Correio da Cidadania

Políticos tradicionais perdem espaço na América Latina

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A esperança venceu o medo. Assim comemoraram os companheiros da nova prefeita de Lima, capital do Peru, empossada dia 3 de janeiro. Suzana Villaran foi eleita pela coligação de centro-esquerda Fuerza Social, com uma vantagem de apenas 38 mil votos (ou 0,6%) sobre sua adversária principal. O pleito é significativo, porque é um termômetro para as eleições presidenciais de abril. A eleição marca, após 25 anos, a volta da esquerda à frente de uma das capitais mais populosas da América Latina (tem mais de oito milhões de habitantes).

 

A nova prefeita de Lima, conhecida ativista dos direitos humanos e militante de esquerda, é uma católica da teologia da libertação e de ilustre família de classe alta; valores como a inclusão, a solidariedade, o respeito à diversidade e aos direitos humanos foram reivindicados com ênfase durante sua campanha eleitoral e constituem um dos ativos mais importantes de seu capital político, como diz o antropólogo peruano Carlos Iván Degregori em artigo veiculado no informativo NoticiasSER, da Asociación Servicios Educativos Rurales, do Peru. Ele diz que Fuerza Social inicia uma substituição de geração impactante: apresentou uma equipe técnica e política jovem, renovada, decidida, zelosa e que merece crédito.

 

A declaração oficial do resultado da eleição demorou mais de cinco semanas para ser feita porque mais de um milhão de votos (um quarto do total) tiveram que ser reexaminados por terem sido contestados. O mapa eleitoral, cruzado com o mapa da Desnutrição Crônica Infantil - feito sob condução de técnicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), utilizando a base de dados distrital do Ministério da Saúde e publicado em dezembro de 2009 - mostra que Suzana venceu entre os mais pobres, menos instruídos, enquanto que os não pobres, os ricos e mais instruídos votaram em sua adversária principal, como considera Alfredo Quintanilla em artigo também veiculado em NoticiasSER. Ele diz, ainda, que o fato de muitos votos terem opções ideologicamente contrárias para os níveis provincial e distrital mostra pragmatismo, e não adesão ideológica ou doutrinária na votação

 

A campanha teve cenas de filmes já vistos na América Latina. Com o crescimento da candidata de esquerda nas pesquisas teve início uma campanha para prejudicar sua imagem e a da coligação que a sustentava, com uma investida da mídia neste sentido. Tendo feito propostas relacionadas aos hospitales de la solidaridad (um sistema alternativo de saúde criado em 2003 que vem suprindo necessidades de atendimento em saúde da população), surgiram boatos de que seriam fechados. Surgiram boatos também de que queriam cobrar impostos dos motoristas, de que haveria mudanças nefastas na educação, de que os mercados financeiros estavam nervosos. Segundo conta Eduardo Zegarra, membro da Direção Nacional da Força Social, em artigo veiculado no site do partido, nunca tantos poderes juntos se combinaram para evitar que ganhassem.

 

O Peru sofre as seqüelas da violência política dos anos 1980/2000, que deixou o tecido social desestruturado. Segundo a Comissão da Verdade e Reconciliação, permanecem as causas desta violência: a discriminação e a pobreza. Suzana vem trabalhando de baixo, com seu movimento político, há algum tempo, e vence apoiada em seu grande compromisso social e em seu carisma, apesar de ter feito uma campanha com poucos recursos e sem grandes promessas. Ela conta com a confiança de muita gente.

 

Andrea Paes Alberico, João Xerri, Guga Dorea e Thomaz Ferreira Jensen, do Grupo de São Paulo - um grupo de pessoas que se revezam na redação e revisão coletiva dos artigos de análise de Contexto Internacional do Boletim da Rede, editado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, de Petrópolis, RJ.

 

Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Artigo publicado na edição de fevereiro de 2011 do Boletim Rede.

 

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