Correio da Cidadania

28 páginas mostram conexão saudita no atentado às Torres Gêmeas

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Em 2001, a comissão de 10 congressistas que investigou o atentado de 11 de setembro concluiu que unicamente a Al-Qaeda fora responsável pelo crime; 28 páginas do relatório da comissão foram declaradas secretas, alimentando dúvidas no público.

 

Familiares dos 3 mil mortos no atentado, jornalistas e políticos acreditavam que as 28 páginas tinham sido ocultas por conterem evidências contra a Arábia Saudita.

 

E exigiram sua publicação. Só depois de15 anos, em julho último, isso finalmente aconteceu.

 

Os governos norte-americano e saudita, apoiados pela grande mídia, apressaram-se em dizer que nada havia nas 28 páginas que incriminasse autoridades sauditas.

 

Diversos analistas discordaram. Surgiram suspeitas de que havia “algo de podre no reino da Dinamarca” por ter o chefe da inteligência norte-americana, James Clapper, sob ordens de Obama, censurado o texto para eliminar tudo que ameaçasse a segurança nacional. Ele o fez borrando grande número de nomes e linhas, bloqueando assim o que muitos acreditavam serem possíveis indícios de cumplicidade saudita.

 

Ao analisar o conteúdo das 28 fatídicas páginas, notamos ainda assim uma série de fatos bastante reveladores.

 

Os representantes oficiais da Arábia Saudita recusaram-se a cooperar com a investigação, conforme diversos agentes do FBI e oficiais da CIA informaram à comissão congressual.

 

Quatro dos cinco operadores sauditas investigados mantiveram relações com os terroristas do 11 de setembro. Dois os ajudaram comprovadamente.

 

Quatro deles seriam oficiais da inteligência saudita, ocupando cargos no governo ou em empresas afiliadas como cobertura.

 

Dois foram financiados diretamente pelo embaixador saudita, príncipe Bandar, e sua esposa.

 

A conexão com Bandar aparece também nos phonebooks de diversos suspeitos de terrorismo.

 

Alguns dos investigados, oficiais sauditas nível sênior, eram ligados à embaixada. Dois dos suspeitos, Omar al-Bayoumi e Osama Bassman, tiveram sério envolvimento na conspiração do 11 de setembro.

 

Diz o relatório da comissão investigativa que Bayoumi “forneceu assistência substancial (aos sequestradores dos aviões) Khalid al-Midhar e Nawaf al-Hazmi, desde a chegada dos mesmos em San Diego”.

 

E mais adiante: “eles ficaram no apartamento de Bayoumi diversos dias até que (Bayoumi) descobriu um apartamento para eles”.

 

Bayoumi, então, co-assinou o contrato de aluguel e pode ter pagado o primeiro mês e o depósito de segurança

 

Relatórios do FBI, de 1999, sustentam que Bayoumi era um oficial da inteligência saudita.

Em 2000 (um ano antes do atentado), Bayoumi fez 100 chamadas telefônicas a diversas entidades sauditas e manteve vários contatos com sua embaixada e com o consulado em Los Angeles.

 

Ele recebeu 20 mil dólares do ministério de Finanças da Arábia Saudita. Possivelmente, usou-os para ajudar os terroristas a conseguirem licença de motorista e se matricularem numa escola de pilotagem de aviões.

 

Depois dos ataques, Bayoumi mudou-se para o Reino Unido, onde foi preso e posteriormente solto a pedido do FBI. Mas as investigações dessa agência foram interrompidas.

 

No ano de 2000, ele trabalhou em uma companhia afiliada ao ministério da Defesa saudita, com ligações a Osama bin Laden.

 

Diz o relatório: “de acordo com arquivos do FBI (palavra borrada), a companhia informou que Bayoumi compareceu ao trabalho apenas uma vez, embora tenha recebido seus salários mensalmente, os quais aumentaram substancialmente em abril de 2000, dois meses depois dos terroristas do 11 de setembro chegarem a San Diego.

 

Bayoumi continuou recebendo salários sem trabalhar na empresa até agosto de 2001 (um mês antes do atentado)

 

O FBI descreve Omar Bassnan como um apoiador de bin Laden e do planejador do terror em Nova Iorque, Osama Abdel-Rahman.

 

Era um parceiro próximo de Bayoumi e um operador da inteligência saudita, conforme informantes do FBI na comunidade islâmica.

 

“De acordo com memorando da CIA”, diz o relatório das 28 páginas, “Bassnan recebeu fundos e possivelmente um passaporte falso de autoridades do governo saudita”.

 

Ele morou em frente ao apartamento dos sequestradores dos aviões e disse a um informante que auxiliara os dois mais do que Bayoumi.

 

Informações do FBI mostram que Bassnan, em 1998, descontou um cheque do príncipe

Bandar no valor de 515 mil dólares e sua esposa recebeu um cheque da princesa, esposa de Bandar, no valor de 510 mil dólares.

 

Vale ainda citar um fato interessante que aparece na página 433 do relatório. Em 1999, dois estudantes sauditas, Mohamed al-Qudhaeein e Handam al-Shalawi, ao embarcarem num avião que fazia a rota Phoenix-Washington, puseram-se a inquirir os comissários de voo com uma série de perguntas técnicas, extremamente suspeitas. Um deles chegou a tentar entrar duas vezes na cabina do piloto.

 

Preocupado, o piloto fez um pouso de emergência. Em terra, o FBI inquiriu os estudantes, mas, depois, não aprofundou as investigações.

 

Considera-se que essa ação poderia se tratar de um exercício de simulação para o atentado.

Importante: as passagens dos estudantes foram pagas pela embaixada saudita.

 

Todos estes fatos representam evidências de participação de autoridades sauditas no atentado de 11 de setembro.

 

Recapitulando: ficou estabelecido que Bayoumi e Bassnan eram oficiais da inteligência saudita, financiados pelo príncipe Bandar, o embaixador do Reino em Washington.

 

A ajuda prestada por Bayoumi aos terroristas do 11 de setembro está demonstrada nas 28 páginas, bem como a participação de Bassnan.

 

Os vultosos cheques que Bandar assinou para Bayoumi e Bassnan, o emprego de Bayuoumi ganhando salários sem trabalhar em empresa controlada pelo Ministério da Defesa da Arábia Saudita e o passaporte falso que autoridades sauditas deram a Bassnan são outras evidências que pesam.

 

O envolvimento do príncipe Bandar no complô parece claro pelo apoio financeiro aos agentes encarregados de auxiliarem os terroristas do 11 de setembro.

 

Nomeado posteriormente para chefiar a inteligência saudita, ele a liderou no combate ao Irã, ao governo xiita do Iraque e ao governo de Assad na Síria.

 

Na Síria, por exemplo, foi o mentor do envio de armamentos às forças rebeldes, beneficiando as milícias jihadistas, entre as quais a Frente Al-Nusra, filial da Al-Qaeda.

 

Zacarias Moussaoui, que servia como correio entre bin Laden e um príncipe saudita, declarou sob juramento ao juiz George B. Daniels que membros da família real, inclusive o príncipe Bandar, doaram recursos à Al-Qaeda, até para o atentado de 11 de setembro.

 

Embora contestada pelos advogados da família, a denúncia de Moussaoui parece reforçada por revelação de Hillary Clinton (publicada pelo wikileaks), quando secretária de Estado de Obama: “doadores na Arábia Saudita constituem a mais significativa fonte de recursos dos grupos terroristas sunitas em todo o mundo”.

 

Portanto, a prestimosa ajuda saudita aos autores do atentado pode ser qualificada como bem possível.

 

Parece que, de maneira alguma, se pode descartar o príncipe Bandar e pelo menos os agentes Bayoumi e Bassnan de responsabilidade no apoio logístico ao atentado às Torres Gêmeas.

 

Resta saber por que o presidente Bush ordenou que as 28 páginas fossem guardadas sob sigilo total. Há um motivo pontual.

 

Em fins de 2001, ano do atentado, estava em pleno desenvolvimento uma campanha de demonização de Saddam Hussein, ditador do Iraque.

 

Planejada pelos neoconservadores, grupo de assessores próximos a Bush, visava criar um clima nos EUA favorável à invasão do Iraque.

 

Processar autoridades da Arábia Saudita moveria contra ela a raiva do povo, que queriam centrada contra o governo de Bagdá.

 

Não convinha a Bush e seu círculo próximo. Pois problemas sérios seriam criados com a Arábia Saudita, grande aliada dos EUA no Oriente Médio e fiel provedora do petróleo necessário aos estadunidenses.

 

E também parceira da Casa Branca em ações contra os insubmissos Irã e Síria. Assim, mais uma vez as razões de Estado prevaleceram sobre a justiça e as posições dos fundadores da República, só invocadas quando conveniente aos governos dos EUA.

 

A história parecia poder ser alterada quando Obama, em campanha presidencial, prometeu publicar as 28 páginas.

 

Só cumpriu sua promessa no último dos seus 8 anos de governo, de modo a evitar problemas com os bons amigos sauditas.

 

Ordenou que seu chefe da inteligência eliminasse tudo que ameaçasse a segurança nacional. Com a censura de uma série de partes inconvenientes, o impacto das 28 páginas foi reduzido. Mesmo assim mostrou-se capaz de causar muito estrago.

 

Com apoio dos grandes jornais e do establishments dos partidos políticos, Obama assegurou que nada de novo tinha surgido, a Arábia Saudita continuava inocente como um carneirinho.

 

Chato que as 3 mil famílias das vítimas do atentado continuaram botando a boca no trombone.

 

Denunciaram a falácia dos argumentos de depreciação das 28 páginas em artigo na imprensa.

 

E agora esperam pela decodificação de 80 mil documentos potencialmente explosivos, a ser realizada por um juiz da Flórida.

 

Comentando as posições dos governos Bush e Obama, disse Al Ahmed do Institute for Gulf Affairs (de Washington), que tem conhecimento direto do envolvimento da embaixada: “nós fizemos um aliado de um regime que ajudou a patrocinar os ataques (no New York Post de 17 de abril)”.

 

E agora Obama, em fins de mandato, “que a festa acabou e o povo sumiu? Vai sair com uma mentira?

 

 

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Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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