Correio da Cidadania

Sem trégua

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Diante de uma oposição que não dá trégua, e da necessidade imperiosa de realizar o crescimento com redistribuição de renda, os petistas e o governo confrontam-se com problemas teóricos e práticos de certa extensão. A começar pelo fato de que não governam o Estado, mas apenas uma pequena parcela dele.

 

Depois, eles se batem contra a ausência de grandes mobilizações sociais. Estas é que trazem à tona, em geral, e com vigor, os problemas estruturais mais prementes. E são elas que realmente empurrem as forças políticas para encontrar soluções que correspondam às expectativas e necessidades da maioria do povo brasileiro.

 

Esta maioria, por seu lado, ainda parece crer, firmemente, que basta brandir o instrumento do voto para que as forças políticas se sintam pressionadas a apoiar as medidas de cunho popular pretendidas pelo governo. O que leva o PT e o governo a se confrontarem, ainda, com as dificuldades para entender, realizar e explicar as mediações táticas que a desmobilização social lhes impõe, às vezes resvalando por caminhos que parecem levá-los para o lado oposto de sua meta.

 

A situação é de tal ordem que até algo tão democrático quanto os referendos populares e a eleição de uma Assembléia Constituinte tem sido adjetivado de imprudente, aventureiro e populista. A soberania popular está sendo empurrada para o limbo, colocando setores consideráveis do governo e da esquerda na defensiva.

 

Em outras palavras, a oposição, encastelada nos outros poderes do Estado, e também em parte infiltrada no próprio governo, não aceita qualquer forma democrática de luta transformadora, nem medidas que possam colocar em risco sua secular dominação. Tomemos como exemplo a decisão de acelerar o crescimento econômico. Em teoria, a aceleração do crescimento é possível com qualquer rearranjo que se faça no pacto entre os capitais estatais e os capitais privados. A redistribuição da renda, porém, mesmo de forma administrativa e compensatória, depende, e muito, do tipo de arranjo que for pactuado.

 

Portanto, permitir que o governo Lula realize, ao mesmo tempo, o crescimento e a redistribuição de renda, mesmo que beneficiando-se do crescimento, é impensável para vastos setores das classes dominantes. Não só porque podem perder parte de seus lucros presumidos, mas principalmente porque a redistribuição de renda pode fortalecer a base social e política do PT, abrindo condições para um possível fortalecimento desse partido no governo.

 

Num quadro como esse, a tentativa de paralisar o governo vai ocorrer em todos os campos: CPMF, carga tributária, nomeações para postos governamentais e nas estatais, privilégios na produção do biodiesel, para as grandes unidades agroindustriais, em detrimento da economia familiar, e por aí afora. Por mais que o governo Lula faça concessões, a opositores e aliados de ocasião, quase certamente não terá tréguas até 2010. É ver para crer.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

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Comentários   

0 #3 Qual trégua?Antonio Julio 14-01-2008 06:00
O governo Lula é, na essência, igual aos que o antecederam. Prioriza o grande capital, os banqueiros, o agronegócio, etc. Suas divergências são apenas com oposições políticas (Dem e PSDB) que disputam cargos e poder no governo e com parte da imprensa.
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0 #2 Análise simplista do governo Lulahudson luiz 13-01-2008 13:58
Analisando da forma mais simplista possível encontramos dois grandes enclaves para o governo petista e o Brasil.
1- O governo não tem maioria porque o nosso sistema eleitoral é uma aberração. Além de não termos voto distrital ou lista fechada – reformas paliativas sim, mas que trariam a democracia para algo mais participativo – também votamos, ou a grande maioria vota, de forma independente e sem nenhum compromisso e nexo com os diferentes níveis de decisão pública. Voto em Lula pra presidente e em Elizeu Rezende pra senador, por exemplo. Pra deputado federal voto em algum tucano raivoso. Assim a democracia fica desfigurada e o governo eleito não tem sequer 25% dos parlamentares na base real de apoio. Então começa o fisiologismo e a liberação das podres e contagiosas emendas ao orçamento. O projeto para o país é retalhado e lhe retiram as características que o diferenciava dos outros que nos levaram a sermos um monumento à desigualdade social. Isso tudo para se conseguir uma base maior, porém nunca confiável no congresso.
2- O governo petista cooptou os movimentos sociais. Integrantes da CUT fazem ou fizeram parte do governo, além da própria central estar umbilicalmente ligada à ele. O MST, seja por motivos da razão ou da emoção, também não é hoje metade do que foi no governo FF.HH. Assim a falta de mobilizações leva a sociedade a uma espécie de letargia que só é abalada pelos apelos dos grandes meios de comunicação à serviço do grande capital, mas que têm capacidade de sensibilizar a classe média e essa difunde para as classes mais baixas. Mobilização social durante o governo Lula nesse são ditados pelos extratos de cima da sociedade e não pelos de baixo, fazendo com que o governo se acue mais ainda e se pareça mais como um terceiro e quarto mandatos de FF.HH. do que com o projeto inicial dos movimentos sociais que sempre se simpatizaram com o PT.
Hudson Luiz
Cientista Social - Poços de Caldas
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0 #1 Sem TréguaMárcio N. Rabat 11-01-2008 21:14
Prezado Wladimir Pomar,
costumo concordar com boa parte de suas análises, mas acho que nesta você inverte um ponto muito importante: não creio que a desmobilização popular seja um dado ao qual o governo Lula se veja obrigado a se adaptar; na verdade, quando os ataques ficam muito violentos, o governo até acena (para a direita) com a possibilidade de apelar para "as massas", mas sua política geral é de apostar numa certa desmobilização; ele claramente não quer acirrar confrontos, e manda todos os sinais para a sua base popular: não façam marola, apenas votem em nós que nós faremos as mudanças necessárias.
Um abraço, Márcio
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