Correio da Cidadania

Não cansei, enchi o saco!

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Após anos de corrupção e de uma política aeroportuária desleixada, não foi sem surpresa que o Brasil recebeu, na última semana de julho, o lançamento do “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros” – o famigerado “Cansei”. O movimento pretende-se “apartidário”, mas as circunstâncias acabam impedindo que essa inverdade se prolifere e a pergunta que não quer calar é: onde estavam os “cansados” em tempos de crise do governo FHC? Mas, ainda que esta pergunta quisesse ser calada, não encontraria resposta plausível. Dizem que a população está deixando o comodismo ou que é melhor revoltar-se tarde do que nunca o fazer. Lorota. As verdadeiras razões estão muito bem guardadas, talvez em cofres de bancos na Suíça.

 

Dirigido pela OAB-SP e com o apoio de vários setores a serviço da elite – como FIESP, FEBRABAN e outros –, o movimento ganhou força ao se aproveitar, de maneira oportunista, do caos aéreo que tem assolado o país. Até o mensalão foi tirado do baú conservador. (Hoje, certamente, o lulo-petismo se arrepende profundamente por não ter inventado um nome criativo para a sistemática corrupção tucana, pois “corrupção” e “roubalheira” são palavras muito genéricas.) Sem respeitar o sentimento dos envolvidos na tragédia, a direita “rebelde” aproveitou o acidente da TAM para realizar o marketing de seu movimento. Muitos, de maneira inocente, caíram nessa ladainha como se cai no golpe do bilhete premiado, e engrossaram as fileiras do “Cansei”.

 

Como era de se esperar, a reação do PT não demorou a acontecer. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), que por muitos anos foi exemplo de luta e independência dos trabalhadores, transformou-se em guarda particular do presidente Lula e foi quem assumiu a missão de se contrapor ao “Cansei”, a fim de preservar a imagem do presidente e de seu governo. Para tanto, lançaram o “Cansamos”, que, sem dúvida, soa melhor devido ao companheirismo sugerido pelo verbo no plural. Mas esta melhora não vai além do marketing político.

 

Aliás, a “qualidade” da propaganda petista tem evoluído à medida que sua identidade política se perde; já a direita, que parece não aprender, peca também pelo individualismo do nome-fantasia de sua articulação. As bandeiras do “Cansamos”, é verdade também, possuem um rótulo mais humanitário. Evocam, por exemplo, o “cansaço” em relação aos trabalhos escravo e infantil. Mas, contra isso, palavras não bastam e o governo Lula já mostrou de que lado da trincheira está ao dar aos usineiros – que praticam o trabalho, no mínimo, semi-escravo – o status de “heróis”. O pior cego é aquele que não quer ver e, contra fatos, não há argumentos.

 

Para romper esta falsa polarização que tem ocorrido desde as últimas eleições é que surgiu a idéia de um movimento independente, o “Enchi o saco”. Não há eufemismo que atenue as injustiças que permeiam o Brasil. A intenção é mostrar que estamos cansados, sim, e faz tempo. Um dos nossos objetivos é desmascarar o debate vazio que tomou conta da pauta de discussões políticas na sociedade. Este é um chamado para que aqueles que, há anos, resistem bravamente não sejam ludibriados por nenhum dos lados desse debate inócuo.

 

Enchemos o saco da corrupção do governo Lula, assim como já estávamos cheios da improbidade tucana. Enchemos o saco da política neoliberal – iniciada por Collor, aprofundada por FHC e continuada por Lula –, que há anos tenta diminuir o papel social de um Estado que deveria controlar efetivamente o setor aéreo, sem deixar que empresas privadas arriscassem vidas a fim de garantir lucros cada vez maiores. Enchemos o saco da elite e da classe média aspirante à elite, que ignoram a miséria que está presente na vida de grande parte da população.

 

Estamos cansados, é verdade, mas não a ponto de deixar de ocupar universidades, realizar greves e paralisações, ir às ruas em passeatas ou manifestações por um mundo mais justo. Continuar na luta em CAs, DCEs, partidos políticos de luta, sindicatos combativos, entre outros movimentos sociais, é o que é preciso ser feito. O resto é conversa mole.

 

 

Max Luiz Gimenes participa do núcleo Vila Prudente de militância do Psol.

 

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