Correio da Cidadania

Petrobrás 2017: o ano em que a verdade é aceita como evidente por si própria

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“Caiu a ficha!”. Nos telefones públicos, orelhões, quando se completava a ligação, a ficha caía. A expressão quer dizer o momento em que se passa a entender alguma questão. Esse é o fato marcante para a Petrobrás em 2017. A verdade passou a ser aceita por si própria, sem ser ridicularizada ou rejeitada com violência. A maioria dos petroleiros e dos brasileiros percebeu a "Construção da Ignorância sobre a Petrobrás".

A partir de agora, é evidente que a Petrobrás não está (e nunca esteve) quebrada, que não precisa vender seus ativos para reduzir a dívida, que a privatização prejudica o fluxo de caixa e compromete o futuro que já se torna presente. (Coutinho, A construção da ignorancia sobre a Petrobrás, 2017) (AEPET, Existe alternativa para reduzir a dívida da Petrobrás sem vender seus ativos, 2017)

“Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si própria. ”

Arthur Schopenhauer

Agora está na cara “o mito da Petrobrás quebrada”. É óbvio que houve uma propaganda de choque e terror, a serviço das multinacionais do petróleo e dos agentes do sistema financeiro que as controlam. Estão desmascarados os executivos que giram através de portas giratórias entre a administração pública e corporações privadas. Eles são os modernos feitores e capitães do mato, a serviço do novo ciclo colonial da exportação de petróleo cru, que só podem debater em ambientes controlados do cartel midiático. Interventores e porta-vozes do capital internacional se entendem bem. Antes desfilavam seus egos como os salvadores da pátria, agora se escondem e só oferecem entrevistas para microfones amigos. (Oliveira & Coutinho, O Mito da "Petrobras quebrada", 2017) (AEPET, Editorial: Portas giratórias, 2017)

Alguns leitores cuidadosos podem agora se perguntar: será? Será que realmente a maioria dos petroleiros percebeu? Será que os brasileiros tomaram consciência do que se passa com a Petrobrás e o petróleo brasileiro?

Penso que sim, vamos às evidências.

Com relação à percepção dos petroleiros podemos recorrer à pesquisa de ambiência realizada pela Petrobrás. A última pesquisa foi feita em janeiro de 2017. Pedro Parente e seus executivos, confiantes, incluíram duas perguntas inéditas:

 “71 - O Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 está na direção certa.
Resultado: 37% favoráveis

72 - Confio nas decisões tomadas pela Direção Superior diante dos desafios da companhia. Resultado: 31% favoráveis”.

O percentual de respondentes foi muito baixo, apenas 64% do total. Apenas 31% dos 64% que responderam, em janeiro de 2017, confiavam nas decisões tomadas pela “Direção Superior”. Ou seja, menos de 20%, um em cada cinco, responderam favoravelmente e confiantes nas decisões do presidente, conselheiros e diretores da Petrobrás.

Vejam bem, a pesquisa foi realizada em janeiro de 2017. Ao longo do ano, a confiança certamente piorou diante do resultado das privatizações da malha de gasodutos (NTS), do campo de Carcará etc. (AEPET, NTS: crônica de um prejuízo anunciado, 2017) (AEPET, Voto AGO-AGE da Petrobras em 15/12/2017, 2017)

Em dezembro de 2017, a “Direção Superior” anunciou que não haverá pesquisa de ambiência em janeiro de 2018. Para um bom entendedor... Essa decisão basta, para afirmar que a verdade sobre a Petrobrás foi revelada e já é autoevidente para os petroleiros em 2017.

E os brasileiros? Será que perceberam que o impeachment foi um golpe para “estancar a sangria da lava jato... com o Supremo, com tudo”, como dito pelo senador Jucá? Notaram que tomaram o poder para aumentar a exploração dos trabalhadores e penalizar aposentados e estudantes, com as reformas trabalhistas e da previdência, em benefício de megaempresários e banqueiros? Entenderam que serviu para o capital internacional se apropriar dos ativos da Petrobrás e do petróleo brasileiro?

Não dispomos de pesquisas recentes que tratam de todas as questões. No entanto, podemos recorrer à pesquisa do Ibope, realizada em novembro de 2017, para aferir a percepção dos brasileiros. Perguntados se o impeachment significou melhora ou piora em relação ao governo Dilma, apenas 6% responderam que foi uma “melhora”, contra 52% que afirmaram que foi uma “piora”. (Rosário, 2017)

A banda do Titanic não para

Enquanto a maioria dos petroleiros e dos brasileiros toma consciência, Temer e Parente perseguem seus objetivos.

A meta de redução do endividamento da Petrobrás é temerária. Não é um indicador estratégico recomendável para uma empresa com potencial de crescimento, como é o caso da Petrobrás. O indicador e a meta são arbitrários, assim como a antecipação do seu alcance de 2020 para 2018. A redução da alavancagem é desnecessária, mas poderia ser alcançada sem vender ativos até 2021. (Oliveira & Coutinho, A principal meta da Petrobras, na gestão Parente, é temerária, 2017)

Insistir na atual estratégia de focar na produção de petróleo cru e privatizar os ativos que aumentam seu valor é confrontar a realidade. Mais sensato é mudar a estratégia, agregar valor ao petróleo, interromper a venda de ativos e preservar a atuação corporativa integrada, o que garante a geração de resultados diante da variação dos preços do petróleo.

Enfim, é preciso entender a realidade, mudar o plano estratégico e parar de enfrentar desnecessários desafios autoimpostos. Ao invés de errar no planejamento, culpar a realidade e insistir no erro esperando que a realidade mude, é melhor compreender a realidade e mudar o rumo estratégico. (Oliveira & Coutinho, A realidade desafia a estratégia atual da Petrobras, 2017)

Desde que Temer ascendeu ao poder, o governo assumiu a agenda das multinacionais do petróleo e de seus controladores. Trata-se da agenda do sistema financeiro internacional e dos países estrangeiros que controlam as multinacionais, privadas e estatais.

Mas o que exatamente desejam as multinacionais e seus controladores? Querem a propriedade do petróleo brasileiro, ao menor custo possível, com total liberdade para exportá-lo. Querem acesso privilegiado ao mercado brasileiro. Querem comprar os ativos da Petrobrás a preço de banana. Querem garantir a segurança energética dos seus países, no caso das estatais. Querem maximizar o lucro no curto prazo, no caso das privadas. (Coutinho, Temer assume agenda das multinacionais do petróleo e desgraça o Brasil, 2017)

A Petrobrás adotou nova política de preços dos combustíveis, em outubro de 2016. Desde então, foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes.

A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 deve chegar a 82% do total importado pelo Brasil. (AEPET, Política de preços de Temer e Parente é “America First! ”, 2017)

Soberania e desenvolvimento

O petróleo é uma mercadoria especial, na medida em que não tem substitutos em equivalente qualidade e quantidade. Sua elevada densidade energética e a riqueza de sua composição, em orgânicos dificilmente encontrados na natureza, conferem vantagem econômica e militar àqueles que o possuem. (Coutinho, A energia é o meio e a Petrobras é a chave para o desenvolvimento soberano do Brasil, 2017)

Não há substituto para o petróleo barato de se produzir, mas ele acabou e a humanidade vive as consequências econômicas e sociais deste fato. Informações da indústria mundial, o investimento em Exploração e Produção (E&P) e a produção agregada desde 1985 evidenciam o aumento do custo médio de se encontrar e produzir cada barril adicional de petróleo, com severas consequências para a indústria e a sociedade. (Coutinho, O fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos, 2017)

O desenvolvimento do Brasil depende da utilização dos nossos recursos naturais em benefício da maioria dos brasileiros. Temos que superar a sina colonial e condenar as elites que servem aos interesses estrangeiros, em prejuízo da maioria. Os antigos senhores de engenho e seus feitores são hoje os 0,01%, os rentistas, os executivos vassalos das corporações multinacionais e, no topo da cadeia parasitária, os banqueiros. (Coutinho, A energia e o desenvolvimento soberano em 10 lições, 2017)

A tomada de consciência é condição necessária, porém insuficiente, para que a maioria dos brasileiros se una e se organize para tomar a direção da História e assim promover as mudanças desejadas e urgentes.

Leia também:

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Energia e desenvolvimento soberano em dez lições
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Petróleo, mico e passaporte
O fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos
Avaliação dos “maus investimentos” e da corrupção na formação da dívida da Petrobras
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Felipe Coutinho é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
http://www.aepet.org.br/
https://felipecoutinho21.wordpress.com/

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