Correio da Cidadania

As Sem Terra

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Do Incra não se havia inda clicado o ar refrigerado

Nem metrópole formiguejado o dia, no entanto

Tampouco esnobe de toga o sem-terracídio julgado

Quando as guerreiras, fibras deste solo, a brado e canto

À bandeira erguida em cores de sangue e verde maná

– "Latifúndio à vista, companheirada! É socializar!"

Adentravam cercas para o plantio do sadio ganha-vida

E resgatar a Terra adorada do devastador transnacional.

 

São Olgas por natureza, Rosas camponesas à lida

Agroecológicas militantes, viçosas, prenhes do Ideal

Orgânicas transformadoras de "sina" ao deus-dará

Em seus lenços e chapéus sob a soalheira agrária

– "Que Bolsa Família, que nada! Mãos são pra semear!"

Tão 8 de Março, poder do gênero, beleza revolucionária!

As insurgentes Sem Terra... conscientemente destemidas

A estender superação para as parceiras da luta operária.

 

E na florada de violas canoras e sanfonas gemidas

Hinos, serestas, rebolado , sedução...quentes e cheirosas

Estão elas! Elas, formosas mulheres do acampamento

– "Hum! Vêm, vamos campear um amor, companheiros!"

Brotando aos olhos, acasalando os sonhos... as amorosas

Namoradas do campo, na mística de encantamento

Na fertilidade dos beijos, à fartura de sorrisos prazenteiros

Para a colheita de grãos da poesia no social da terra – ah!

 

Elas, na vigília e na formação dos Sem Terrinha fagueiros

Preparando-os, filhos e filhas da luta pela Soberania Popular

Na liberdade criadora de seres humanos fraternos e felizes

Sem alcoolismo, tabagismo, preconceitos, estresse depressivo

No exercício da universidade da Vida, eternos aprendizes.

As autênticas e valorosas Sem Terra, com essência singular

Que, instadas ao senso crítico, encantadoramente exatas, no crivo:

– "Pra escandalizar a burguesia, nós não somos mercadoria; tá!"

 

Julio Cesar de Castro presta assessoria técnica em construção civil.

 

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Comentários   

0 #5 As Sem TerraMaria José Tauil 25-10-2008 09:12
Lendo "AS SEM TERRA", lembrei de Graciliano em Vidas Secas,
lembrei do bravo sertanejo de Os Sertões de Euclides da Cunha,
embora não haja similaridades. Sua temática delineia o perfil dessas mulheres, toca no nervo central de suas misérias, na vontade de possuir seu pedacinho de chão, para produzir e para criar os filhos. Retrata perfeitamente uma subfigura humana, vítima do fatalismo
de ser pobre num país de desiguais. Suas descrições são
precisas e líricas. No relato de acontecimentos reais, esbanja de neologismos, grande característica das suas criações.
Seu vocabulário é apropriado e bem criativo em mais um brilhante
texto.Parabéns!
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0 #4 Diego 23-10-2008 15:02
simplesmente demais, iniqualável obra essa, pois eu desconheço trabalho que retrate tão profundamente esse tema. Ótima abordagem e merecedora grande prestígio.
parabéns.
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0 #3 Muito obrigadaKathia Dias 22-10-2008 10:33
Lindo poema companheiro,
forte e belo, é uma compreensão de quem conhece e de quem já esteve nas veias de luta dessas mulheres.
Meu muito obrigada, pelas tantas mulheres sem terra.
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0 #2 mulheres camponesas do MSTHélio 21-10-2008 12:57
Elas são demais! E que versos maravilhosos. Fazia tempo que não lia nada tão lindo. - Parabéns às mulheres e ao autor. At. Hélio.
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0 #1 Sobre o PoemaRaymundo Araujo Filho 21-10-2008 10:03
Sem as mulheres, não haveria MST. Elas, com a sua fibra, capacidade organizativa e ímpeto revolucionário, foram e são a espinha dorsal do Movimento.

Uns fazem apenas política. Elas, as mulheres revolucionárias Sem Terra fazem política, amor, criam os filhos e ainda educam os homens com seus resquícios machistas.

Elas são as verdadeiras revolucionárias!
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