Correio da Cidadania

Pan do Rio: pandemônio (1)

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Um ufanismo exacerbado toma conta das falas a respeito do Pan 2007 na mídia gorda - a mesma que não é ufanista nem defende os interesses nacionais quando se trata de questões econômicas, políticas e culturais relevantes. Como se verá, no fim das contas, neste caso a situação não é diferente.

 

Fontes variadas calculam que o Pan custará aos cofres públicos entre sete e doze vezes mais que o planejado. O problema vem sendo denunciado – sobretudo na mídia alternativa – há tempos, como fez Carta Capital em reportagem de capa assinada por Phydia de Athayde.

 

"Por detrás do otimismo repousam, porém, fatos e atitudes capazes de arruinar as pretensões brasileiras de sediar grandes eventos esportivos internacionais. Ou, ainda, fazer com que aconteçam sem que tragam um mínimo de benefícios para o País. A maneira como o esporte é administrado, o descaso com a explosão nos custos e a displicência quanto ao planejamento urbano são alguns desses pontos", diz o repórter.

 

Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) há 12 anos e responsável pelo Comitê Organizador do Pan, não apresentou explicações para o aumento dos custos. Das duas, uma: ou os organizadores são incompetentes, pois não souberam planejar e executar as obras, ou ao menos uma parte do dinheiro foi parar em outro lugar.

 

Em qualquer hipótese, é lamentável que os representantes do poder público tenham continuado a liberar dinheiro sem questionar os gastos.

 

Afirma Phydia: “integrantes do COB trabalham em empresas que prestam serviços para o próprio COB”. O COB gere dinheiro público. Não custa lembrar que, na Alemanha, tem presidente de clube de futebol na cadeia porque roubou na construção de estádio para a Copa de 2006. Enquanto isso, nossos dirigentes são tratados como executivos competentes pela mídia burguesa (sócia nos negócios), recebem dinheiro público e ainda posam de estadistas promotores do desenvolvimento e do futuro do país. O pior é que Nuzman, Ricardo Teixeira e afins, com o apoio da mídia burguesa (babando por verbas publicitárias), estão assanhadíssimos com as candidaturas à Olimpíada e à Copa do Mundo.

 

No Brasil, o governo do PT libera verbas via ministro do PCdoB para socorrer o COB de Nuzman, a prefeitura do Rio (PFL/DEM), o governo do estado (PMDB) e o secretário estadual de Esportes e Turismo (PSDB). O orçamento inicial foi malfeito e os brasileiros pagam a conta.

 

Para suprir “necessidades” que não foram planejadas e ninguém sabe de onde surgiram, recursos da União (que poderiam ser investidos para ampliar direitos como educação e seguridade social) são colocados nas mãos dos mesmos dirigentes responsáveis pelo planejamento incompetente e pelo gasto das verbas liberadas antes (que ninguém explicou para onde foram).

 

A culpa dos gastos adicionais, segundo o COB e os representantes dos executivos federal, estadual e municipal, é da candidatura aos Jogos Olímpicos. Porém o custo aumenta de forma astronômica e os benefícios para a população apontados no projeto original – despoluição de lagoas, expansão do metrô, melhorias em saúde e habitação, entre outros – não são realizados.

 

Usar os orçamentos federal e estadual já seria discutível se os beneficiados fossem apenas os moradores de um município (Rio de Janeiro) ou da Região Metropolitana (caso a Baía de Guanabara fosse despoluída, por exemplo). Como nem os moradores da cidade do Rio de Janeiro serão beneficiados após a competição, para que a gastança?

 

Um manifesto da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência denuncia as obras e benefícios prometidos e não cumpridos e mostra que o principal “legado social” do Pan serão armas novas nas mãos de uma polícia que mata cada vez mais. De janeiro a março deste ano, segundo dados oficiais, a polícia fluminense matou 318 pessoas e, recentemente, produziu a Chacina do Pan, quando cerca de 20 foram assassinadas no Complexo do Alemão.

 

 

Rafael Fortes é jornalista e historiador e edita o blogue A Lenda.

 

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