Hugo Chávez frente às eleições regionais

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Salim Lamrani
21/11/2008

 

Em 23 de novembro de 2008 se celebrarão na Venezuela as eleições regionais e locais que designarão os novos governadores e prefeitos. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), de Hugo Chávez, deverá ganhar amplamente este pleito, dentro de um contexto complicado exacerbado pela oposição do país, que ainda se nega a reconhecer a legitimidade do presidente venezuelano, apesar de mais de uma dezena de vitórias eleitorais cuja transparência e caráter democrático foram destacados pela maioria das organizações internacionais.

 

Com efeito, desde sua eleição em 1998, Chávez não deixou de colocar em jogo seu mandato e sua autoridade, submetendo-se ao sufrágio popular. Em dez anos, os venezuelanos foram consultados em 13 ocasiões, quer dizer, quase tantas vezes como durante os 40 anos anteriores à Revolução Bolivariana, entre 1958 e 1998, nos quais houve 15 eleições.

 

A oposição, que atualmente controla dois estados (Zulia e Sucre) de um total de 24, poderia perder seus últimos bastiões em benefício dos candidatos governistas, particularmente no estado de Zulia, dirigido pelo governador Manuel Rosales, visceral opositor de Chávez. Rosales avisa que ignorará os resultados do escrutínio em caso de vitória de Giancarlo di Martino, candidato do PSUV em Zulia, consciente de que os eleitores venezuelanos estão a favor do partido presidencial.

 

Rosales participou do golpe de Estado de 11 de abril de 2002, firmando o decreto que reconhecia a junta golpista do efêmero Pedro Carmona Estanga. Também foi um eminente protagonista da sabotagem petroleira, em dezembro de 2002, além de multiplicar campanhas midiáticas contra o poder. Atualmente se encontra gravemente envolvido em um escândalo de corrupção.

 

Hugo Chávez se colocou em guarda contra qualquer nova tentativa de desestabilização. "Querem incendiar o país de novo (...). Andam buscando militares para dar um golpe de Estado", denunciou o presidente. Também aproveitou a ocasião para lançar uma firme advertência ao atual governador de Zulia. "Se o cavalheiro Manuel Rosales não quer entregar o governo ao ganhador de 23 de novembro (...), neste mesmo dia (...) vai sair preso da sede governamental de Zulia".

 

Desde sua chegada ao poder, Chávez foi constantemente alvo de ameaças. A administração Bush tentou de tudo, do golpe de Estado de 2002 ao atual financiamento da oposição, a fim de se livrar do político mais popular da América Latina. Em setembro de 2008, as autoridades venezuelanas desbarataram, por pouco, uma conspiração destinada a assassinar o líder bolivariano e reiterar o golpe. Vários militares aposentados e ativos – mas sem mando de tropas – do Exército foram presos.

 

Os serviços de inteligência venezuelanos conseguiram gravar diversas conversas telefônicas entre o general da Divisão do Exército Wilfredo Barrosa Herrera, o vice-almirante Millán Millán e o general da Brigada da Aviação Eduardo Baéz Terrealba. Os golpistas haviam elaborado um plano para tomar de assalto o Palácio presidencial de Miraflores e eliminar Chávez. "Se está em Miraflores até lá faremos este esforço (...). Vamos tomar o Palácio de Miraflores, vamos tomar as instalações televisivas".

 

Além de um ataque contra o palácio, os militares haviam previsto tomar como alvo o avião presidencial e acertá-lo com um míssil durante a decolagem ou a aterrissagem. Assim, "uma possível operação (seria possível) com o presidente chegando de viagem. Uma das ações poderia ser capturá-lo com os aviões no ar".

 

Mario Isea, presidente da Comissão Especial de Investigação sobre o magnicídio da Assembléia Nacional Venezuelana, confirmou a existência de indícios comprovados sobre dito golpe de Estado. "Há suficientes elementos de convicção para provar os planos de magnicídio e de golpe de Estado", afirmou. Também destacou a interferência de elementos internacionais, políticos da oposição, meios privados e empresários locais. Os indivíduos em questão haviam se reunido por várias vezes na Venezuela, Colômbia e Estados Unidos.

 

A participação da administração Bush é inegável. Com efeito, a oposição venezuelana jamais se arriscaria à semelhante empreitada se não tivesse o apoio político e financeiro de parte da Casa Branca. Em setembro de 2008, cansado das múltiplas ingerências dos Estados Unidos, o governo de Caracas expulsou o embaixador estadunidense e retirou seu representante diplomático de Washington.

 

A eleição de Barack Obama para a presidência estadunidense poderia dar lugar a uma normalização das relações entre as duas nações. Hugo Chávez comemorou a vitória do senador democrata e jogou-lhe confetes. "O governo da República Bolivariana da Venezuela ratifica sua vontade e determinação de edificar, sob a base do respeito absoluto à soberania, uma agenda bilateral construtiva para o bem-estar dos povos venezuelano e norte-americano".

 

A oposição venezuelana se encontra em uma situação desesperadora. A revolução política, econômica e sobretudo social do presidente Hugo Chávez lhe tirou toda a base popular. O líder bolivariano goza de prestígio fora do comum em seu país graças a sua política de redistribuição de riquezas, que melhorou sensivelmente o nível de vida de setores mais deserdados. Os resultados alcançados em uma década são espetaculares. A participação de todos os cidadãos no processo de transformação lançado em 1998 permitiu à sociedade inteira alcançar um grau de maturidade política suficiente para ser consciente do que está em jogo em nível nacional e compreender que a oligarquia não é a melhor representante de seus interesses.

 

Revisado por Caty R.

Traduzido por Gabriel Brito.

 

Salim Lamrani é profesor e jornalista francês, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Acaba de publicar "Dupla Moral. Cuba, a União Européia e os direitos humanos", (Editorial Hiru, 2008).

 

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