Correio da Cidadania

Trump não disse só bobagens

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É uma missão deste autor revelar fatos e motivos na área internacional que a grande imprensa brasileira ignora.

 

Por isso, não vamos falar sobre a evidente vitória de Hillary Clinton sobre um desnorteado Trump no primeiro debate pré-eleições norte-americanas.

 

TVs, jornais, revistas e rádios já reportaram e analisaram à vontade a argumentação sólida e a firmeza da candidata democrata em contraste com os constantes tropeços do bilionário The Donald.

 

Apesar da maioria das intervenções desastrosas do republicano, houve momentos em que ele defendeu posições sérias, para progressista nenhum botar defeito. Foi quando Hillary, ao contestar ou omitir-se, mostrou-se mais republicana do que seu adversário.

 

Uma guerra nuclear, que Trump, segundo alguns, poderia lançar num repente de indignação, foi por ele repelida assim: “o maior de todos os problemas do mundo é o armamento nuclear, as armas nucleares, não o aquecimento global, como você (Hillary) e seu presidente pensam. Eu gostaria que todos (os países) acabassem com isso. Mas eu certamente não darei o primeiro tiro. Penso que uma vez que a alternativa nuclear aconteça, tudo acaba”.

 

Comentando a promessa de Trump, diz o The Intercept: “pode parecer uma ideia óbvia, mas na verdade o presidente Obama tem sido relutante em expressá-la. O Pentágono argumenta que a menos que os EUA estejam preparados para ameaçar um ataque nuclear, seria pouco provável deter a Rússia e a China”.

 

É o próprio “se queres a paz, prepara a guerra”, dos romanos. E a história nos conta que nenhum outro império manteve tantas guerras no mundo.

 

O “América, primeiro”, conceito da política externa de Trump, foi ridicularizado pela democrata. Ela perguntou se, para o opositor, os EUA não deveriam pagar pela defesa dos aliados Japão, Coreia do Sul e nações da OTAN.

 

Resposta de Donald Trump: “quero ajudar todos os nossos aliados, mas (com isso) estamos perdendo bilhões e bilhões de dólares. Não podemos ser a polícia do mundo. Não podemos proteger nações por todo o mundo”.

 

Prosseguindo nessa argumentação, o republicano disse mais: “nós devemos 20 trilhões e estamos na pior. E nós já gastamos 6 trilhões no Oriente Médio, de acordo com um relatório que acabei de ler... Seis trilhões no Oriente Médio, com os quais poderíamos reconstruir nossa nação duas vezes. E isto é realmente uma vergonha”. Outro ponto a favor do republicano.

 

É difícil aceitar os bilionários gastos norte-americanos no exterior, já que seu objetivo é normalmente garantir os interesses imperiais do país. Não os interesses do seu povo, nem dos povos alvos de intervenções militares ou auxílios financeiros yankees.

 

Em muitos países do mundo, a “polícia” estadunidense tem servido mais para ajudar governos e forças políticas opressoras. Alguns exemplos: ditaduras latino-americanas nos tempos da Guerra Fria, governos africanos despóticos, a oligarquia hondurenha na deposição do presidente Manuel Zelaya, interesses petrolíferos na invasão do Iraque e interesses sauditas no Iêmen.

 

Já Hillary apoiou a invasão do Iraque, foi peça-chave na consolidação do governo golpista de Honduras e defendeu a participação norte-americana na revolução contra Kadafi e o bombardeio de Damasco, devido à acusação não provada de Assad ter usado armas químicas.

 

Quanto ao reino saudita, Trump reservou uma menção especial: “quero dizer, dá para imaginar que nós estamos defendendo a Arábia Saudita? E com todo aquele dinheiro que eles têm, nós o estamos defendendo e eles não pagam por isso”. Vem a propósito num momento em que Obama tenta destruir, com o maior empenho, lei congressual que dá direito às famílias das vítimas do atentado das Torres Gêmeas de processar autoridades sauditas com indícios de colaboração na ação.

 

Hillary usou habilmente a imagem perversa de Putin, construída durante vários anos pelos políticos, militares e imprensa. Os generais do Pentágono não hesitam em colocar a Rússia de Putin como o maior inimigo dos EUA.

 

Em sua campanha, a candidata democrata referiu-se a Trump como um verdadeiro fantoche do presidente russo. Ela apontou como prova dessa ligação a troca de elogios públicos entre os dois personagens. Seria um desastre ter alguém assim como supremo mandatário da terra de Jefferson e Washington.

 

E Hillary apresentou como um exemplo recente da torpeza do amigo de Trump o sucedido na convenção do Partido Democrata, que a fez candidata à Casa Branca.

 

Soube-se que um hacker teria invadido os computadores do Comitê encarregado de dirigir a prévia democrata para escolha do candidato.

 

Hillary apressou-se a proclamar: “Não há dúvida agora de que a Rússia tem promovido cyber-ataques contra todas as organizações do país”. E vem garantindo que fora uma dessas atuações nefastas que atingiu os computadores do Comitê Nacional Democrático.

 

Deixou de lado a revelação de que a presidente do Comitê a favoreceu contra o pré-candidato Bernie Sanders (ela demitiu-se por isso), para lembrar que Trump era aliado de um país que promovia ações tão graves e ofensivas aos EUA.

 

Embora o FBI esteja investigando a hipótese da culpa moscovita, informou que nada tinha sido provado. O próprio Obama, honradamente, fez o mesmo.

 

No debate da questão, Trump teve uma das suas raras intervenções corretas: “eu não acho que alguém saiba se foi a Rússia que entrou no Comitê Nacional Democrata. Ela (Hillary) vem dizendo Rússia, Rússia, Rússia, mas eu digo, talvez seja, quer dizer, poderia ser a Rússia, mas poderia ser também a China. Poderia ser uma porção de outras pessoas”.

 

Por enquanto, não se pode negar que ele estava certo.

 

Enquanto Hillary e o Pentágono veem os russos como inimigos dos EUA, Trump demonstrou boa vontade em relação a eles: “não seria legal se dar bem com a Rússia e a China, para variar?”

 

Não há como discordar.

 

Continuando esta escalada anti-Putin, muito em breve voltaremos à Guerra Fria, tempos em que todos nós estivemos em perigo.

 

Não se sabe se Trump é sincero nas ideias positivas que apresentou no primeiro debate presidencial. Mas, se não mentiu, passou a ideia de que o diabo não é tão feio quanto pensam.

 

Embora não deixe de ser diabo.

 

 

 

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o mundo.

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