Correio da Cidadania

O sistema elétrico em perigo

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Depois de um racionamento que nos obrigou a economizar 25% da eletricidade em 2001, depois de elevações tarifárias inimagináveis para um país com tantos recursos naturais, depois de uma “escassez” hídrica com pouca diferença do histórico “período crítico”, depois do ineditismo de imposição de empréstimos para pagar kWh, depois da privatização da Eletrobras por um valor muito inferior ao que ela vale, no início do ano assistimos a terroristas que derrubam torres de transmissão tentando causar um aniquilamento do suprimento de energia.

O relatório IPDO do ONS (Operador Nacional do Sistema) informa que:

Ver mapas:




Vejam a “coincidência” temporal dos eventos: Um no Paraná e outro em Roraima. Diferença de menos de 30 minutos e sem ocorrências climáticas que poderiam causar desligamentos. Um afeta a transmissão da usina de Itaipu e o outro as usinas de Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira. Potência total dessas usinas: 21.318 MW, aproximadamente 20% da potência hidroelétrica brasileira.

Não há como não ficar extremamente apreensivo, pois o sistema de transmissão brasileiro tem dimensões quase continentais.

Por que não tivemos consequências significativas além do custo de reposição das torres?

- Porque o sistema brasileiro é interconectado nacionalmente aproveitando as diferenças climáticas da hidrologia. Toda essa arquitetura foi imaginada e coordenada pela Eletrobras, a empresa que acabamos de vender por 1/10 do seu valor.

- Porque estamos consumindo energia bem abaixo do que seria a tendência histórica brasileira. É fácil perceber que, de 2002 até 2015, crescíamos a uma taxa média de 4% ao ano. De 2016 até 2022, crescemos apenas 1,1% a cada ano. Economia fragilizada. Ver gráfico em MW médios.

- Porque a hidrologia do sistema sudeste tem estado razoável sem nenhum recorde. Ver Gráfico em MW médios.

Por todas essas razões, hoje, o sistema de Furnas verte as afluências do Rio Grande. Provavelmente, se estivéssemos consumindo em 2022 no entorno de 80 GW médios ao invés dos atuais 70 GW médios, que corresponde a nossa tendência anterior, não assistiríamos esta “sobra” de hidrologia. É preciso lembrar também que estamos aumentando a nossa dependência com contratos com térmicas inflexíveis de combustível, o que é um verdadeiro absurdo energético.

O grande perigo é que essa imagem também se associe a uma arriscada sensação de tranquilidade sobre nosso suprimento de energia, desprezando os graves eventos terroristas do dia 8 de janeiro.

Confirmação do perigo:

• Mais um crime ocorreu na quinta-feira, 12 de janeiro, às 14h27, em uma torre de transmissão localizada no município de Rio das Pedras, em São Paulo, na linha de alta tensão que lida as cidades de Assis e Sumaré.

• Outra torre derrubada em Rondônia no sábado, dia 14 de janeiro, afetando a geração das usinas do Rio Madeira.

O perigo continua.

Roberto Pereira D’Araujo é engenheiro, ex-assessor da Eletrobrás e diretor do Instituto Ilumina.

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