Correio da Cidadania

As raízes da globalização do século 21

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A globalização iniciada no final do século 20 é diferente, em muitos aspectos, das globalizações anteriores. Ela resulta do processo de desenvolvimento histórico desigual do capitalismo, desde o século 18, que criou países capitalistas altamente desenvolvidos, medianamente desenvolvidos, em desenvolvimento, e países tidos como inviáveis. Processo que levou a diferentes tipos de guerras, inclusive guerras imperialistas mundiais, e a revoluções e guerras revolucionárias. E conduziu, durante o século 20, ao surgimento de países socialistas, ao fim do colonialismo, à implantação de welfare states em países capitalistas da Europa e à Guerra Fria.

 

Nos países altamente desenvolvidos, já em meados do século 20, o capitalismo havia ingressado na utilização das ciências e das tecnologias como as principais forças produtivas de seu modo de produção. A conseqüência foi o aumento veloz do capital constante das empresas, a elevação da produtividade do trabalho, a redução do capital variável, isto é, da força humana de trabalho, e o decréscimo da taxa média de lucro, ou da margem de rentabilidade. O capitalismo, nesses países, apesar, ou por causa de sua pujança tecnológica, começou a enfrentar crescente dificuldade para realizar sua reprodução ampliada.

 

Nos países medianamente desenvolvidos, seu capitalismo realizou esforços para ingressar na era das ciências e tecnologias, como principais forças produtivas, de modo a competir com os produtos dos países altamente desenvolvidos. Com isso, também começaram a ver-se diante de problemas idênticos aos enfrentados pelos países de capitalismo avançado.

 

Nos países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, o capitalismo mesclou-se a formas historicamente anteriores de produção, gerando altas taxas de mais-valia absoluta, mas avançando pouco na utilização das ciências e tecnologias como forças produtivas de primeira ordem. E nos países tidos como inviáveis, supondo-se principalmente países localizados na África, Ásia, e América Latina, o capitalismo praticamente só estava presente, a exemplo do século 19 e princípios do século 20, como importador de matérias primas e exportador de manufaturados.

 

Entre os países socialistas havia a União Soviética, medianamente desenvolvida, os países do leste europeu e a China, em desenvolvimento, e a Mongólia, Vietnã, Cuba e Coréia do Norte, considerados inviáveis. Sem contar com os mecanismos capitalistas de desenvolvimento das forças produtivas, esses países encontraram crescente dificuldade para gerar riqueza ampliada. Passaram a rebaixar a riqueza existente e a redistribuir pobreza.

 

Assim, a partir dos anos 1980, tomando como parâmetro o capitalismo avançado, muitos acreditaram que a nova globalização consistiria na destruição de tudo que não fosse gerado pelas ciências e tecnologias. A indústria seria suplantada pelos serviços e os trabalhadores pelas máquinas. Para os ideólogos capitalistas, era a glória. Para os anti-capitalistas, o caos. A realidade está se mostrando mais complexa.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #1 Lucidez e pára-brisasEduardo Martinez 26-02-2008 17:34
Gracias, Wladimir. Lucidez intelectual é como limpador de pára-brisas: a gente só dá valor na hora do temporal. Reproduzi no Carteiro do Poeta. Convido para conhecer o blogue da República (http://radiorepublica.blogspot.com/). Uma homenagem aos plebiscitários republicanos e um resgate de parte da história escamoteada - talvez porque São Borja foi republicana antes de retroceder e se tornar parte do império português. Um mau exemplo do ponto de vista dos colonizadores. Há braços...

PS: Só depois de comentar li a terceira regra. Mesmo assim mantenho como está.
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