Correio da Cidadania

Perigosa encruzilhada: EUA invadem a Síria e ameaçam a Rússia

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Na última segunda-feira, 22 de agosto, o governo dos EUA – que luta para derrubar o governo legal e internacionalmente reconhecido da Síria – anunciou oficialmente que forças militares dos EUA na Síria continuarão a ocupar território sírio, não importa o que diga o governo do país, e derrubarão quaisquer aviões sírios que sobrevoem forças dos EUA ali.

 

Como noticiou o Al-Masdar News:

 

O Pentágono anunciou que os EUA estão prontos para abater aviões sírios e russos que o Pentágono entenda que ameaçam conselheiros militares norte-americanos que, nos termos da lei internacional, operam ilegalmente no norte da Síria.

 

Na sexta-feira, o porta-voz do Pentágono, Capitão Jeff Davis, disse que jatos norte-americanos tentaram interceptar aviões sírios para proteger conselheiros norte-americanos que operam (ilegalmente) com forças curdas na Síria, depois que o governo sírio bombardeou áreas de Hasakah, quando a polícia curda iniciou ataque contra a Força de Defesa Nacional.

 

Na segunda-feira, outro porta-voz do Pentágono, Peter Cook, disse a jornalistas: "continuaremos a avisar o regime sírio para que se mantenha bem longe dessas áreas. Defenderemos nosso pessoal em campo e faremos o que tiver de ser feito para defendê-los".

 

Significa que o governo dos EUA não permitirá que o governo sírio expulse ou elimine por qualquer outro meio as forças dos EUA que operam ilegalmente na Síria. O governo sírio não convidou forças dos EUA para agir em território sírio, mas agora os EUA estão forçando o governo sírio a afirmar a própria soberania sobre as áreas onde estão localizadas tropas dos EUA.

 

O Al-Masdar continuou:

 

Pressionado para oferecer mais informações sobre a Rússia, Cook deixou bem claro que os EUA atacarão também jatos russos que operam legalmente em território sírio, por convite do governo sírio, com sua aprovação e em ação coordenada com os sírios.

 

"Se ameaçarem forças dos EUA sempre temos o direito de nos defender", disse Cook.

 

Significa que os EUA não só estão em guerra contra o legítimo governo da Síria, mas também estarão rapidamente em guerra contra forças russas, se a Rússia (cuja ajuda o governo sírio solicitou) ajudar forças sírias que sejam atacadas na Síria por forças dos EUA – que estão ilegalmente em território sírio.

 

Há ali 300 norte-americanos, dos quais 250 foram mandados para a Síria dia 24 de abril para trabalharem como conselheiros de outras forças militares ilegais que atuavam na Síria.

 

A vasta maioria das forças militares ilegais na Síria é de jihadistas contratados pelos governos saudita e catariano, que receberam armas norte-americanas para derrubar o governo sírio. As demais forças ilegais ativas na Síria são curdas, apoiadas pelo governo dos EUA para fracionar o território sírio e criar ali um Estado curdo, na porção nordeste do território sírio.

 

O principal objetivo dos EUA na Síria sempre foi derrubar o governo do Partido Baath, secular. Muitos árabes insistem na Sharia, ou “Lei Islâmica”, mas os árabes sírios são exceção. O Partido Baath é e sempre foi apoiado pela maioria do povo sírio, inclusive pela maioria dos árabes sírios. Há forte oposição à Sharia na sociedade síria. A Síria sempre foi a nação mais secular no Oriente Médio.

 

Por exemplo, quando das primeiras pesquisas patrocinadas pelo ocidente e realizadas na Síria, depois do início, em 2011, da importação de jihadistas para lutar na Síria, aquelas pesquisas mostraram que 55% dos sírios queriam que Bashar al-Assad (atual líder do Partido Baath) permanecesse como presidente da Síria, e "82% consideram acertada a avaliação de que o 'Estado Islâmico é grupo criado pelos EUA e outros países estrangeiros'.

 

Apenas "22% entendiam que o 'Estado Islâmico é influência positiva'", e esse foi o mais baixo grau de aprovação, pelos sírios, a qualquer das afirmativas que lhes foram apresentadas, com exceção dos "21% que afirmaram que 'preferem a vida hoje do que quando Assad governava em paz'". Implica dizer que a maioria dos sírios entende que a vida era melhor antes de os jihadistas patrocinados pelos EUA chegarem à Síria para derrubar o presidente Assad.

 

Evidentemente, se "82% da população entende que o Estado Islâmico é grupo criado fora da Síria", bem poucos sírios apoiam os 300 militares norte-americanos que lá estão. Não apenas os EUA estão lá como invasores, mas (e especialmente os jihadistas que os EUA apoiam na Síria e que são a maior parte das forças invasoras) tornaram a vida muito pior (e desgraçadamente mais curta) para virtualmente todos os sírios.

 

A mesma pesquisa descobriu que "70% opõem-se à divisão do país". Consequentemente, a maioria ampla dos sírios opõem-se aos separatistas curdos.

 

Doravante, o governo sírio enfrenta a posição pouco confortável de ter invasores no próprio território, e de já ter sido avisado de que um desses grupos invasores – os EUA – fará guerra total até a completa devastação, se a Síria levantar-se para expulsá-los.

 

A Rússia também foi ameaçada pelos EUA de que se, como aliada da Síria, tomar qualquer medida para expulsar ou imobilizar os invasores norte-americanos, os EUA também entrarão em guerra contra a Rússia.

 

O governo dos EUA desafiou o governo russo. Talvez a estratégia seja forçar o presidente Putin ou a recuar, e abandonar o aliado sírio, ou a lançar ataque contra os EUA. Se Putin recuar perderá pelo menos parte significativa do apoio que tem da população russa (hoje superior a 80% nas mais recentes pesquisas, inclusive nas pesquisas pagas pelo ocidente). Talvez seja essa a estratégia de Obama: tirar Vladimir Putin do poder – o que talvez aconteça, se os EUA conseguirem derrubar Bashar al-Assad.

 

Como Seymour Hersh noticiou dia 7 de janeiro de 2016, "a Agência de Inteligência de Defesa (AID) e o Comando do Estado Maior das Forças Conjuntas dos EUA, então (no verão de 2013) lideradas pelo general Martin Dempsey, avaliavam que a queda do regime de Assad não era desejável, porque levaria ao caos e, potencialmente, à tomada da Síria por extremistas jihadistas, praticamente o mesmo que então estava acontecendo na Líbia".

 

Por isso Dempsey saiu e o tenente-general Michael Flynn, diretor da AID entre 2012 e 2014, foi demitido. "Os relatórios da AID”, disse Flynn, “sofreram terrível rejeição do governo Obama. 'Senti como se não quisessem ouvir a verdade".

 

Hoje, Flynn é conselheiro para política exterior do candidato dos Republicanos à presidência, Donald Trump, que está sendo criticado pela candidata Clinton dos Democratas, considerado 'muito mole' contra a Rússia e insuficientemente empenhado na meta dos EUA de derrubar Assad.

 

Nota dos tradutores:

 

É possível que o chilique belicista do 'democrata' Obama, que se põe a provocar os russos, tenha a ver, agora, com o temor de que Trump ('mole com os russos') chegue à Casa Branca. Nesse caso, a provocação contra a Rússia pode ser uma nova variante, recém-inventada, de "guerra preventiva": EUA inventam nova guerra já, para impedir que, adiante, a nova guerra seja evitada.

 

 

Eric Zuesse é historiador e jornalista investigativo.

O texto foi publicado em inglês no Global Research, Canadá

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu.

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