Correio da Cidadania

A China e os problemas do mundo

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O mundo dominado pelo sistema capitalista de produção tinha problemas diversos mas, até o final do século 20, a questão de sua "sustentabilidade" energética e alimentar não se tornara evidente. Seu processo desigual de desenvolvimento permitia que algumas nações mais desenvolvidas, com apenas 5% da população mundial, pudessem consumir, sem concorrência, 25% ou mais da produção do planeta.

 

O fato de milhões de pobres morrerem de fome, a cada ano, e de inúmeros países, principalmente africanos, serem considerados inviáveis, parecia algo inevitável, decorrente da própria natureza desses países. Mesmo porque isso parecia não criar qualquer problema para o crescimento sustentável das potências desenvolvidas.

 

Porém, o desenvolvimento da China e, no seu rastro, da Índia, Brasil e de outros países asiáticos, africanos e latino-americanos, transformou em cacos aquela suposição e fez o mundo ver-se frente a novas questões. Ante a crescente necessidade energética e alimentar, muitos analistas norte-americanos e europeus passaram a afirmar que será insustentável para o mundo conviver com um a dois bilhões de pessoas com capacidade de comer e adquirir veículos próprios.

 

Expressam, dessa forma, a idéia de que o mundo só será "sustentável" se apenas alguns poucos países permitirem que suas populações tenham cerca de 700 carros por mil habitantes e comam à vontade. Para eles, o mundo será inviável se um terço do conjunto das populações dos países em desenvolvimento e atrasados elevar seu padrão de vida.

 

Eles não pretendem discutir mudanças nos padrões de desenvolvimento e consumo implantados pelo sistema capitalista de produção. Preferem culpar a China por estar forçando os limites da "sustentabilidade" capitalista, ao colocar no mercado mundial, no curto espaço de 30 anos, cerca de 800 milhões de pessoas com poder de compra, e por prometer colocar mais outras 500 milhões nos próximos 10 a 15 anos.

 

De qualquer modo, a questão do uso dos recursos e do meio ambiente foi colocada com muita força na ordem do dia. Primeiro, porque os povos dos países mais atrasados têm pleno direito de acesso eqüitativo a tais recursos e de desenvolver-se econômica e socialmente. Segundo, porque isso significa não só retirar os atuais privilégios dos países capitalistas desenvolvidos, de desperdício irresponsável, mas também adotar um modo de organização econômica e social da vida que permita o uso racional e sustentável desses recursos e do meio ambiente.

 

Em outras palavras, ao praticar uma retirada estratégica, para desenvolver suas forças produtivas, utilizando mecanismos de mercado e diversas formas de propriedade, inclusive capitalistas, a China colocou o mundo, e a si própria, diante da questão da "sustentabilidade" do sistema capitalista e da própria humanidade, além também da necessidade de outra ordem econômica e social.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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