Correio da Cidadania

A crise e o Brasil

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Há expectativas diferenciadas a respeito das conseqüências da crise norte-americana sobre o Brasil. Poucos duvidam que o forte ajustamento dos preços nos Estados Unidos, uma possível queda dos preços das commodities agrícolas, a continuada desvalorização do dólar americano e a contração das importações norte-americanas representem um evidente perigo para o Brasil. A questão reside em saber qual a dimensão desse perigo, e que medidas devem ser adotadas tanto pelos empresários, quanto pelo governo, para minimizá-lo.

 

Há um certo consenso de que o nível de reservas internacionais do Brasil é um dos melhores de sua história, possibilitando-lhe sustentar ataques especulativos relativamente altos. Além disso, com a diversificação do comércio externo brasileiro, a participação do mercado norte-americano nas exportações foi reduzida, diminuindo também, em certa medida, os impactos da contração das importações estadunidenses e um possível aumento de exportações mais baratas daquele país.

 

É evidente que uma contração do comércio global também pode causar impacto sobre a balança comercial e as contas externas brasileiras, mas os superávits obtidos nos últimos anos podem funcionar como amortecedores contra os efeitos da crise. Também parece que o sistema financeiro brasileiro não estava envolvido nas operações imobiliárias do sub-prime dos Estados Unidos, o que, em princípio, o deixaria a salvo das turbulências financeiras que estão sacudindo os bancos e outros organismos financeiros dos países desenvolvidos.

 

Apesar disso tudo, seria ingenuidade supor que as ondas da crise vão passar ao largo da costa brasileira. A financeirização global não é uma figura de retórica. As finanças globalizadas tornaram-se tão intrincadas e interdependentes, e a participação estrangeira nas operações acionárias e especulativas brasileiras se tornou tão elevada, que as ondas de impacto dos prejuízos bancários e financeiros norte-americanos podem chegar até nós, até por via on-line. O que pode causar fortes restrições no crédito, suspensão de investimentos programados, variações bruscas do câmbio e inflexões nos rumos de comércio.

 

Em outras palavras, esses perigos podem levar os inversores estrangeiros e brasileiros a suspenderem os investimentos em projetos de infra-estrutura e de unidades produtivas, e estimular os exportadores a fugirem do turbulento mercado externo e redirecionarem a venda de seus produtos para o mercado interno. E também podem induzir as autoridades brasileiras a manter a taxa interna de juros elevada, utilizar as reservas internacionais do Brasil como ferramenta principal de manutenção do câmbio e paralisar os investimentos públicos. O que, ao invés de nos defender, pode agravar os impactos da crise externa sobre o Brasil.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

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