Correio da Cidadania

Oriente Médio: visões norte-americanas

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Indiferentemente de quem seja o próximo presidente norte-americano, o Oriente Médio continuará a ser a sua maior preocupação imediata na política externa. Em suas elucubrações intermitentes, os formuladores estadunidenses misturam em seu cadinho terrorismo e fontes energéticas, de sorte que a duradoura presença de seu país justifique-se de algum modo perante a comunidade internacional, bastante desacreditada dos benefícios de tal permanência.

 

Outrossim, sob o manto da preservação da estabilidade do sistema mundial, os Estados Unidos apontam o Irã como a peça problemática daquela região. Assim, haveria a imperiosa necessidade de alterar o regime político de Teerã, de feitio teocrático há quase três décadas.

 

É esta a avaliação majoritária dos conservadores, descontentes com a falta de pressão de Washington sobre Teerã, desconsiderando a falta de credibilidade acumulada pelos republicanos durante quase uma década à frente da Casa Branca.

 

De um lado, segundo os neoconservadores, posicionar-se-iam norte-americanos e sunitas; do outro, iranianos, sírios e xiitas de uma maneira geral. O Líbano seria o primeiro local de contenda explícita entre estas duas forças multinacionais, ainda limitadas à esfera das chancelarias e à ação dos grupos internos daquele frágil país. Ainda conforme a visão mais à direita, Iraque e Palestina também pertenceriam à dicotomia bipolar naqueles torrões.

 

Um dos mais visíveis sinais da importância do território médio-oriental foi a presença lá do presidente George Bush por duas vezes no primeiro semestre deste ano. Contudo, não há mais tempo para que os republicanos minimizem o fardo do seu legado a ser entregue para o próximo titular da Casa Branca, a partir de janeiro de 2009.

 

Se isto não é possível materialmente, sê-lo-ia de forma retórica, ao enfatizar-se a importância do Irã em detrimento da do Iraque e mesmo da do Afeganistão. Sinalizar uma ameaça iminente, nas considerações republicanas, amenizaria os fracassos presentes. Parte dos meios de comunicação do país esposa esta tática da disseminação do terror.

 

O reflexo disto encontra-se mesmo entre os dois candidatos democratas, tendo posição mais inflexível com relação a dialogar com Teerã a senadora Hillary Clinton – em sua retórica desesperada para granjear o apoio do eleitorado mais reacionário, a fim de obter a indicação presidencial do Partido Democrata, ela chegou a mencionar que varreria o Irã do mapa.

 

O presidente George Bush recusou-se, ao longo de seu duplo mandato, a conversar de maneira sistemática com os governos do Irã e da Síria, a não ser com este após as primeiras semanas depois do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, com o fito de compartilhar informações sobre a movimentação de grupos extremistas.

 

Em tese, a preocupação cotidiana com o fornecimento ininterrupto de petróleo daquela área sobrepor-se-ia à instabilidade política dos dois Estados renegados, de acordo com a avaliação dos neoconservadores. Se não houve a recuperação do complexo petrolífero com o objetivo de baratear os preços do produto, após a pressão exercida durante anos e anos, seria temerário esboçar alguma ação incisiva contra o Irã, o que afetaria o tenso mercado energético global.

 

Destarte, a atenção maior na questão energética deriva da ausência de um projeto para limitar a influência política do regime xiita iraniano. Punição similar à aplicada ao Iraque na década de 90 não parece ser mais, como colocado, a melhor opção, dado que faltaria apoio na Organização das Nações Unidas. Uma ação unilateral não é mais possível devido à escassez de recursos humanos nas desgastadas forças armadas norte-americanas.

 

Enquanto isso, a população norte-americana, não obstante a franca oposição à guerra do Golfo, encontra-se desamparada com vistas a temas prioritários como reformulação do sistema de saúde, em que 15% da população não possui cobertura médica; ampliação maior do salário-mínimo, reajustado em sua primeira parcela em julho do ano passado de modo insuficiente; e reforma tributária, por meio da qual se elevasse a taxação dos setores mais bem-remunerados da sociedade.

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UNB.

 

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