Correio da Cidadania

Pneumonia sem febre em 2008

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A análise retrospectiva tem por fim trazer à memória dos leitores fatos importantes do ano que se finda. Ao selecionar fatos, sob o critério da sua importância, o que se está fazendo implicitamente é um juízo de valor. Para o Correio da Cidadania, importantes são os fatos que alteram, para melhor ou para pior, a situação social e a luta política do povo brasileiro.

 

Sob este ponto vista, cabe mencionar:

 

- a opção do governo pelo modelo primário-exportador e a conseqüente paralisação do raquítico programa de assentamentos rurais que vinha executando nos anos anteriores;

 

- a edição de Medidas Provisórias transferindo ao Ministério de Assuntos Estratégicos atribuições do Incra na titulação de terras com o objetivo de possibilitar a rápida legalização da grilagem na Amazônia, a fim de facilitar a aterrissagem dos grandes do agrobusiness internacional na região e a conseqüente montagem de uma gigantesca empresa exportadora naquela parte do país;

 

- o aumento exponencial da violência do Estado contra as populações pobres que habitam as periferias dos grandes centros e a criminalização das entidades de defesa dos direitos dessas populações;

 

- a ausência de debate político numa campanha eleitoral travada exclusivamente entre facções da direita e na qual os partidos de esquerda não tiveram condição de apresentar suas propostas.

 

Os fatos mencionados mostram que não houve alteração substantiva no padrão de evolução do processo de reversão neocolonial iniciado nos anos 90: os fatos mais importantes, embora graves, não causam impacto revelador da magnitude da transformação que está acontecendo na estrutura do Estado e da sociedade. Daí a metáfora da pneumonia sem febre. Uma das provas disso é o prestígio do Lula.

 

Os fatos assinalados não tiveram o efeito de abalar o extraordinário prestígio de Lula na massa popular, nem mesmo quando se tornou evidente que o decantado sucesso de sua política econômica era o resultado de conjunturas internacionais favoráveis e que a mudança delas já estava afetando a economia negativamente. A opinião pública preferiu ficar com o discurso falacioso de Lula a respeito da capacidade da nossa economia de defender-se da crise a ouvir a voz daqueles que tentam mostrar a dura realidade a enfrentar em 2009.

 

Como se vê, 2008 foi um ano muito ruim para a luta do povo, mas não se pode deixar de mencionar uma vitória importante: a manutenção dos índios de Roraima em suas terras ancestrais. Sem medo de incorrer em exagero, pode-se mesmo qualificar a decisão do Supremo Tribunal Federal como a primeira grande vitória do povo após a sucessão de derrotas que vem sofrendo desde 1989.

 

Em grau menor, porém sem dúvida importante, foi a realização do Tribunal Popular organizado por cem entidades de direitos humanos para julgar o Estado brasileiro pelo delito de criminalização da pobreza. O êxito do evento sinaliza um despertar de consciência a respeito da importância da relação entre a luta pelo Estado Democrático de Direito e o avanço da luta de classes no país.

 

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