Correio da Cidadania

A fé, a verdade, a ética

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Existem palavras que atuam com a força do talismã. São sagradas.

 

A palavra “fé” é tão pequena mas tão poderosa. E desempenha papel importante na vida política, especialmente nos momentos de crise. A fé esteve e deve estar ainda presente no Senado, unindo mentes e corações em torno de um ideal maior.

 

Na edição de quarta-feira, 12 de setembro, o Jornal do Senado publicou a foto em que uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré ficou exposta na Mesa durante a sessão. A idéia da homenagem partiu do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Manifestações religiosas inundaram o espaço político.

 

Renan Calheiros, que afirmará ser a verdade sua estratégia, não teve medo de exagerar: “Não seria exagero dizer que o Círio é, atualmente, uma das principais celebrações populares da fé cristã em todo o mundo”.

 

Em tom emocionado (quem detectou essa emoção foi o próprio Jornal do Senado), o senador Romeu Tuma (DEM-SP) saudou a presença de Nossa Senhora, “mensageira da fé e da esperança nas 24 horas que antecediam o julgamento do presidente do Senado, Renan Calheiros, por quebra de decoro parlamentar”. Para Tuma (só estou transcrevendo o que li), “Nossa Senhora nos traz alegria e alívio no coração e na alma na hora mais difícil”. Agora e na hora da nossa morte?

 

Possivelmente com a voz também embargada de emoção, o senador Mão Santa (PMDB-PI) “recitou o refrão da música Nossa Senhora, de Roberto Carlos, para pedir à Virgem Maria orientação para ‘o dia mais difícil’ do Senado”. Referia-se ao dia em que o presidente da Casa poderia perder o mandato. “Guie, oriente e ilumine o Senado da República”, rogou o senador.

 

Nossa Senhora de Nazaré permanecia em silêncio. E as manifestações prosseguiam.

“Uma explosão de fé”, disse o senador Mário Couto (PSDB-PA). Explosão... não implosão.

Sem a menor originalidade, o senador Marco Maciel (DEM-PE) repetiu: “uma das maiores demonstrações de fé do Brasil”.

 

Mais tarde, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) trouxe à tona outra palavra sagrada, a “ética”. A senadora denunciava que havia gente buscando um novo nome para assumir a presidência do Senado - “Tem muita gente já se movimentando, fazendo a conta. E aí, aquilo que era para ser uma discussão única e exclusivamente de ética, nos bastidores, se transforma em aritmética”.

 

E a votação se fez: absolvição de todos os pecados!

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor - Web Site: www.perisse.com.br

 

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