Salário Mínimo: a novela que não tem fim

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Silvio Profirio da Silva
29/01/2011

 

Nos últimos anos, a questão do aumento de salário sempre foi objeto de inúmeras discussões, pelo fato de o reajuste proposto não ser suficiente para que os trabalhadores brasileiros consigam suprir suas necessidades. Contudo, nunca vimos uma discussão tão intensa acerca dessa questão. Tal situação se dá pelo fato de a definição do valor do reajuste ocorrer no mesmo período em que a Câmara dos Deputados aprovou um aumento exorbitante de salário de parlamentares, ministros e do presidente da República. Esse aumento coloca os salários de presidente da República, vice-presidente, ministros de Estado, senadores e deputados no mesmo nível de equivalência aos salários recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.

 

Um dos aspectos revoltantes acerca desse reajuste refere-se aos percentuais, que variam de 62% a 140% (parlamentares/ presidente e ministros, respectivamente). Em outras palavras, com esse exorbitante reajuste, o valor dos seus salários passa a totalizar a quantia de R$ 26.723,13. Mas será que esse aumento exorbitante e, sobretudo, antiético abrange a todos as pessoas que compõem a sociedade?

 

Pelo atual rumo que tomam as negociações no que tange ao reajuste do valor do novo salário mínimo, afirmamos com veemência que não. A presidente Dilma Rousseff pretende manter o valor estabelecido pelo até então presidente Lula em R$ 540,00, em contraposição ao proposto pelo candidato oposto ao seu partido durante o decorrer das eleições (R$ 600). Esse é o cenário no qual se desencadeou uma nova novela mexicana. De um lado, os órgãos sindicais defendem um mínimo de R$ 580 e, de outro, a presidente e sua trupe (ministro da Fazenda e companhia).

 

Estes últimos, após muitas negociações, pretendem fornecer um mísero aumento no valor de R$ 5.00, o que elevaria o salário mínimo (mínimo mesmo) para o valor de R$ 545,00. Com base no argumento de que o aumento proposto pelas centrais sindicais ocasionaria aos cofres públicos o gasto de 10 bilhões ao ano. Valor este que o planalto não teria como pagar e, o mais revoltante, que esse valor seria um absurdo para o senado. Será? Será que essa afirmativa também se aplica aos salários dos ministros e parlamentares? Com certeza, não.

 

Enquanto nós brasileiros mendigamos por um pequeno aumento em nossos salários, ministros e parlamentares (que deveriam representar e defender nossos direitos) concedem a si próprios um aumento exorbitante. Contudo, este aumento exorbitante não foi barrado por Dilma. Tal situação provoca a revolta nos brasileiros. No entanto, não temos a oportunidade de expressão, ou seja, ao povo é vedada a oportunidade de exteriorizar suas opiniões, o que evidencia a falta de reciprocidade no ato de emitir mensagens. Com isso, o acesso à palavra está sempre com quem possui o poder, evidenciando, assim, a ausência de reciprocidade no diálogo entre as pessoas que detêm o poder e os que não o detêm.

 

É esse o desenvolvimento social que o novo governo pretende propiciar ao nosso país, fornecendo privilégios de concessão de salários exorbitantes a pessoas que possuem cargos públicos no senado e fornecendo salários miseráveis aos brasileiros, o que evidencia falta de igualdade com que a distribuição da renda circula em nosso país?

 

Diante desse quadro, recorro ao discurso utilizado por Plínio Sampaio durante o debate eleitoral. Tal discurso convidava a presidente Dilma e nossos parlamentares a conseguir sobreviver com esse salário vergonhoso proposto pela nova gestão do nosso país. Nosso país é marcado pelo eterno discurso de que somos país do futuro. Contudo, esse futuro limita-se apenas aos discursos políticos. Tal afirmativa surge a partir da constatação do destino da população que está sendo decidido por pessoas que não visam à melhoria das condições de vida e que não estão comprometidas em representar nossos direitos. Mas, sim, por pessoas que objetivam benefícios próprios, o que as impede de proporcionar salários dignos para nós brasileiros.

 

Silvio Profirio da Silva, aluno do curso de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.

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