Correio da Cidadania

Estados Unidos: em busca de um candidato republicano viável

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Embora falte um bom tempo para a eleição presidencial norte-americana, apresentam-se a toda hora candidaturas, como é o caso dos divididos republicanos, em um número jamais visto na história recente: são quinze postulantes no momento.

 

Até agora, os dois mais populares provêm de colégios eleitorais bastante importantes: de Nova York, há o milionário empresário Donald Trump, que com declarações extremadas, logo atrapalhadas, inabilita de maneira progressiva suas chances de obter a indicação do partido, uma vez que a exposição nos meios de comunicação de suas falas lhe tem sido negativas para parte significativa da população.

 

Há semanas, ele criticou de modo descabido, em vista do sarcasmo, em um evento de milhares de pessoas o senador John McCain, ele mesmo o representante da agremiação na disputa da Casa Branca de 2008, por ter sido capturado em ação durante a Guerra do Vietnã, quando era tenente-aviador da Marinha.

 

Seu cativeiro durou mais de meia década – não obstante seu pai ser naquela época prestigiado almirante de quatro estrelas com o comando da esquadra do Pacífico – e trouxe a ele limitações físicas insuperáveis, em face do tratamento inospitaleiro.

 

Note-se que a experiência pessoal de Donald Trump em assuntos castrenses resumiu-se ao colégio militar frequentado por ele durante a adolescência. Durante o conflito vietnamita, eximiu-se de apresentar-se à tropa por problemas de saúde, ainda que ele mesmo não consiga pormenorizá-los a repórteres.

 

Sua declaração sobre McCain seria repudiada pela maioria de seus competidores, sendo uma das exceções o senador Ted Cruz. Sem retratar-se da fala, avançou mais, ao afirmar que McCain não trabalhava o suficiente pelos veteranos de guerra no Congresso.

 

Anteriormente, ele havia lançado invectivas contra imigrantes ilegais do México, desgastando-se de forma despropositada perante eleitorados importantes como os do Texas, Arizona, Nevada e Califórnia.

 

Da Flórida, advém John Ellis Bush, ex-governador do estado por dois mandatos (1999-2007), a despeito de deparar-se com a administração desastrosa do irmão, George Jr, pela mesma agremiação na Casa Branca (2001-2008).

 

Na retórica, suas manifestações são desairosas. Em um período de extensa crise econômica, iniciada no encerramento da gestão presidencial familiar, ele pontificou que a população deveria trabalhar mais, apesar de os norte-americanos superarem a carga horária dos alemães, britânicos e franceses na média, ao atingir na semana jornadas de 45 a 50 horas, graças à necessidade, em muitos casos, de possuir mais de um emprego.

 

Não serviria de alento saber que os trabalhadores da faixa norte-atlântica encontram-se abaixo dos asiáticos no tocante à jornada, uma vez que concernente a direitos, como duração das férias, idade de aposentadoria ou licenças de saúde, também os estadunidenses desfrutam menos que seus correspondentes europeus.

 

De maneira geral, os sindicatos jamais usufruíram de poderio de negociação ou de prestígio político no mesmo patamar que os europeus, malgrado o país ter mais riqueza ou desenvolvimento em padrões tecnológicos.

 

Com condições nos dias atuais bem desfavoráveis, torna-se muito difícil esperar que a produtividade amplie-se a contento a partir de seus próprios trabalhadores, desvalorizados no cotidiano.

 

Por fim, Bush e Trump convergem na temática ambiental quanto ao ceticismo, ao não valorizar os efeitos deletérios imediatos do aquecimento global, em especial para o primeiro por ter governado a Flórida que, em decorrência da geografia, poderá ser uma das mais abaladas com a questão, ou ao vislumbrar a possibilidade de que o avanço tecnológico contenha de algum modo o problema – deus ex-machina.

 

Nas próximas semanas, em função dos altos custos de participação nas atividades eleitorais de um país continental ou da perspectiva de índices pouco atrativos de popularidade no curto prazo, boa parte dos aspirantes republicanos deve desistir da postulação principal, ainda que visualize a possibilidade de compor a futura chapa como vice-presidente ou mesmo como ministro em um eventual gabinete a datar de janeiro de 2017.

 

No momento, a diferença entre os quinze concorrentes do Grand Old Party não desanima muito o eleitorado mais afinado com ele, haja vista metade dos pré-candidatos situar-se acima de 5% nas pesquisas de opinião.

 

Seus simpatizantes não se abalam nas suas convicções nem sequer com a recente condenação à prisão por oito meses de um ex-parlamentar da agremiação, situação incomum perante as sociedades sul-americanas.

 

Ex-deputado federal por duas legislaturas de Nova York, um dos quatro maiores estados em número de delegados (58 de 538), Michael Grimm, agente do FBI e fuzileiro naval condecorado na I Guerra do Golfo, foi sentenciado há poucos tempo por crime de sonegação federal, em virtude de atividade empresarial anterior ao seu ingresso na política.

 

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

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