Correio da Cidadania

O escândalo da pedofilia

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Está tendo ampla repercussão a divulgação de casos de pedofilia, envolvendo membros do clero da Igreja Católica. O assunto merece ser analisado com cuidado, para perceber com objetividade sua dimensão e distinguir os dados verdadeiros da exploração que deles se faz com o intento de denegrir a imagem da Igreja, universalizando para toda a instituição o que se constitui em erros pessoais, de todo condenáveis, mas que não podem ser imputados como se fossem de autoria de toda a Igreja.

 

Em primeiro lugar, a própria Igreja se antecipa em reconhecer e em confessar a gravidade da situação, admitindo inclusive que houve culpa por falta de vigilância em coibir abusos, permitindo que padres pedófilos continuassem exercendo o ministério, favorecendo assim a continuidade dos delitos.

 

Independentemente da quantidade de casos constatados, mesmo que fosse um só, merece a clara condenação de todos, e se praticado por algum membro do clero católico, o reconhecimento de quanto isto depõe contra a imagem da Igreja.

 

Em recente carta à Igreja da Irlanda, onde foram constatados diversos casos de pedofilia praticada por padres católicos, o Papa Bento 16 faz uma dura advertência à hierarquia da Igreja daquele país, para que redobre a vigilância e afaste do ministério todos os envolvidos na prática da pedofilia.

 

Se há uma conseqüência positiva, decorrente da discussão levantada no mundo inteiro em torno da pedofilia, é o crescimento da consciência da criminalidade dos atos de abusos sexuais praticados com crianças. Eles se constituem em crimes, que precisam ser denunciados e devem ser condenados, com responsabilização adequada de todos os que incorrem em alguma responsabilidade por seu cometimento.

 

As crianças têm o direito de serem preservadas das distorções sexuais dos adultos, sejam eles quem forem. Esta consciência da necessidade de preservar as crianças da maldade dos adultos precisa avançar muito mais. É toda a sociedade que precisa estar atenta para preservar a inocência das crianças. Nisto toda a sociedade tem culpa em cartório. Se fosse usado o mesmo rigor com que agora se aponta para os padres pedófilos, quantas situações precisariam ser denunciadas, nas famílias, na sociedade, sobretudo nos meios de comunicação social, onde não despertou ainda a consciência dos prejuízos causados às crianças pelas situações a que elas ficam expostas?

 

Mas no que se refere diretamente à pedofilia, seria muita hipocrisia achar que ela se limita aos casos praticados por padres católicos. Existe inclusive uma evidente campanha, levada adiante por pessoas interessadas em denegrir a imagem da Igreja Católica, que está se aproveitando desta situação para tornar ainda mais virulentas as acusações contra ela. Por isto, no Brasil não é nada de estranhar que uma conhecida rede de televisão se esmere agora em ampliar o que é sua razão de ser: acusar continuamente a Igreja Católica, usando para isto todos os meios de que dispõe.

 

Neste sentido, sem fazer dos números uma desculpa, é importante olhar os dados com objetividade. O professor Carlos Alberto di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.), traz a seguinte constatação: desde 1995, na Alemanha, houve 210.000 denúncias de abusos de pedofilia. Destas denúncias, só trezentas se referem a padres católicos. Isto é, só 0,2% do total. E por que só se insiste em falar da Igreja, tentando inclusive envolver o Papa, acusando-o de responsabilidade por ter aceitado um padre pedófilo na sua diocese, no tempo em que era arcebispo de Munique? Por que não se fala dos outros 99,98 por cento dos casos?

 

Se olhamos o clero do Brasil, em sua imensa maioria constituído de beneméritos ministros devotados à sua missão, com os limites humanos de que todos somos revestidos, a proporção é certamente parecida com a análise apresentada pelo Prof. Di Franco. Os raros casos de pedofilia constatados no clero brasileiro, por mais deploráveis que sejam, não justificam a hipócrita escandalização, levada em frente por meios de comunicação que trazem a evidente marca da tendenciosidade, que fica desmascarada à luz de qualquer dado objetivo.

 

A Igreja Católica está disposta a uma severa autocrítica de sua própria instituição, diante dos casos reais de pedofilia praticada por membros do seu clero. Ela aceita de bom grado os questionamentos objetivos que podem ser feitos pela sociedade. Mas ela dispensa a hipocrisia de quem generaliza as acusações, escondendo seus interesses escusos, e desvirtuando uma análise objetiva do problema da pedofilia.

 

D. Demetrio Valentini é bispo da diocese de Jales.

Website: http://www.diocesedejales.org.br/

 

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Comentários   

0 #5 Anuncia, mas não discute!Paulo Henrique 02-05-2010 22:29
Transformar a discussão em comparações numéricas não acrescenta nada ao tema. Só 0,2% já vele uma ampla e aprofundada discussão. Uma cobrança por uma fala oficial da Igreja é um avanço dos movimentos sociais.
Não sei não, mas isso me faz lembrar a discussão de qual ditadura foi a mais cruel, a que matou mais gente ou a que usou métodos mais severos. Vamos buscar a discussão sobre os 98% sugerido pelo autor.
Um abraço cordial, Paulo Henrique
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0 #4 a igrejaAndrea Barbara 29-04-2010 04:05
A pesar de tudo oq se fala da igreja e seus padres,estamos mexendo com seres humanos cheios de pecados diversos,acho q devemos pagar pelos nossos atos sim,mas temos q defender nossa igreja sim,tirem os culpados,pq uma celula ruim não pode e não tem o direito de estragar uma igreja linda e santa q e a catolica,Jesus nos deixou o exemplo e só seguir,por isso que os superiores desses padres doentes e vitimas, devem sair e deixar nossa igreja santa,pq eles não vão fugir da justiça divina,q Deus nos abençoe e a eles tbem.
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0 #3 O escândalo da pedofiliaBeatriz 13-04-2010 18:47
Trezentas crianças são muitas crianças, ainda mais se considerarmos a possibilidade de cada uma se tornar um agressor sexual quando adulto (não necessariamente).
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0 #2 Não é bem assim...Naaman Sousa de Figueiredo 12-04-2010 19:57
Tenho 61 anos e, desde que me entendo, aqui em Belém do Pará, sempre se soube de casos de pedofilia envolvendo padres dos colégios que, na época, eram apenas para o sexo masculino.
Nunca escutei nenhuma voz se levantar na imprensa para denunciar. As denúncias eram feitas em tom de escárnio para com os garotos estuprados e benevolentes com os garotos que comiam os padres homossexuais passivos.
De repente, mais ou menos 50 anos depois, vi começarem a pipocar as denúncias e a serem encobertas pela Igreja católica.
No artigo, mais uma vez, há a tentativa de acobertamento e justificativa do crimes dos padres.
Esses elementos tinham que ser levados a uma delegacia de polícia para serem fichados, como qualquer outro cidadão, e não receber tratamento privilegiado como o que tiveram e continuam tendo.
Até porque, no caso dos padres, deveria ser considerado agravante o fato de se aproveitarem da posição \"superior\" que a religião lhes confere para a consecução de um crime definido em qualquer Código Penal de qualquer país do mundo como um delito grave.
A expressão \"Em primeiro lugar, a própria Igreja se antecipa em reconhecer...\" não é a expressão da verdade, senhor bispo. O senhor, e todo mundo, sabe que o atual Papa, antes de ser eleito Papa, sempre soube que isso acontecia e procurou abafar e não punir os padres pedófilos.
\"A Igreja Católica está disposta a uma severa autocrítica de sua própria instituição, diante dos casos reais de pedofilia praticada por membros do seu clero. Ela aceita de bom grado os questionamentos objetivos que podem ser feitos pela sociedade.\"
Essa, pode ser a sua opinião, o seu ponto de vista, mas não é o mesmo da direção da sua Igreja, nem do sumo pontífice, e o senhor sabe disso.
Chamar de \"hipócrita escandalização\" as denúncias na imprensa é negar o que está escrito no início do artigo:
\"... o crescimento da consciência da criminalidade dos atos de abusos sexuais praticados com crianças. Eles se constituem em crimes, que precisam ser denunciados e devem ser condenados, com responsabilização adequada de todos os que incorrem em alguma responsabilidade por seu cometimento.\"
Vamos lá, vocês deviam estar batendo no peito, se cobrindo de cinzas e de joelhos, a gritar: \"Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa\", como ensinado nos vossos cânones. E não com a arrogância de se defenderem acusando outros, que foram condenados pelo mesmo crime.
\"... só trezentas se referem a padres católicos\". Sóóó trezentas, e isso só na Alemanha??!!
Desculpe a insistência, mas isto é tão somente o desabafo de um cidadão que procura não cometer delitos graves e não está suportando ver criminosos sendo tratados à margem das leis e, ainda arrogando-se o direito de ensinar aos povos o caminho do céu...
Minha Nossa!!!!!! Que o vosso deus (dos pedófilos) vos perdoe...
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0 #1 Marcelo 12-04-2010 11:15
Temos que analisar a resposta da sociedade considerando o contexto histórico em que vivemos. Existe uma crescente tendência de descrédito das instituições religiosas. Cada vez mais a ideia que a igreja é a porta-voz de Deus está sendo desafiada. O mesmo acontece com o proprio conceito de Deus. A igreja, antes acima do bem e do mal, passa a ser alvo de críticas. Como a igreja católica é uma das maiores religiões do mundo, passa a ser também uma das maiores "vidraças". Eu acho que estamos testemunhando o lento caminho de extinção das religiões.
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