Correio da Cidadania

Netanyahu teme última mudança de Obama

0
0
0
s2sdefault

 

 

 

 

Deu no Haaretz: no dia 19 de outubro, duas manifestações sobre o mesmo assunto agitaram a questão palestina.

 

Na ONU, o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, anunciou que pedirá ao Conselho de Segurança uma dura resolução, exigindo o fim da expansão dos assentamentos israelenses na Palestina, com aplicação de sanções caso Telavive não aceite.

 

Os assentamentos já foram condenados pela ONU como ilegais. Pela primeira vez, será solicitado à ONU ir além das palavras: adotar medidas que forcem Israel a respeitar decisões da comunidade internacional.

 

No mesmo 19 de outubro, foi publicado um manifesto do primeiro-ministro Netanyahu em sentido contrário. Pede que os EUA usem seu poder de veto para bloquear uma eventual condenação dos assentamentos ou qualquer outra medida contra os interesses de Israel.

 

Netanyahu ainda lembra que “no passado, os presidentes (dos EUA) no termo de seus mandatos, promoveram medidas que não estavam de acordo com os interesses de Israel”.

 

Não sei a que se refere Netanyahu. Ele demonstra ser insaciável, ao considerar “em desacordo com Israel”, coisas tão insignificantes que ninguém lembra, de autoria de presidentes anteriores, todos fiéis defensores de Telavive (com exceção de Jimmy Carter), em questões de peso.

 

“Espero que os EUA não mudem o que tem sido historicamente sua política por décadas: evitar resoluções anti-Israel no Conselho de Segurança da ONU”, disse o primeiro-ministro.

 

É tão cínico que nem qualifica tais políticas anti-Israel como injustas já que, para Netanyahu, os EUA têm de apoiar os israelenses sempre, não importa se com razão ou sem ela.

 

Esse manifesto reflete a preocupação entre os estadistas israelenses quanto a rumores de que Obama desejaria acabar seu mandato de modo glorioso, vibrando um golpe demolidor nos assentamentos ou até propondo medidas para resolver a crise na região, incluindo prazo para que a ocupação militar israelense terminasse.

 

Especula-se que, no mínimo, o presidente faria um discurso com repercussão mundial, analisando a crise na Palestina e mostrando as culpas e violações das leis internacionais praticadas por Israel.

 

Mohamad Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, normalmente tão otimista, desta vez não acredita em nenhuma dessas hipóteses.

 

Seus assessores informaram que nas recentes discussões com autoridades estrangeiras, incluindo o secretário de Estado John Kerry, Abbas jamais teve a impressão de que o governo norte-americano pretendesse lançar alguma nova ideia ou vetar resoluções que deixassem mal o governo de Israel.

 

É o mais provável, ainda que tanto o Egito (pró-palestinos) quanto os EUA avisaram a liderança palestina de que não deveria apresentar nada sobre Israel perante o Conselho de Segurança da ONU antes das eleições norte-americanas, em 8 de novembro.

 

De acordo com informações de importante dirigente palestino, até tais eleições acabarem Washington vetaria qualquer resolução anti-Israel, mesmo contra os assentamentos, embora os EUA os condenassem há muito tempo.

 

E depois? Eis a questão.

 

Outra dor de cabeça: drones

 

Depois dos drones norte-americanos antiterroristas matarem também milhares de civis indefesos, desde os tempos de Bush, Barack Obama pôs a mão na consciência.

 

Não parou de usar esta arma traiçoeira, mas pelo menos adotou uma série de precauções para reduzir ao máximo os chamados “efeitos colaterais” no Paquistão, Iêmen, Afeganistão e Somália.

 

E, de fato, especialmente em 2016, o número de civis mortos pelos drones norte-americanos diminuiu radicalmente. Por outro lado, sua produção, não só nos EUA, mas também em outros países, aumentou na mesma escala.

 

Do lado do consumo, a ampliação dos usos de drones pinta como um fato, digamos, assustador.

 

Se os governos começarem a espalhar drones liberalmente contra suspeitos de terrorismo, gangues de traficantes, países inimigos e possivelmente até concentrações de opositores, dá para imaginar no que o mundo poderá se tornar.

 

Talvez pensando nisso, Obama resolveu regulamentar a exportação e venda de sistemas de drones.

 

O departamento de Estado dos EUA elaborou um documento, o Joint Declaration for the Export and Subsequent Use of Armed or Straike-Enable Unmanned Aerial Vehicles, uma série de regras, que cobrem a exportação e uso de drones.

 

Entre os seus tópicos, inclui-se a aplicação da lei internacional e dos direitos humanos no uso de drones; controle dos estoques existentes e das suas vendas; histórico dos países compradores em relação à sua adesão às obrigações e compromissos internacionais; garantias de que os sistemas vendidos sejam usados responsavelmente por todos os países compradores.

 

O governo estadunidense pede que todos os aliados se comprometam a respeitar as regras do seu documento. Mais de 40 países o assinaram. De acordo com o Haaretz de 24 de outubro, Israel não assinou.

 

Negou-se a aceitar restrições à venda e uso dos drones. Em outras palavras, o governo de Netanyahu não irá colaborar para que menos civis inocentes percam a vida por uma punição a que não deram causa.

 

Informa o Haaretz que fontes da indústria de defesa israelense temem que o documento possa limitar seus negócios de exportação de drones.

 

Por isso, “vamos tratar de ganhar dinheiro”, deixando pra lá direitos humanos, leis internacionais, controles, transparências, o que for.

 

Não é à toa que o governo atual de Israel é o mais direitista de todos os tempos. Uma das fontes do Haaretz, um oficial da força aérea de alta graduação, salientou que

Israel dispõe de uma importante vantagem competitiva no mercado internacional: oferece aos compradores treinamento do seu pessoal no manejo de drones. Como se sabe, a força aérea israelense é considerada líder mundial nesse campo.

 

Um analista saudita de Defesa, que publica no twitter sob o codinome de Mujtahid, reportou, há poucos dias, uma exportação clandestina de drones de Israel para a Arábia Saudita, via África do Sul, informa o site RT (24-10).

 

Esse negócio não poderia ser feito às claras porque as populações dos dois países o rejeitariam já que são mutuamente hostis. Israel e Arábia Saudita não mantém quaisquer relações, pelo menos oficialmente. Teoricamente, são inimigos entre si.

 

O analista citado pelo RT escreveu: “a Arábia Saudita compra drones de Israel através da África do Sul. Esses drones chegam à África do Sul desmontados, sendo assim exportados para a Arábia Saudita, onde são montados”.

 

Se a regulamentação dos EUA fosse seguida, esse negócio não poderia ser realizado, pois o histórico saudita em direitos humanos não é de deixar ninguém emocionado.

 

Leia também:

 

Iêmen: a posição norte-americana ficou difícil

 

Sauditas mudando lei dos EUA

 

Comissão parlamentar inglesa quer suspender vendas de armas aos sauditas

 

Abbas: independência em 2017

 

Judeus liberais agem contra os assentamentos

 

Netanyahu x BDS: quem está ganhando?

 

Israel cada vez menos democrata

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

0
0
0
s2sdefault