Correio da Cidadania

No vão do espelho quebrado a realidade pode ser vista?...

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“Não se entristeça com o fato de os outros não reconhecerem você. Preocupe-se, sim, em não poder reconhecer as outras pessoas”. (CONFÚCIO, Os Analectos, 1.16, tradução Giorgio Sinedino, 2012, Editora Unesp, p. 25)


1. REFERÊNCIAS PERDIDAS?...

Uma ex-colônia,
Quase uma ex-república
Que não consegue
Se tornar nação...

Uma tentativa de nação
Com mandatários
Que não são líderes,
A não ser de seus
Próprios interesses
De classe,
Está fadada
Ao fracasso
Centenário,
Quando se trata
De cuidar de
Seu povo?...

Quando o povo
Se der conta
Que não há
República
Nem mandatários
Nem poderes
Que possam existir
Sem que brotem
De suas próprias mãos;
A nação
Será construída
E a vida protegida?...

2. PENÚRIA

Na alma dói
O mundo...
O choro lava
A penúria,
Em qualquer lugar
Em que a vida
Recebe tratamento
Insignificante, indigno,
Injusto e desumano,
O mundo não passa
De um campo
De refugiados!

3. DESESPERANÇA

O trabalhador
Disserta sobre suas
Propriedades profissionais
E intelectuais...
Tantas coisas...
Ao final da entrevista
Perguntaram o que
Sabia fazer...
Ficou sem saber
O que dizer...
Tinham pressa
Em entrevistar
O próximo candidato
Que aguardava na fila
Do desemprego;
Pois a fila já dobrava quarteirão!
Isso é o progresso da nação
Tomando as ruas?...

4. TEMPO ACELERADO

Lendo Bertolt Brecht
Enquanto a tarde
Passava no descanso;
Alguns dormiam,
Na tarde chuvosa
Perdi o sono
E fui ler serenamente...
Me deparei com o
Tempo acelerado
Toda uma parafernália
De inteligência artificial
Que temos por aí...
Muita coisa mesmo
Aproxima, ajuda;
Só não podemos esquecer
Que seria um asco
Isto tudo sem
O gesto e o conforto
Cotidianos...
Que só nós humanos
Podemos criar e dar
Uns aos outros!

5. NA BEIRA DO CAMINHO

E agora que
A minha
Mão
Desliza
Palavras
Sem eco
Surge um
Silêncio
Ensurdecedor
Que me deixa
Calado...

Perco a voz...
Já não sei
Dizer
Nem o
Que pensar
Deste
Mundo...

Quase perco
O raciocínio...
Me contesto
No percurso
Me submeto
A mudar
De caminho
Nem que
Tenha que
Voltar
E chegar
Depois...

O importante
É que fui...
Não fiquei
Maltratando
O rumo
E cansando
Os passos
Na largada...
A chegada
Me esperava
Na beira
Do caminho...

6. DESEJOS

Por que o
Meu desejo
É um ato
Suspenso?...

Por que o
Que eu
Desejo
Pode ser
O oposto
Do que
Constato
Ou do que
Contesto?...

Por que
O que
Move
Meu
Desejo
Poderá
Mover
Minha
Ação?...

Por que
O que
Eu desejo
Pode ser
Maior
Ou mais
Que uma
Revolução?...

7. REAGIR

O subúrbio da indignação
Apelava para a minha
Consciência...
Sem reagir
Evaporamos na lama.

Surge um peso
Na vertebrada estrutura
Minha cabeça curva
Meu corpo padece
Já não vejo horizonte
Meu esconderijo
Não me liberta
Da opressão.

Preciso libertar
Minhas ideias
Humanizar meus atos
Escrever o futuro
Plantar rosas
Para a chegada
Da primavera
Exalar esperança!

8. ESTRANHOS LIGAMENTOS

Há no ar
Coisas
Que não
São vistas
A olho nu.

Às vezes
Sentimos
Sensações
Que nos
Rodeiam
Querendo
Nos revelar
Alguma coisa...

Há momentos
Que no ar
Ficam coisas
Misturadas,
Algumas
Expressivas
Outras não...

Há outras coisas
Que tomam
Forma e
Criam certos
Ligamentos
Coletivos
Que não
Podem ser
Controlados
Até se estabilizarem
Socialmente
Pelos indivíduos,
Ou não...

Mesmo com todo tipo
De controle,
Do uso da força,
Da violência
Mais estupida
E insana;
Até a agressividade
Mais desumana;
Ou a manipulação
Da vida
Como uma
Chicana;
Não há nada
Em certos
Momentos
Que controlem
Certos ligamentos...
Eles resistem
Como se tivessem
Vida própria
Ou ficado anos
Adormecidos!

Quanto mais
Se tenta impedi-los
Mais ele avançam
Movidos pelas
Circunstâncias
Históricas...
Ligamentos são
Fiozinhos da
Vida que vão
Sendo ligados
Em nossa existência
Pelo caminho
E ninguém tem
Controle absoluto
Sobre eles,
Porque ninguém
Pode conter
O que ainda
Não foi concebido
E que ainda pode
Nascer
Do fiapo da vida
Que guia a
Esperança!


Roberto Antonio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste.

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