Correio da Cidadania

O dia em que o futebol morreu

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You're mine and we belong together
Yes, we belong together, for eternity

You're mine, your lips belong to me
Yes, they belong to only me, for eternity

You're mine, my baby and you'll always be
I swear by everything I own
You'll always, always be mine

You're mine and we belong together
Yes, we belong together, for eternity

 

 

Ritchie Valens

 

 

“Nós vivíamos numa harmonia muito grande. Ontem de manhã, eu me despedindo, eles me diziam que iam em busca para tornar esse sonho uma realidade. Compartilhamos esse sonho, muito emocionados. E esse sonho acabou essa madrugada”. Com essas poucas palavras o presidente do Conselho da Chapecoense, Plinio David, definiu a interrupção dos anos felizes.

 

Tragédias que fogem ao controle humano sempre trazem nossos milenares questionamentos sobre os mistérios da existência, a efemeridade, senão banalidade, da vida.

 

Somos levados a pensar que esse dia de trabalho e estresse não vale nada, que aquelas discussões aparentemente tão profundas e transcendentes não passam do mais imbecil desperdício de tempo, que, no fim das contas, caminhar pelo lado certo ou errado de acordo com nossos princípios não tem tanta diferença.

 

Ao fim e ao cabo, somos mera poeira cósmica e só resta aproveitar a estadia.

 

Não há parábolas da vida e da fé no oculto, essa tremenda invenção nascida justamente do medo de desaparecer para sempre sem a menor apelação, para consolar quem voava para a coroação de todo um auge, o mais clássico conto de fadas.

 

Pois veio o indizível e aquele dia, melhor do que os mais íntimos sonhos do torcedor já tinham projetado, jamais poderá ser vivido.

 

E quanto mais se pensa em tudo que este clube veio construindo fora e realizando dentro de campo, maior a impotência e o desalento.

 

Não era/é apenas um clube que trabalhava direitinho de acordo com os manuais das boas práticas. Era/é o time de seu povo, da sua comunidade, que não se deixara deslumbrar com os belos e recém-frequentados salões das primeiras divisões e passava a adotar novas maneiras.

 

A Chapecoense e sua presença no meio dos grandes fez lembrar que o futebol ainda podia ser movido a sentimento e pertencimento, que para chegar ao mais alto não é obrigatório arrancar-se das próprias raízes – no máximo, quando algum regulamento estúpido ordena.

 

Fez lembrar que os comuns e os modestos podem fazer melhor, subir aos distintos olimpos da vida, dançar com a mais bonita.

 

Vazio impreenchível, não há reparação, material ou imaterial. O ingrato destino colocou a Chape ao lado de outros gigantes e na finita eternidade do futebol pelo mais nefasto dos motivos.

 

Foi o pior dia dos 120 anos de história do futebol brasileiro e nunca mais seremos os mesmos.

 

 

Gabriel Brito é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.

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