Correio da Cidadania

Afinal, quem venceu?

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As eleições municipais de 2012, a rigor, não terminaram. Em 22 cidades com população acima de 200 mil habitantes, incluindo 8 capitais, haverá segundo turno. Apesar disso, a grande imprensa, num bloco uníssono, já proclamou o PSB como o grande vencedor das eleições, o que o cacifaria para apresentar candidato à presidência em 2014. Em outras palavras, não pregam prego sem estopa e, na coerente e inarredável meta de dividir a esquerda e isolar o PT, aproveitam qualquer oportunidade.

 

Convenhamos que é digno de admiração esse empenho do partido da grande mídia.

 

Numa retrospectiva geral, o PSB, o PDT, o PT e o PSOL cresceram. Ou seja, os partidos à esquerda aumentaram sua participação nos governos municipais. Alguns outros partidos menores, cujas características ideológicas e políticas nem sempre são suficientemente claras, também cresceram. Todos, à custa do decréscimo dos partidos de centro, como o PMDB, e de direita, como o PSDB e o DEM, este último havendo desabado em mais de 40%.

 

Assim, para grande desgosto de alguns extremistas de direita, o teatral julgamento do STF, como pensamos, praticamente teve influência nula sobre as eleições. As derrotas do PT em Recife, Vitória e Porto Alegre se deveram mais aos problemas e desacertos locais do próprio PT do que à capacidade de seus adversários. Já a participação do PT em São Paulo, Campinas, Fortaleza e Niterói, com candidaturas tidas como impossíveis de galgar o segundo turno, resultou do empenho de sua militância. O mesmo se pode dizer da reconquista de algumas cidades em que o PT já fora governo, como Angra dos Reis e Osasco, esta dada como perda inevitável por todos os analistas políticos.

 

A preocupação generalizada dos eleitores esteve voltada, e certamente se manterá no segundo turno, para as questões que poderíamos chamar de desenvolvimento econômico e urbano: infraestrutura de transportes, moradia, saúde, educação, saneamento, emprego, condições ambientais, esporte e lazer, não necessariamente nessa ordem. Além disso, parece haver um declínio considerável do prestígio dos políticos considerados velhos e enredados em chicanas e corrupções, aflorando um aparente e espontâneo desejo de substituí-los por políticos mais jovens, ainda não manchados por aqueles defeitos.

 

Na verdade, o partido da grande mídia desempenhou um papel importante na desmoralização da política, talvez se esquecendo de que estava manejando uma faca de dois gumes. A rigor, ela atingiu com muito mais força os partidos e políticos que apoiava, ao mesmo tempo em que beneficiou, paradoxalmente e apenas em certa medida, partidos à esquerda. De qualquer modo, talvez mais do que antes, a esquerda precise dar mais atenção a esses dois aspectos da percepção política atual e voltar-se com mais decisão para as questões de desenvolvimento econômico e urbano e para formação dos quadros novos.

 

As prefeituras, especialmente as das pequenas e médias cidades, não tratam do desenvolvimento econômico. Ou, quando tratam, o fazem atabalhoadamente. Não levam em conta as potencialidades e limites dos municípios e de seu entorno, e não combinam ações de industrialização com os devidos cuidados urbanísticos, ao meio ambiente e ao bem estar da população. Por exemplo, é difícil conhecer alguma cidade que tenha uma política definida de arborização de suas vias urbanas e de construção de espaços públicos arborizados para usufruto e lazer da população. Alguns, diante das dificuldades para realizar aquela combinação, preferem desistir de empreendimentos que geram empregos e riqueza para o município. Outros esperam passivamente que empreendimentos econômicos ideais caiam do céu, nada fazendo para atraí-los e instalá-los.

 

Em geral, pensam resolver os problemas de transportes, moradia, saúde, educação, saneamento, emprego, condições ambientais, esporte e lazer apenas com os repasses estaduais e nacionais, sem participarem da geração ativa de riqueza, que só pode ser efetivada, em grande escala, pela indústria e, em menor escala, pela agricultura. Serviços e comércio só colaboram efetivamente para a geração de riqueza em casos especialíssimos, como o de cidades que são centros de redistribuição logística, centros financeiros, centros turísticos ou centros de jogatina. Tirando isso, nas cidades sem indústria e sem forte agricultura no entorno, os serviços e o comércio funcionam apenas como distribuidores de mercadorias e canais de sucção das pequenas riquezas locais.

 

Nessas condições, no atual momento por que passa o Brasil, realizando um sério esforço para retomar sua industrialização e seu desenvolvimento econômico e social, e diante das demandas apresentadas pelo eleitorado, os novos governos municipais precisarão engajar-se também na tarefa do desenvolvimento econômico e urbano.

 

Paralelamente a isso, os partidos de esquerda precisarão rever seriamente seus processos de formação política, de modo a preparar as novas gerações de militantes como quadros capazes de enfrentar as disputas eleitorais, não só para as câmaras e governos municipais, mas também para as câmaras e governos estaduais e federais. Já que está imposto à esquerda disputar governos e poder segundo as regras de jogo estabelecidas pela própria burguesia, é preciso formar milhares de quadros capazes de combinarem uma profunda atividade social e política entre as camadas trabalhadoras, ajudando-as a organizar-se e mobilizar-se na conquista de direitos não atendidos e de novos direitos, com uma atividade institucional, parlamentar e governamental, que tenha como eixo o atendimento daqueles direitos e as reformas políticas indispensáveis à sua consolidação.

 

Em termos mais sumários, a esquerda precisa de quadros que sejam ao mesmo tempo tanto propagandistas, agitadores, organizadores e mobilizadores populares e democráticos, quanto estadistas a serviço do povo. Portanto, se alguém ganhou nessas eleições, foi a esquerda como um todo, embora tendo diante de si novos e maiores desafios.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Comentários   

0 #2 RE: Afinal, quem venceu?Nicholas Davies 13-10-2012 00:12
Acho estranho o autor mencionar a militância do PT em Niterói, pois o que mais vi foram centenas de pessoas visivelmente pagas para agitar bandeiras e cartazes do candidato do PT. O PT de hoje não é o PT dos anos 80, que funcionava à base de militantes. O PT de hoje é um partido como qualquer outro, que paga pessoas visivelmente pobres e/ou miseráveis para agitar bandeiras e cartazes pelas ruas.
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0 #1 PT da esquerda?Clovis Pacheco Filho 12-10-2012 11:31
Dividir as esquerdas? Que esquerdas? O ainda é esquerda? E o PSB? Já o foram, mas não são mais que partidos tradicionais à moda brasileira, com seus laivos esquerdistas demagógicos, mas puramente populistas. Se formos olhar só pelo nome, até o PSDB terá seu lastro dito "de esquerda"...
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