Correio da Cidadania

As árvores e a floresta

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Olhar para as árvores sem ver a floresta leva sempre a juízos incorretos. Um exemplo disto é o que está acontecendo em Zimbábue.

As agências internacionais - peça importante do dispositivo de propaganda dos países centrais - apresentam o presidente daquele país - Robert Mugabe - como um ditador primitivo e truculento, que está perseguindo a oposição democrática e trazendo miséria ao seu povo.

A imprensa tupiniquim a serviço da burguesia encarrega-se de divulgar esse noticiário, sempre com a epígrafe: "das agências noticiosas internacionais".

O Correio da Cidadania tem conhecimento direto da situação em Zimbábue. Tem, por isso, condições para contestar esse noticiário.

Tudo o que, segundo esse noticiário, Mugabe anda fazendo contra a oposição não mereceria uma linha das agências noticiosas se ele não tivesse tido a idéia (ingênua, sem dúvida) de exigir que os ingleses cumprissem o Tratado que firmaram solenemente, em 1990, no Castelo de Lancaster.

 

Nos termos desse Tratado, o governo inglês - derrotado militarmente pela guerrilha comandada por Mugabe - reconhecia a independência da sua colônia Rhodesia e se comprometia a fornecer ao novo país, agora chamado Zimbábue, os recursos necessários para indenizar os colonos ingleses, cujas terras - arrebatadas da população que ali vivia desde tempos imemoriais, pelo exército colonial a serviço de William Rhodes - seriam devolvidas aos seus legítimos donos. 

A cláusula foi incluída para evitar um banho de sangue. Baseava-se na força moral de Mugabe que era, na época, a única liderança em condições de convencer a população - armada, ressentida por cem anos de um "apartheid" mais duro que o sul-africano e, agora, dona da situação - a esperar pacificamente a retirada progressiva dos ingleses.

De 1990 a 2000, o governo inglês não enviou um penny sequer para honrar seu compromisso. Se não bastasse, quando percebeu que a demora na retomada das terras estava corroendo o prestígio de Mugabe, inventou um partido oposicionista a fim de derrotá-lo eleitoralmente.

O termo "inventou" aplica-se rigorosamente ao caso, pois o líder oposicionista não passa de um pelego, financiado por um fundo criado na Inglaterra - fundo este abastecido com dinheiro - pasme-se! - de dois ex-ministros de relações exteriores da Inglaterra, um deles com interesses diretos nos grandes agronegócios que exploram as excelentes terras das fazendas que os ingleses residentes no país tomaram para si.

Diante dessa ignomínia, Mugabe resolveu recuperar as terras e mandar a conta para o governo inglês. Esse crime imperdoável condenou o país a um boicote internacional que já dura sete anos. Obviamente, a economia do país  foi pelos ares.

Essa é a floresta. Agora, vamos às árvores: pode ter havido excessos no trato com a oposição? Pode. Pode ter havido atropelos na recuperação das fazendas? Pode. É aceitável? Não.

 

Mas a condenação dos excessos não dá autorização alguma para o boicote que os países ricos do hemisfério norte estão impondo a uma população por eles explorada durante cem anos.

Convém esclarecer que democracia é o que menos preocupa o governo inglês. Seu único propósito é desgastar Mugabe, a fim de substituí-lo por um títere, que assegurará a permanência de suas companhias no "filé mignon" das terras do país.

Para finalizar: ao contrário do que as agências internacionais propalam, o Dr. Robert Mugabe não é nenhum primitivo, mas um "scholar" sofisticado que comandou a guerrilha zimbabuense contra o exército colonial inglês e o derrotou.

Está no poder há dezessete anos, sempre por força do voto popular. A propósito: a última eleição foi fiscalizada por uma equipe de observadores internacionais, que percorreu todo o país e não encontrou sinais de fraude.

 

 

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