Correio da Cidadania

O leitor digital adquire conhecimento?

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A história da Internet dá conta de que esta surgiu primeiramente nos meios militares norte-americanos, no auge da Guerra Fria, sendo estendida para os meios acadêmicos. Desde os seus primórdios (Arpanet), a Internet visa o processamento e transmissão de grande quantidade de informações (dados), para a formação de conhecimento.

 

A Internet, a partir de 1994, ganhou diversidade tecnológica, agilidade e interface que facilita a operacionalidade do internauta no acesso à informação, entre outras facilidades. Como resultado de anos de trabalho (global) de armazenamento de dados (digamos assim), a Internet se constituiu num imenso banco de dados disponível a todo cidadão, em qualquer parte do mundo.

 

Tal situação, sem sombra de dúvida, aumentou em muito a produtividade do ser humano (cidadão ou indivíduo) na busca de informações, bem como na realização de tarefas cotidianas, como pagar contas, baixar manuais técnicos para resolver problemas em seus equipamentos, baixar arquivos de configuração de computadores e seus periféricos, entre tantas outras utilidades profissionais e de lazer.

 

Na Internet, também é possível baixar (legalmente) livros históricos, como por exemplo, no site do governo brasileiro – http://www.dominiopublico.com.br/. Neste site, o internauta (estudantes, professores e público em geral) poderá baixar livros (best selles) liberados para a distribuição gratuita, por terem alcançado o prazo legal de 30 anos da sua publicação. Assim, os estudantes (e pesquisadores) têm a possibilidade de acesso rápido (e sem custo) às obras fundamentais para a formação do conhecimento. Além disso, a Internet (pela sua diversidade, rapidez, interatividade e instantaneidade) contribui muito para a socialização do conhecimento. No entanto, a grande rede tem suscitado diversos debates (anos a fio) sobre sua capacidade de contribuir para a formação do pensamento, conhecimento e inteligência.

 

Em 20/09/2010, o diário Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com Nicholas Carr, sob o título "Internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitária, diz Nicholas Carr". Carr acaba de lançar o livro "The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains" (ou "O Raso: o que a Internet Está Fazendo como Nossos Cérebros"). A Folha de S. Paulo, no primeiro lide da entrevista, destaca que o autor manifesta preocupação com o poder que a Internet tem de distrair as pessoas, o que pode estar nos tornando estúpidos. O livro suscitará um bom debate. Vamos acompanhar. Mas é preciso não confundir, por exemplo, conhecimento com inteligência.

 

Pelo dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, conhecimento é o "ato e efeito de conhecer. 2. Informação ou noção adquirida pelo estudo ou pela experiência. 3. Consciência de si mesmo. [...]". Pelo dicionário Michaelis, conhecimento é o "ato ou efeito de conhecer. 2. Idéia, noção; informação, notícia. 3. Consciência da própria existência. 4. Ligação entre pessoas que têm algumas relações. [...]".

 

Assim, a Internet, entre outros meios digitais, contribui muito para o acesso (rápido) à informação e ao conhecimento do leitor digital. Mas isso tudo é apenas um passo para a pessoa adquirir outra faculdade (a mais importante) em direção ao sucesso na vida e ajudar o próximo: a inteligência ("Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto. 2. Compreensão, conhecimento profundo. 3. Pessoa de grande esfera intelectual. [...]"). Esse é o desafio que está ocupando especialistas em Educação no Brasil. Ou seja, fazer com que o brasileiro deixe de ser analfabeto funcional – a pessoa que lê textos, mas não consegue entendê-los e interpretá-los.

 

Em síntese, não se pode, por exemplo, fazer da Internet uma vilã para o aumento do número de analfabetos funcionais, pois estes já existiam antes da Rede Mundial de Computadores. O indivíduo que utiliza a técnica do copiar e colar (copy & past) na realização de seus trabalhos está enganando a si mesmo, mais do que ao próximo. É uma questão de educação e de caráter, que não depende das mídias digitais. Cabe aos professores e pais, entre outros cidadãos, fazer com que o leitor digital saiba tirar proveito eficiente da Internet, adquirindo conhecimento e desenvolvendo a inteligência.

 

Para finalizar, é importante que o leitor digital entenda a Internet como um grande banco de dados, onde o cidadão fará a busca e seleção (sistematizada, e de boas fontes) das informações que lhe interessam em determinado momento da vida. O importante, como por exemplo destacou o professor e escritor Mike Ward (1), é que na web há mais informações do que seria possível conseguir ler ou querer ler de outra forma. "Portanto, uma das primeiras coisas que se deve aprender é ser seletivo". O leitor digital pode sim adquirir conhecimento, mas com esforço, força de vontade e, sobretudo, honestidade consigo mesmo e com os outros.

 

Nota:

 

(1) WARD, Mike. Jornalismo Online? São Paulo: Editora Roca, 2007.

 

José Carlos Moutinho é jornalista.

 

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