Correio da Cidadania

Ainda a ignorância

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Na luta contra o marxismo, alguns cronistas deveriam cuidar para não demonstrar ignorância. Evitar, por exemplo, dizer que o marxismo tem o socialismo como o fim da História, por ser o momento em que o regime do proletariado controlaria os meios de produção e o sistema político. Todo mundo sabe que esse negócio de "fim da história" é um slogan neoliberal. E, para o marxismo, a história é infinita.

 

Também não dá para dizer que o marxismo considera o socialismo o regime definitivo do proletariado. Para ele, nenhum regime social é definitivo. O socialismo seria apenas um regime em que os trabalhadores assumiriam o poder de Estado, para completar aquilo que o capitalismo não fora capaz de fazer com suas próprias forças, preparando as condições para passar a uma fase superior, o comunismo.

 

Portanto, para o marxismo, o socialismo seria apenas uma fase de transição, que deve incluir a sobrevivência da propriedade capitalista, pelo tempo que for necessário para completar o desenvolvimento das forças produtivas. E o comunismo, durante o qual não mais seria necessária a existência do Estado, pela inexistência da divisão social em classes, também deverá ser substituído por algum outro tipo de formação social, em algum momento da história.

 

Assim, para combater o marxismo, é preciso não apenas ler com atenção os textos marxistas, como também fazer uma leitura correta da realidade. Por exemplo, é ignorância crassa afirmar que o pensamento que toma o capitalismo como um regime que gera miséria e desigualdade, representaria uma séria contradição com o mundo real, no qual um capitalismo globalizado e pujante estaria levando quase todos os países a uma fase de prosperidade sem precedentes, o que demonstraria não o colapso do capitalismo e o futuro inevitável do socialismo, mas o contrário.

 

Não há dúvida que o capitalismo globalizado apresenta pujança e prosperidade sem precedentes. O capitalismo também não parece estar em colapso, embora os Estados e bancos centrais precisem realizar esforços cada vez maiores para que suas crises não se tornem furacões catastróficos. E a história mostrou que o socialismo sofreu um colapso desastroso no leste europeu, e está sendo obrigado a realizar recuos estratégicos nos poucos países em que permaneceu.

 

Porém, por que há tanta gente anticapitalista? Por que teria lido Leo Huberman, e não Adam Smith? Ou por que enxerga, além da face pujante, a face sombria da miséria e das desigualdades do capitalismo? O mundo real capitalista é o mundo da dualidade pujança e da miséria, prosperidade e da desigualdade, descrita em cores vivas pelo marxismo. É o mundo real, em que vive a maioria do povo. Assim, não é preciso ter lido Leo Huberman, ou Marx, para ser anticapitalista. Basta olhar em volta com atenção, e não ser totalmente ignorante. 

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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