Brasil do impedimento ou dos impedidos de tudo?
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- Roberto Antonio Deitos
- 13/04/2016
“Ulisses, chamando Telêmaco, o boieiro e o porqueiro, disse-lhes estas palavras aladas: ‘Removei agora daqui os cadáveres e ordenai às mulheres que vos ajudem; depois, lavem as magníficas poltronas e as mesas com água e esponjas de muitos olhos. Logo que toda a casa esteja em ordem, conduzi as escravas para fora da bem construída sala e, entre o pavilhão e o belo muro do pátio, feri-as com espadas de longo fio até que lhes arranqueis a vida e a memória daqueles prazeres que davam aos pretendentes, em suas uniões clandestinas’” (HOMERO, ODISSÉIA, 2003, p. 290 – poema épico da antiga Grécia, século VIII a. C.)
Quem acorda cedo e vê o sol nascer
Pode estar dormindo quando as estrelas brilham
Mas ambos veem estrelas.
Quem chora com as mães com filhos doentes?
Quem irá cuidar dos nossos doentes?
Quem aprova os orçamentos do país?
Quem elege os que votam por nós e contra nós?
Quem são os representantes do povo?
Quem pode impedir quem?
Quais interesses impedem outros interesses?
Quais são os interesses econômicos
Dos que se interessam em impedir
Os interesses dos outros?
Quem são os verdadeiros impedidos socialmente?
Aqueles que trabalham, produzem
O povo que sofre
O povo que que irá sofrer
O povo que continuará sofrendo
Impedido e desimpedido
Sempre perdendo em qualquer jogo oficial
Muitas vezes perdendo até mais
Quando as forças econômicas
Sempre manipulam suas carências
Vontades, psicologias e ideologias...
O povo, talvez, deita como num divã
Achando que está fazendo terapia
Mas na verdade é iludido e ilude a si próprio
Pode, muitas vezes, acordar tarde demais
Sempre numa fria sarjeta e abandonado
Como historicamente tem sido seu destino cruel.
Quem mais tem interesses impedidos?
São os trabalhadores, o povo.
Quem mais tem interesses desimpedidos?
O grande impedimento sempre foi
Quando poucos detêm quase tudo
E muitos farejam as migalhas
Que sobram por descuido dos seus algozes
Que controlam a economia, as forças militares e a política
A lei e os tribunais, os parlamentos e os chefes de estado.
Roberto Antônio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste.