FARCs: terroristas ou insurgentes?

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Altamiro Borges
29/01/2008

 

 

A revista Fórum de janeiro acertou em cheio na sua reportagem de capa. A edição especial sobre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) saiu no momento de uma brutal ofensiva da mídia contra a negociação humanitária liderada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que resultou na libertação de duas reféns (Clara Roja e Consuelo González) do cativeiro do mais antigo e organizado agrupamento guerrilheiro do continente. Enquanto a mídia venal acusava as FARCs de terrorista, narcotraficante e outros impropérios, a Fórum revelou os reais motivos da sua fundação em maio de 1964, seu projeto político de matriz socialista e seu cotidiano nas selvas.

 

Mesmo discordando dos métodos usados, a revista praticou o bom jornalismo, informando e não manipulando os seus leitores. “Antes de entrar na trilha, uma rápida olhada para trás me faz ver um acampamento distinto daquele que conheci dias antes. Talvez não uma casa, como me havia sugerido [a guerrilheira] Adriana. Mas um espaço de convivência política e militar que insiste na idéia de transformar o continente”, conclui a reportagem o jornalista Jacques Gomes, que passou três dias numa área sob o comando das Farc, que controlam quase 40% do território nacional.

 

Os verdadeiros terroristas

 

A tentativa de qualificar as FARCs como grupo terrorista, negando a sua história e a sua proposta de libertação nacional, serve a distintos interesses. Da parte do “império do mal”, encaixa-se no seu intento de domínio da região, considerada um “quintal dos EUA”. O presidente-terrorista George W. Bush mantém atualmente cerca de 800 “consultores militares” manietando as forças armadas do país vizinho. Através do belicista “Plano Colômbia”, o governo estadunidense injeta bilhões de dólares na indústria de armamentos e põe em risco a segurança militar de todo o continente. Qualquer êxito de uma “paz negociada”, que restabeleça os canais democráticos no país, poderia confirmar a tendência progressista na região, prejudicando as ambições imperialistas dos EUA.

 

Já da parte do governo Álvaro Uribe, a “paz negociada” poderia representar a débâcle das forças oligárquicas que controlam o país há décadas. O atual presidente só sobrevive graças à violência. Ele é um homem da guerra, com todas suas marcas fascistas. Tanto que o seu governo é ocupado por chefes dos grupos paramilitares de direita e por latifundiários e industriais – inclusive o dono da Coca-Cola –, que saqueiam o país e bancam o genocídio. A “paz negociada” também ajudaria a implodir os vínculos de Uribe com as poderosas máfias da cocaína que disputam o controle do território. Dois livros recentes – “Amando Pablo, odiando Escobar”, escrito por Virgínia Vallejo, ex-amante do maior chefão das drogas, e “Biografia não autorizada”, do jornalista da Newsweek Joseph Contreras – comprovam fartamente as ligações do atual presidente com o narcotráfico.

 

Paz negociada e não rendição

 

A libertação de duas importantes reféns, intermediada pelo presidente Hugo Chávez, demonstra que as Farc estão interessadas em solucionar um conflito que dura quatro décadas e que resultou na morte de 70 mil pessoas e no deslocamento de suas casas de 5 milhões de colombianos. Mas, para isso, é preciso derrotar os senhores da guerra – Bush, Uribe e seus porta-vozes da mídia. A paz terá que ser negociada e não imposta através da rendição. Nos anos 80, as FARCs aceitaram um cessar-fogo e criaram um braço político institucional, a União Patriótica. Mas dois candidatos presidenciais da UP, assim como seu senador eleito, foram barbaramente assassinados. Enquanto não se firmar a “paz negociada”, as FARCs não abandonarão seus questionáveis métodos de luta.

 

 

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).

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