Correio da Cidadania

2009 trará saudades de 2008

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A análise prospectiva desdobra-se em dois tempos: no primeiro momento faz-se um juízo de realidade sobre o futuro; quais os cenários mais prováveis em 2009? No segundo momento, emite-se um juízo de valor sobre os cenários formulados; qual desses cenários é mais favorável ou menos favorável à consecução dos objetivos do analista? Começando, portanto, pelo começo: qual será o impacto da crise mundial no Brasil, em 2009?

 

Numa conjuntura de grande incerteza, alguns economistas afirmam cautelosamente que o impacto será moderado; outros, que será muito forte e criará dificuldades de grandes proporções para o crescimento econômico do país.

 

Traduzindo: no primeiro cenário, teremos um aumento discreto do desemprego; no segundo, um aumento exponencial.

 

O primeiro cenário obviamente será mais facilmente administrável do que o segundo. O governo adotará políticas econômicas para absorver parte dos desempregados e tomará medidas assistenciais para atenuar a situação dos que não puderem ser absorvidos (sopões, passe livre, isenção de contas de água etc). O preço que se exigirá da classe trabalhadora para ter esses benefícios (!?) será a redução de salários e a supressão de outros direitos inerentes ao contrato de trabalho.

 

No segundo cenário, a administração do desemprego será mais difícil e imprevisível. Sempre é possível pensar que o aumento do desemprego não provocará problemas de governabilidade, dada a passividade das massas e a confusão em que se encontram os movimentos populares. Mas esta previsão pode não se verificar, porque todos sabemos também que os humores da grande massa podem variar muito rapidamente. A hipótese de uma greve geral, por exemplo, não deve ser totalmente descartada, embora pareça bastante difícil.

 

O que, sim, parece certo é o aumento da violência. O pior é que a violência maior recairá sobre a população das favelas, morros e periferias (pobre contra pobres), o que dará pretexto para o Estado criminalizar a pobreza ainda mais do que em 2008.

 

Sem dúvida, neste cenário sombrio, poderá haver alguma surpresa na sucessão de Lula. O mais provável é que os partidos de oposição –PSDB e DEM – tirem proveito das dificuldades do governo. Caso venha a ocorrer não significará mais do que a troca de seis por meia dúzia. Menos provável, porém não impossível, dado o quadro de incerteza, é o crescimento de uma candidatura alternativa mais à esquerda.

 

O quadro é de incerteza, mas não parece arriscado concluir que 2009 será pior para o povo do que 2008.

 

Que tática política as forças populares podem adotar para fazer frente a uma situação tão adversa?

 

Uma tentação que precisa ser rejeitada é a de buscar aliados na classe média e na burguesia a fim de construir uma alternativa dita "progressista" na base de um programa moderado.

 

Frentes, frentões, campanhas pluralistas, comandadas por forças burguesas descontentes com as facções no comando do Estado, acabam sempre usando a força popular apenas para conseguir melhorar sua posição no sistema de poder.

 

Uma tática desse tipo, portanto, só conduzirá a esquerda ao abandono da única via possível para se conseguir algum pequeno acúmulo na luta de resistência ao avanço da direita: fincar pé na posição classista e construir perseverantemente os instrumentos e as condições necessárias para poder – no longo prazo - enfrentar, de fato, a burguesia.

 

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