Correio da Cidadania

Os remédios do Capital em tempos de crise

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Dois fatos deste mês ajudam a compreender melhor a dimensão da agenda do capital e seus governos, especialmente em tempos de turbulência na economia.

 

O primeiro foi o anúncio feito pelo governo Serra da privatização da Companhia Energética de São Paulo (CESP), programada para o dia 26 de março. O segundo foi o pacote anunciado pela gigante General Motors para atacar direitos, salários e empregos dos trabalhadores das suas unidades no Brasil.

 

O governo Serra já tinha avisado desde o ano passado que ia colocar à venda as 18 estatais que restam do estado de São Paulo e já se sabia que a CESP, terceira maior geradora de energia elétrica do país e, portanto, verdadeira jóia da coroa do atual ciclo de privatizações em São Paulo, provavelmente iria inaugurar o novo momento de dilapidação e entrega.

 

No caso da montadora de automóveis, a proposta para a unidade de São José dos Campos consistia em um pacote onde 600 novas contratações seriam feitas, mas com salários menores dos que os dos atuais trabalhadores da empresa, com contratos temporários de trabalho para estes novos contratados (um ano), além da implantação de banco de horas em toda a empresa e congelamento salarial de uma parte dos trabalhadores da produção. Em resumo: reduzir salários e direitos.

 

E nem se trata exatamente da criação de 600 novos postos de trabalho, pois no ano passado 900 trabalhadores perderam seus postos de trabalho na GM de São José dos Campos.

 

Trabalhadores não estão blindados

 

Embora estes fatos estejam inseridos dentro da política econômica que vigora no país, afinal, só no âmbito estadual, já faz tempo que o tucanato arregaçou as mangas para liquidar com o estado de São Paulo, e nem é a primeira vez que empresas do porte de uma GM partem para cima dos trabalhadores.

 

Mas é importante observar que, nestes tempos de crise e turbulência na economia mundial, esta política geral de ataques contra os trabalhadores, patrimônio público e a própria soberania nacional do país vai ser intensificada, e não amenizada.

 

Por exemplo, a General Motors nos EUA foi o primeiro grande grupo industrial que anunciou neste ano o tamanho dos seus prejuízos: 38,7 bilhões de dólares em 2007; o que lá os capitalistas da GM apresentam como "solução" é a demissão de 74 mil trabalhadores da empresa em solo norte-americano. Parte das considerações da empresa para explicar tal prejuízo foi a inadimplência que se abateu na sociedade, a partir de agosto de 2007, com o estouro da bolha imobiliária.

 

Certamente, ainda deveremos ter alguns meses de debates sobre até onde vai ou se existe blindagem ou "descolamento" do Brasil diante da crise na economia dos EUA.

 

Mas esse exemplo da GM começa a deixar claro que os trabalhadores e os seus direitos, desde já, certamente não estão blindados. Assim como a manutenção de uma política de privatizações é a forma que os governos brasileiros encontram para não mexer na política fiscal e nos cortes de gastos. Em hipótese alguma querem assustar o mercado financeiro em tempos de possíveis surtos de pânico, ao mesmo tempo em que entregam a infra-estrutura do país para continuar atraindo o grande capital internacional.

 

É obrigatório aqui observar que a principal dificuldade para inverter este ciclo está no papel do governo Federal, pois este é o principal avalista desta estratégia do grande capital.

 

O governo tucano de Serra radicaliza no âmbito estadual aquilo que já não está chocando mais ninguém no âmbito federal: privatizações de hidroelétricas e das florestas, conivência federal com os aliados políticos e empresariais responsáveis pelo desmatamento predador da Amazônia, privatização das rodovias federais e agora dos aeroportos, os leilões de bacias petrolíferas são alguns exemplos deste "edificante" segundo mandato de Lula.

 

Nem mesmo a tentativa do Capital de retirar direitos dos trabalhadores encontra nesse governo um obstáculo. Pelo contrário, basta recordar a defesa do governo Lula dos usineiros do etanol como heróis nacionais e o silêncio diante das ultrajantes condições de trabalho dos cortadores de cana no Brasil.

 

Dois exemplos de resistência

 

Mas por fim, e mais importante, diante destes dois fatos, há um início de resistência mais organizada daqueles setores sociais e partidos que buscam criar condições para barrar essa agenda.

 

No caso das privatizações paulistas, o Fórum em Defesa das Estatais e dos Serviços Públicos, com a presença de inúmeros sindicatos e centrais sindicais, começa a se consolidar como uma realidade. Tanto que este fórum agendou um ato de rua em frente ao Palácio dos Bandeirantes para o próximo dia 29 de fevereiro. Vale destacar que coube ao PSOL de São Paulo um importante papel para animar essa campanha contra as privatizações do governo Serra, como na repercussão da ampla e massiva panfletagem de rua contra as privatizações e o aumento da tarifa do metrô paulistano.

 

No caso da GM de São José dos Campos, quatro assembléias dos trabalhadores da empresa rejeitaram em todos os turnos a proposta patronal, em que pese a enorme pressão e chantagens da direção da empresa. No último dia 20, um importante ato foi realizado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, com a coordenação unitária da Conlutas e da Intersindical, além da presença de inúmeros sindicatos de trabalhadores do Estado de São Paulo. O ato foi um pontapé inicial para uma campanha nacional em defesa dos Direitos e da Livre Organização da Classe Trabalhadora.

 

A luta contra as privatizações e a defesa dos direitos sociais e trabalhistas vão estar entre os principais pontos da agenda de reivindicações para 2008 e com possibilidade de se construir uma resistência unitária a partir da própria ação dos trabalhadores.

 

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do conselho editorial da revista Debate Socialista.

 

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