Correio da Cidadania

Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos

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Democraticamente, há três opções para o trabalhador brasileiro, e o eleitor de forma geral, no segundo turno da eleição presidencial. Uma delas é votar em Dilma Rousseff e no governo social liberal de petistas chapa branca, comunistas de logotipo e os seus aliados de direita e centro-direita. A outra opção é votar no neoliberal e tucano Aécio Neves, com ligações fortes no mercado financeiro, aliado da antiga e nova direita, que promete trazer de volta Armínio Fraga e os tempos de FHC.

Ou simplesmente não votar em nenhum dos dois: se abster ou votar nulo ou em branco.

 

Antigos e novos estalinistas, mas também aqueles que se intitulavam de trotskistas, antes radicais, mas agora cordatos e com bons empregos no Banco Central, chamam de esquerdistas os que se recusam a apoiar Dilma.

 

Esquecem, deliberadamente, que o então presidente Lula ficou oito anos dos seus dois governos atacando e ridicularizando a esquerda. Não lembram também que, no primeiro turno da eleição presidencial, 30% do eleitorado ou se absteve ou votou nulo ou em branco. De forma atrasada ou não, toda essa gente protestou contra o modelo político do toma lá dá cá, contra a farsa eleitoral, na qual banqueiros, empresários e empreiteiras financiam candidaturas, controlam a eleição e mandam nos governos, antes mesmo do resultado do pleito.

 

Essa gente não quer admitir que o modelo social liberal de Dilma/Lula está fazendo água. E por isso também o fortalecimento da direita.

 

Uns dizem que a economista Maria da Conceição Tavares tem razão e que chegamos ao  “fim do desenvolvimentismo e início da democracia social”. E como se tudo estivesse igual dão saudações petistas. De boca cheia.

 

A crise capitalista internacional está chegando para ficar, a situação econômica se agrava e vai se acentuar a pré-barbárie, com continuidade da matança de pobres e negros nas periferias das cidades.

 

Ainda não há desemprego no Brasil, mas a taxa de crescimento de novos postos de trabalho é baixa e não dá conta de incorporar milhões de pessoas que chegam ao mercado anualmente.

 

Sabemos que a política do atual governo federal petista fortalece o capitalismo, o imperialismo, é nociva aos interesses nacionais, à luta pelo socialismo e à conquista do poder operário e popular.

 

Vença Dilma ou Aécio, virão tempos duros, com medidas ortodoxas, ajuste fiscal e radicalização das políticas de direita, a exemplo da homofobia, manutenção da atual lei do aborto, preconceito, negação das bandeiras feministas, nada de reforma agrária e a não descriminalização da maconha.

 

Para recompor taxas de lucro, o capitalismo continuará vindo para cima dos trabalhadores, com arrocho salarial e desemprego, acompanhado do aumento da exploração no trabalho. O sonho da casa própria quase inexiste, tornando mais presente o pesadelo dos despejos e reintegrações de posse.

 

Do total do orçamento previsto para 2015, de R$ 2,86 trilhões, 47,55%, ou R$ 1,36 trilhões, serão para pagamento de juros, amortizações da dívida pública, e vão para os bolsos dos banqueiros.

 

Enquanto isso, o previsto para o bolsa família é de R$ 27,7 bilhões em 2015, equivalente a 2% do que será gasto com a farra dos financistas nacionais e internacionais.

 

Das suas três refeições fartas, os capitalistas deixam aos trabalhadores a casca de pão, no chão.

 

Como disse Millor, a credibilidade do país é inversamente proporcional aos juros que os banqueiros internacionais lhe cobram.

 

Há muita gente séria entre os que apoiam Dilma (e mesmo entre os que preferem Aécio Neves).

 

Mas uns fazem negócio da China, outros fraudam a história, se lambuzam com indenizações do “bolsa ditadura”, dão tombo na praça, usam métodos policiais  e  gostam mesmo é de grana.

 

Partidários de Dilma usam o argumento rebaixado de que voto nulo é defender o quanto pior melhor, e querem apoio na menos pior. Ou seja, na candidata Dilma.

 

Destacam a adesão de Roberto Amaral ao governo petista e que ele passou a falar que Marina Silva traiu o PSB. Mas quem traiu o partido foi a direção oportunista do partido, ao oferecer a sua barriga de aluguel para gerar a candidatura de Marina. Desde o início estava muito claro, para quem nunca se enganou, que ela continua em busca de um projeto pessoal de poder. Não por acaso está apoiando Aécio Neves.

 

A menos de uma semana da eleição, a disputa é apenas baixaria burguesa, elogios do passado tornam-se críticas, uma e outro se apresentam como mais capacitados para gerenciar o sistema e a exploração de mulheres e homens. O Superior Tribunal Eleitoral (TSE) tenta coibir os excessos, mas para legitimar a farsa das eleições.

 

De qualquer forma, o resultado do pleito parece incerto. Com Dilma ou Aécio vem pau. A esquerda revolucionária está enfraquecida, precisa deixar de falar para si mesmo, ampliar sua base social e repetir à exaustão que o socialismo de Karl Marx e Frederick Engels - além de um mundo novo, muito mais humano e sem roubalheira - é superior ao capitalismo, necessitando demonstrar ser mais eficiente econômica e tecnologicamente. E rever criticamente o período de autoritarismo e burocratismo, mas também o doutrinarismo e esquerdismo.

 

Só assim será possível conquistar milhões de mulheres e homens trabalhadores para a empreita contra o capitalismo. Precisamos nos preparar para lutar peleja dura, prolongada e gestar a alternativa proletária ao sistema capitalista, com o Partido da Classe Operária também liderando o embate.

 

E como dizia o brilhante Millor: Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos.

 

 

Otto Filgueiras é jornalista e está lançando o livro Revolucionários sem rosto, uma história da Ação Popular.


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