O pé no breque do Banco Central

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Altamiro Borges
18/12/2007

 

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reúne uma reduzida casta de nove tecnocratas, na maioria de ex-executivos de poderosos bancos, como o próprio presidente Henrique Meirelles, e que, de fato, manda na economia nacional, parece ter pesadelos com as recentes notícias sobre o crescimento da produção industrial e do comércio. Daí a sua obsessão doentia em travar o desenvolvimento, conspirando contra o próprio PAC do governo Lula. Na sua última reunião do ano ele decidiu, novamente por unanimidade, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11,25%. Num comunicado lacônico à imprensa, ainda deixou implícito que novas reduções dos juros somente deverão ocorrer em meados do próximo ano.

 

Em decorrência desta orientação ortodoxa, nitidamente neoliberal, o país continuará pagando as maiores taxas de juros do planeta – numa disputa acirrada com a Turquia – e atraindo os capitais especulativos, bem ao gosto da ditadura financeira. Como efeito, avoluma-se o serviço da dívida interna, o que inibe os investimentos do governo, inclusive nas obras de infra-estrutura do PAC, e contém-se o crescimento da economia, o que inibe a geração de empregos e renda. Ganham os banqueiros e as 20 mil famílias de rentistas e perdem o estado nacional, os setores produtivos e os trabalhadores. Com sua lógica destrutiva, nem os dados técnicos são levados em conta – como a inflação sob controle e a menor vulnerabilidade do país diante da crise imobiliária dos EUA.

 

Serviçal dos banqueiros

 

A decisão do BC é meramente política e serve aos interesses da capital financeiro. Não é para menos que os agentes dos banqueiros comemoraram mais esta pisada no breque do Copom. O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) chegou a “sugerir” que um novo corte dos juros ocorra somente a partir de junho de 2008 e “de forma suave”. Já a Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi) elogiou o “equilíbrio” do Copom: “É necessário que a autoridade monetária siga verificando o andamento da economia sem mexer nas taxas de juros. Qualquer movimento agora de queda da taxa poderia gerar algum repique da inflação. O momento é de cautela”. Numa nota assinada em conjunto com o Sindicato das Financeiras, ela prega ainda que “a política monetária siga os mesmos moldes em 2008, não se rendendo aos apelos populistas”.

 

No extremo oposto, sindicatos de trabalhadores e alguns patronais criticaram o conservadorismo do Copom. A Federação do Comércio de São Paulo, que estava animada com a possibilidade do aumento das vendas, chiou. “Quando o Copom interrompeu a ciclo de reduções da taxa básica na reunião anterior, tivemos a esperança de que fosse um episódio isolado. Lamentavelmente para o setor produtivo, o erro se repete e terá reflexos negativos sobre as perspectivas de crescimento da economia em 2008”, criticou Abram Szajman, presidente da Fecomércio. Para ele, a redução da Selic, além de beneficiar a produção e o comércio, seria positiva por “aliviar o caixa do governo, que poderia usar a folga para realizar novos investimentos e reduzir sua dívida pública. Também por isto, a decisão do Copom é incompreensível e injustificável”.

 

Aumentar a pressão

 

As críticas à ortodoxia ultraliberal do BC, que funciona como poder paralelo, também crescem no interior do governo Lula. O novo presidente do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, tão perseguido pela mídia hegemônica por sua postura independente, é atualmente um dos principais críticos dos efeitos destrutivos da política monetária. Na mesma toada, o diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, João Sicsú, afirmou logo na sua posse, em outubro, que a taxa de juros é criminosa porque eleva a divida pública e entrava o crescimento do Brasil. De cara, ele apresentou uma proposta concreta: “Acho que poderia haver uma regra para limitar quanto o governo pode gastar na rubrica despesas de juros. O governo gastou, entre 2003 e 2006, cerca de R$ 600 bilhões. Essa despesa não gera empregos nem bem-estar social”.

 

Mas o presidente Lula, tão apegado à visão conciliadora e pragmática, parece não estar disposto a comprar briga com a poderosa ditadura financeira. Neste sentido, a choradeira pelos cantos tem se mostrado infrutífera. Enquanto não houver uma forte gritaria dos trabalhadores e do chamado setor produtivo, que pressione o presidente Lula, o capital financeiro continuará mandando no Banco Central e na economia brasileira. Cada reunião do Copom será motivo de festança para os banqueiros e para as 20 mil famílias de rentistas que especulam com os títulos da dívida publica e de frustração para milhões de brasileiros que dependem da produção, do emprego e da renda.

 

 

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi).

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