Correio da Cidadania

Eleições na Guatemala são marco histórico para povo Maia

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Pesquisas de opinião já indicavam que Rigoberta Menchú, fundadora do movimento indígena Winaq e concorrente pela coalizão Encontro por Guatemala (EG), teria um número de votos pouco expressivos na eleição ocorrida no dia 09 de setembro na Guatemala. Seu desempenho modesto nas urnas, com um total de 3,03% dos votos, pouco exprime a importância real de sua participação no processo eleitoral como um marco no avanço da democracia no país centro-americano.

Premiada com o Nobel da Paz em 1992 devido a sua luta pelos direitos humanos e indígenas durante a guerra civil que durou 35 anos, sendo findada apenas em 1996 e deixando um saldo de mortos de mais de 200 mil, Menchú representou nas urnas a faceta esquecida da sociedade guatemalteca: a população maia, que totaliza 40% dos habitantes do país.

Historicamente, a política da Guatemala sempre foi controlada por grupos criollos (euro-descendentes), os mesmos responsáveis pela marginalização dos maias desde os tempos da conquista da América Central pelos espanhóis.

Após a guerra civil, a aparente calmaria pouco agregou a uma efetivação da democracia no país; segundo Menchú, a Guatemala de hoje ainda é "machista, racista e excludente".

Prova disto é a violência registrada no período pré-eleitoral na Guatemala, quando 50 pessoas - entre candidatos e militantes - foram assassinados devido a desavenças políticas. Trata-se de um saldo elevado, mas típico do engatinhamento da democracia na América Latina, onde a força bruta ainda tenta se sobrepor às liberdades políticas.

Não seria exagero classificar a candidatura de Rigoberta Menchú, simbólica tanto por sua ligação com o povo indígena como pelo fato de ser a única mulher entre os concorrentes ao posto presidencial, de heróica. Além de sofrer com a truculência de seus concorrentes - em especial nas regiões interioranas da Guatemala -, seus recursos foram escassos, sendo praticamente auto-financiada. No entanto, transformou-se em um divisor de águas na história política do país, e Menchú deve ganhar força nos próximos anos e se apresentar como uma das principais concorrentes no pleito de 2012.

Com propostas, mas sem projetos

A ida às urnas na Guatemala, cuja população ainda tentava normalizar suas vidas após a recente passagem do furacão Félix, teve como principal debate a violência e a pobreza no país. O escrutínio acabou por determinar a realização de um segundo turno de votações, a ser realizado no dia 04 de novembro e que será disputado pelos candidatos Otto Pérez Molina, do Partido Patriota (PP), e Alvaro Colom, da Unidade Nacional da Esperança (UNE).

Molina, ex-militar, representará a direita guatemalteca no segundo turno. Os 28,37% dos votos válidos que obteve nas urnas através de promessas de controlar a violência no país centro-americano por meio do fortalecimento das forças de segurança do país e pela promessa de trazer de volta o debate sobre a pena de morte foram, principalmente, oriundos da população urbana do país, tradicionalmente mais conservadora.

Já Alvaro Colom, que obteve 23,97% do total dos votos, promete uma reforma nas forças de seguranças e no Judiciário guatemalteco, considerado por ele ineficiente. Seu partido, a UNE, tem como característica a implementação de políticas e ideais de centro-esquerda e a busca do estabelecimento de um Estado de bem-estar social, seguindo a lógica de partidos filiados à Internacional Socialista.

Os eleitores de Colom, principalmente aqueles de classe baixa, são os que mais se preocupam com a miséria na Guatemala, país onde 51% da população vive abaixo da linha pobreza  - dados extra-oficiais, inclusive, elevam esses números a 80%.

Apesar de promessas que tocam os problemas fundamentais da Guatemala, os cidadãos do país percebem nos candidatos que chegaram ao segundo turno uma certa falta de projetos adequados para conseguir erradicar a pobreza e a violência.

Segundo Gustavo Estrada, artista plástico e morador da Cidade da Guatemala, "os candidatos parecem viver em um conto de fadas". Para ele, ninguém tem idéia de como combater os problemas sociais do país e suas propostas servem apenas como maneira de angariar mais votos entre a população.

As campanhas de ambos os candidatos que estão no segundo turno excederam o teto de US$ 6 milhões de gastos impostos pelo Tribunal Supremo Eleitoral da Guatemala e foram alvos de denúncias de corrupção e desvio de verbas. Colom, de centro-esquerda, já esteve envolvido em polêmicas desde as eleições anteriores, quando foi acusado de receber dinheiro de campanha ilegalmente.

Para o futuro

Embora ambos os candidatos não correspondam plenamente aos anseios da população pobre e indígena da Guatemala, o resultado das eleições traz um novo ânimo para as classes historicamente exploradas e esquecidas.

A derrota de Menchú é pouco relevante frente ao fato histórico de esta estar concorrendo ao posto maior da nação centro-americana, provando que indígenas não apenas estão lutando por seus direitos de eleger como também o direito de liderar.

Buscando dar continuidade à busca pela democracia no país, o Winaq, movimento criado por Rigoberta Menchú, já anuncia a intenção de se transformar em um partido político e disputar as eleições de 2012 com força ampliada.

"Queremos que a população indígena aumente sua participação na vida política guatemalteca", disse à imprensa Otilia Lux, candidata a um posto legislativo nas eleições e membro do Winaq. Será um novo avanço histórico para o país, que lentamente busca se recuperar das turbulências pós-guerra civil que ainda se mostram presentes no cotidiano de sua sociedade.

Com agências internacionais

 

 

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