Correio da Cidadania

2012: tombo na economia e aumento dos conflitos sociais

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O ano de 2012 vai terminando e pode ser definido como um ano de algumas significativas mudanças de conjuntura política, econômica e social.

 

Pelos menos dois traços marcantes que, registre-se, foram comuns em dois anos de mandato do governo Dilma-PMDB: a desaceleração do crescimento do PIB (com alguns indicadores de estagnação econômica, como o aumento da inadimplência e a freada na criação de empregos formais) e um crescimento dos conflitos e tensões sociais, marcados em uma significativa recuperação das greves na classe trabalhadora, ao lado de lutas populares de resistência, como a luta contra as remoções e pelo direito à moradia, e a resistência aos desastres socioambientais no horizonte, como Belo Monte.

 

O tombo na economia é grave, não se sabe se teremos “Pibinho” ou “zerinho” em 2012.

 

A primeira razão são os sinais e fatos dramáticos do aprofundamento da crise internacional, que golpeia fortemente o continente europeu, levando a um cenário de recessão continental e depressão em alguns países como Grécia, Portugal e Espanha. Considerem-se também os sinais de uma desaceleração, ainda que paulatina, do crescimento do capitalismo chinês e temos o cenário global de complicações no mercado de exportações, muito precioso para um país exportador de commodities, como o Brasil.

 

A ausência de qualquer controle sério de capitais e o sempre religioso pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, à custa do Orçamento da União, mantêm o país com altos índices de vulnerabilidade externa, dependente do capital financeiro. O cenário gera desconfiança e retração interna do capital, que para de fazer investimentos de fôlego enquanto clama aos quatro cantos por mais benefícios fiscais e redução dos custos da mão-de-obra.

 

Clamores que são atendidos pelo governo Dilma/PMDB. Pois este vem, desde 2011, no âmbito do setor público, cortando gastos públicos e sociais, arrochando salários dos servidores. Diante das incertezas da crise externa e da volta do fantasma da inflação, o governo cede ao setor privado, sinalizando apertos nos salários e ataques aos direitos trabalhistas, ao passo que anuncia megapacote de R$ 100 bilhões na economia para 2013, movida sempre pelo dinheiro público do BNDES.

 

Ou seja, em 2012, diante da crise, a coalizão capitalista dominante – o capital financeiro, o agronegócio, os grandes grupos siderúrgicos, empreiteiras – cerrou ainda mais fileiras em torno do governo PT-PMDB. E este não lhes faltou.

 

Basta sistematizar outra série de medidas, projetos e políticas que o governo vem adotando em benefício deste condomínio, tais como: 1) a revisão do Código Florestal; 2) os recentes pacotes de privatização da infraestrutura do país, como a privatização dos aeroportos e novas “parcerias” com o setor privado nas estradas e ferrovias; 3) o corte dos impostos para o empresariado, sob pretexto de manter a economia aquecida e garantir empregos (sem impedir pacotes de demissões, como as recentes 850 na empresa aérea Webjet); 4) os novos ataques para flexibilizar a legislação trabalhista, como o Acordo Coletivo Especial (o negociado acima do legislado), entre outros.

 

O crescimento das greves: resposta natural a este cenário

 

Os conflitos sociais aumentaram porque a economia derrapa e roda e a política do governo e do capital é de apertar o cerco aos salários, à legislação trabalhista e ao ajuste dos gastos nos serviços públicos.

 

No primeiro semestre de ano, houve greves e mobilizações expressivas na construção civil, na rede estadual de educação de diversos estados, nas polícias militares e bombeiros de vários estados, com destaque para a mobilização dos bombeiros do RJ. Houve ainda uma expressiva rede de greves nos transportes ferroviários e metroviários, que também tiveram caráter interestadual.

 

No segundo semestre, segundo cálculo dos sindicatos e federações, mais de 300 mil servidores federais de dezenas de categorias realizaram o que foi considerado a maior greve da história do serviço público federal, por reajustes salariais e reestruturação das carreiras. Depois vieram as greves de bancários, trabalhadores de correios, metalúrgicos.

 

Ao lado disso, como forma de resistência à política de megaobras e megaeventos, cresceu também a resistência do movimento popular por moradia e das populações indígenas e comunidades ribeirinhas a obras como Belo Monte.

 

As eleições municipais não desequilibraram este cenário. Pautadas pelas mazelas e colapsos das cidades, de maneira geral, as eleições favoreceram o condomínio atual do poder, ainda que com mais contradições. Mas o pleito municipal também expressou o fenômeno do crescimento de um voto mais crítico à esquerda, em favor de alternativas ao modelo que consumiu no fogo da institucionalidade e dos corruptos jogos do poder partidos como PT e PCdoB.

 

Ao lado do aumento da resistência e das lutas populares, houve uma parcela da população que nas urnas também expressou essa resistência, tal como se verificou em uma legenda como o PSOL (a única de oposição de esquerda com representação parlamentar), que obteve mais votos do que partidos como PCdoB e PV nas suas candidaturas majoritárias.

 

2012 foi mais um ano para demonstrar que o modelo de “desenvolvimento” vigente no país não resolve os gargalos da desigualdade social histórica e estrutural do Brasil. Mesmo a tão propalada ampliação da classe C (que é na verdade a ampliação da classe trabalhadora sob salários e direitos precarizados) já está no limite, estrangulada no endividamento, ou já na inadimplência, devido à permanente política de incentivo do consumo pela via do crédito fácil – sem, portanto, a elevação da renda, diante da tendência de arrocho e freio na economia. Bombas de tempo. É certo que, na maioria da população, prevalece o apoio ao governo, mas já sob uma sensação, tal como diz um ditado cada vez mais popular, de “tá ruim, mas tá bom”... Ainda.

 

Tudo indica que o mundo não vai acabar em 2012. Mas, para terminar o ano em nosso país, nada poderia ser mais simbólico do que Sarney voltar a ser presidente do Brasil. Por três dias apenas, é verdade, mas ilustrativos de que o bloco dominante no poder, dirigido pelo PT há dez anos, não tem nada de novo e esperançoso a oferecer ao povo brasileiro.

 

Serão as lutas sociais e o crescimento da resistência popular que poderão recolocar novas alternativas de reconstrução de uma ruptura com o modelo no horizonte. Tal como ocorreu no Norte da África e nas greves e manifestações na Europa, o Brasil também vai precisar da sua primavera.

Comentários   

0 #3 Otima noticiaPaulo 31-12-2012 03:50
Baixo crescimento economico : que bom ! menos destruicao do meio ambiente .
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0 #2 Seguiremos o rumo de colônia alegreLuis Ramirez 30-12-2012 12:19
Editorial duro e preciso. essa é a rota eternamente colonial, ditada de fora, que segue o país. falar em investimento social é brincadeira, num país que só se preocupa em reaquecer a economia sob o ponto de vista dos monopólios empresariais, arrocha todo mundo, desonera tudo, nao toca na dívida, enfim, mantém intacto toda a estrutura de imobilismo e submissao do país. fora que todo serviço público segue na lama de sempre, precarizado como sempre e cercados de projetos privatistas como sempre.
e com uma estrutura tributaria e de distribuiçao de renda ultra-regressiva, continua a repasssar ao mundo do trabalho todo e qualquer revés econômico. ano que vem tem mais, até pq 2014 será de menos margem de manobra e será preciso deixar o caminho bem limpinho pras meganegociatas vindouras. Bandilma vai passar o rodo no ano que vem, essa ignóbil burocrata que tem consideraçao abaixo de zero por movimento social, popular, enfim, povo. a burguesinha que pegou em armas é um robô balconista da pior espécie, insensível socialmente e espertissima em agenciar grandes bocadas pros amigos do mafioso mundo energético.
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0 #1 RE: 2012: tombo na economia e aumento dos conflitos sociaisRoberto 29-12-2012 16:17
O artigo é exagerado. Logicamente, o Brasil vai sentir a turbulencia externa. No entanto, é uma falácia essa conversa de que o País tem cortado investimentos na área social. Pelo contrário, o que se viu foi justamente o aumento. Outro dado é que a renda média do brasileiro bateu o recorde histórico este anos, assim como a taxa de desemprego (4.9%). Portanto, desculpe-me o autor, mas este artigo é puro terrorismo irresponsável. Ademais, vir dizer que o PSOL, partideco cheio de oportunistas representa a "verdadeira" esquerda é para fazer rir.
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