Correio da Cidadania

Adeus Didi

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Aprendi a admirar Dirceu Travesso nas trincheiras da luta social e política. Lúcido, determinado e ousado, seu discurso tonitruante era claro e pedagógico, radical sem ser sectário, incisivo e contundente, sem abandonar o bom humor. No embate político foi sempre leal, buscava soluções construtivas para os impasses e desencontros. Discrepava sem transformar o adversário em inimigo.

 

Encontrá-lo era um prazer. Mesmo em circunstâncias adversas, Didi não perdia a alegria e a cordialidade. Quando, acompanhado de meu pai, o visitei no hospital, na ocasião de sua primeira operação, o convalescente Didi era a imagem do otimismo. Enfrentou com disposição e coragem um longo calvário. Nunca deixou a militância e nunca se deixou abater. Lutou com serenidade até o último momento.

 

Recentemente, nos últimos dias do velho Plínio, encontrei-o várias vezes no hospital. Obrigado a fazer penosas sessões de quimioterapia, Didi aproveitava sua ida ao hospital para passar em nossa ala e visitar meu pai quando este já não podia receber ninguém, pura e simplesmente para me consolar. Fazia-o por amizade e delicadeza. Para mim, as longas conversas no cafezinho eram momentos especiais na penosa vigília que se arrastava.

 

Às vésperas da morte de meu pai, lá estava ele novamente, como um anjo vermelho para me alentar. Falava com a sabedoria de quem prevê e não teme a morte, na exata medida de quem sabe que a vida é breve e é importante desfrutá-la até o último momento de lucidez. Didi tinha plena consciência de que seu próprio tempo se esgotava e determinou como desejava que fosse seu fim. Apesar de sua situação precária, Didi nos acompanhou até o fim. Comoveu-me vê-lo no meio da multidão que tomou a Igreja dos Dominicanos, pois, apesar do cansaço e do desconforto de sua própria doença implacável, rendia sua última homenagem ao amigo.

 

Sua vida é um exemplo de compromisso e abnegação na luta pelo socialismo; e de generosidade e humanidade na relação camarada com os próximos. Sua existência está gravada em nossas memórias. Como as estrelas candentes, a lembrança de Didi será sempre um brilho de luz que revela a riqueza e a grandeza de uma vida breve, mas muito bem vivida, integralmente dedicada à libertação do ser humano.

 

Dirceu Travesso, presente! “Con nosotros nuestros muertos para que nadie quede atrás”.

 

Pínio Arruda Sampaio Junior é economista e professor da Unicamp.

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