claro, ele corre risco de reprovação, substituído pelo prolongamento do mandato da ONU que legaliza as tropas estrangeiras no país.

 

Como as coisas andam, as soluções estão longe de acontecerem. Dificilmente antes das eleições de novembro. Nem por isso o Irã está livre de ser bombardeado.

 

Se Olmert cair, Netanyhu será quase certamente eleito primeiro-ministro. Aí, pode-se esperar por um bombardeio das instalações nucleares do Irã por aviões israelenses, conforme o fundamentalista judeu prometeu. E mesmo sem consultar os Estados Unidos, pois os americanos fatalmente entrarão na guerra ao lado de Israel.

 

Vencendo Obama, Bush logo encarará as pressões de Israel, que não confia no líder democrata, e dos neoconservadores, ainda dominantes nos seus conselhos privados. Para personalidades tão opostas quanto Seymour Hersh e o ex-embaixador na ONU, John Bolton, neste caso as chances de ataque serão muitas.

 

Não ficaria bem iniciar o bombardeio já em novembro, em meio às celebrações da possível vitória democrata. Dezembro seria mais adequado, embora Papai Noel talvez não gostasse de distribuir bombas em vez de presentes.

 

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Comentários   

0 #1 esli Fernandes Silva 13-09-2008 05:48
agora estamos vendo de fato qual era a verdadeira intenção dos EUA qdo atacou o iraque com a justificatica q tinham armamentos nuclear.A real motivação dos EUA é puramente por questão energetica e sobrevivência esse acordo proposto ao Iraque demonstra mais uma vez a real intenção dos EUA:controlar o petroleo pelo menos por enquanto daquele país pra suprir eventual bloqueio do Irã aos paiseis ocidentais...qdo o Irã for atacado concerteza os EUA já terá garantias suficinte de estoque de petroleo via Iraque.
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