Correio da Cidadania

A questão industrial

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Embora, aqui e ali, alguns membros do governo e de seus partidos de sustentação, assim como alguns economistas, falem na necessidade de fortalecer a indústria brasileira, na verdade eles a tratam como mais uma das diversas questões econômicas do desenvolvimento e da ampliação do mercado interno. Mesmo o PT sequer a colocou, em seu último congresso, entre as questões de fundo da sociedade brasileira, quando ela deveria ser tomada como aquela capaz de puxar todas as demais.

 

A indústria ainda continua sendo o principal elemento de geração de riqueza. Todos os países que alcançaram altos níveis de emprego, mercados internos pujantes e redução da pobreza - e que desenvolveram alta capacidade científica e tecnológica e altos patamares educacionais – só o conseguiram com base na riqueza gerada pela indústria.

 

A atual crise dos países capitalistas desenvolvidos tem raiz, em grande medida, no processo de desindustrialização que esses países sofreram, em virtude da segmentação capitalista global, em busca de altas taxas de lucro. Seus governantes e seus povos também acreditaram que o mundo estava ingressando, com a nova revolução tecnológica, numa era pós-industrial.

 

Na verdade, a indústria mudou de localização. E, aqueles países que entenderam seu papel, emergiram muito rapidamente como potências econômicas, gerando riquezas que lhes permitem avançar na solução de seus problemas sociais e ambientais, além de escaparem da dependência a que estavam submetidos diante das antigas potências industriais. O que reduziu, em grande medida, o fluxo de riquezas para tais potências.

 

O agravamento dos problemas estruturais da desindustrialização das antigas potências capitalistas está levando-as a tentativas perigosas de estabelecer novos tipos de exploração dos países pouco industrializados, inclusive através de intervenção militar direta, como são os casos dos Estados Unidos, no Iraque, e da Inglaterra e França, na Líbia.

 

O tipo de relação que a União Européia está tentando impor aos países africanos, do Caribe e do Pacífico, através do Acordo de Coconut, também é um bom exemplo da tentativa de resolver os problemas de sua desindustrialização através de formas não-econômicas. Tudo isso recoloca, para os países não-industrializados e de industrialização incompleta, a questão de tomarem como prioridade, em seu caminho de desenvolvimento, a construção de indústrias fortes.

 

No caso do Brasil, tivemos um forte desenvolvimento industrial até os anos 1970, apesar das lacunas importantes que suas cadeias produtivas continuaram apresentando, a exemplo da fabricação de máquinas pesadas e de equipamentos e componentes eletrônicos. A maior parte de sua indústria estava em mãos de capitalistas privados, alguns de seus principais setores pertenciam a capitalistas privados estrangeiros, mas os capitais estatais tinham presença em algumas áreas estratégicas.

 

Os anos 1970 e 1980, que se seguiram às crises do petróleo, foram de relativa estagnação, enquanto os anos 1990 foram de destruição de grande parte do parque industrial. Especialmente indústrias de porte médio e pequeno foram fechadas e sucateadas, e inúmeras empresas estatais foram financeiramente saneadas para serem vendidas a preços irrisórios, principalmente para empresas estrangeiras. O Brasil sofreu uma grave reversão industrial e tecnológica, embora a luta democrática e popular tenha impedido a venda dos principais bancos estatais, da Petrobras e das empresas do grupo Eletrobras.

 

Essa situação começou a ser superada a partir do governo Lula, e continua durante o governo Dilma. Porém, esse processo de superação parece ter como defeito o fato de a industrialização não ser tomada como a questão central do desenvolvimento. Parecemos não ter consciência das cadeias produtivas e serem adensadas. E não parece estar na pauta da sociedade a construção de sistemas de parques industriais de alta tecnologia, que possam aproveitar plenamente as ciências e as tecnologias como as principais forças produtivas da atualidade.

 

A reconstrução e construção da infra-estrutura industrial parecem mover-se conforme os ventos dos interesses regionais e localizados. E certamente não temos uma política de atração de capitais externos que defina claramente os investimentos a serem estimulados, assim como aqueles que devem ser restringidos e proibidos.

 

Sem um processo firme de industrialização não construiremos um mercado interno forte, não conseguiremos promover o pleno emprego, não teremos recursos suficientes para liquidar a miséria, nem reduzir a pobreza e as desigualdades. É ilusão supor que, com uma indústria oligopolizada e cheia de lacunas, poderemos elevar nossa capacidade científica e tecnológica, universalizar a educação e dar solução aos demais problemas sociais e ambientais que ainda afligem a sociedade brasileira.

 

É verdade que os surtos históricos de industrialização brasileira do passado também tiveram como produto maléfico o aumento, num pólo, da concentração de renda e, no outro, da pobreza e da miséria. Mas, além disso, eeas resultaram na criação e fortalecimento da classe dos trabalhadores assalariados, cujas lutas foram essenciais para conquistas cumulativas de maiores direitos democráticos, conquistas que culminaram na criação do PT e nas eleições do primeiro presidente operário e da primeira presidenta.

 

Portanto, bem vistas as coisas, a industrialização deve ser vista não apenas como fundamental para a solução das questões econômicas e sociais e para um desenvolvimento inclusivo, mas também para novos avanços na democratização da sociedade e do Estado.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Comentários   

0 #1 RE: A questão industrialRaymundo Araujo Filh 23-09-2011 13:01
Poderia dizer que escrevo mais este comentário ao WP, por que "tive um sonho...", e passar a descrever que sonhei com WP implorando aos leitores do Correio da Cidadania, o mesmo que Collor tentou, e teve como resposta o início de seu impedimento.

Mas não foi isso não. Fico admirado que ninguém, nem para elogiar, se manifesta ao WP aqui no Correio, por quase e devo estar sonhando coisas que meu subconsciente impede que eu me lembre do que venho sonhando...
Mas, penso que este artigo poderia levar o nome de "Não tenho nada a ver com isso". Fico a pensar que outro motivo move o WP a escrever este artigo, senão o velho auto salvacionismo.
A impressão que tenho, é que WP usa o Correio da cidadania para emitir "palavras de ordem" para aqueles que chamo de ex Esquerda Corporation S.A., que pela boca torta pelo uso do cachimbo do Poder e seus cargos, salários e salamaleques, insistem em ficar dentro do governo e do PT, criando para isso mirabolações ideológicas e "planos de governo" inaudíveis por quem manda, sob os quais não têm a menos influência, senão a perspectiva de virem de Lulla "com roupagem de esquerda", para substituir o Hiper Realismo Neoliberal de DiLLma, mais realista que o Rei Posto, mas não morto.

Assim, WP perde o senso da realidade ao escrever que Lulla estancou as privatizações no país. Mentira! As privatizações continuaram em curso, inclusive na Petrobrás e suas “joint ventures” e políticas entreguistas com nosso petróleo, e do próprio BB, com sua diluição acionária em Wall Street e com preços de serviços dos mais caros ao correntista comum. Também é obra continuísta de Lulla a privatização com pedágios e sem contrapartidas de manutenção das Estradas Federais (foco de corrupção como é DNIT). DiLLma promete a privatização de 5 mil Km de estadas, para breve.

O Rede de Gaseodutos Brasileiro foi entregue para a sanha dos empresários, sendo a principal causa da praticamente desistência de Hugo Chávez em, participar da Refinaria Abreu e Liima, em Pernambuco, já com orçamento inicial triplicado, por obra de uma coisa chamada superfaturamento (kármico, ao que parece).

É com DiLLma que os aeroportos serão privatizados, aliás como queria o senador do DEM, Demóstenes torres, naquela primeira crise doa controladores de vôo. É com diLLma que a “retomada da indústria naval” não se ocupa de nacionalizar a navegação de cabotagem, como em qualquer país por aí.

Vem aí a Privatização das Administrações dos Hospitais Universitários em clara afronta à Comunidade Acadêmica, colocando o empresariado a comandar os destinos do país, também na saúde.

Carece de realidade esta afirmação de Wladimir Pomar no Correio da Cidadania. Peço um pouco de compostura ao bom debate, por parte do articulista. Ao menos isso.

Quanto “a retomada” da industrialização do Brasil, WP deve estar olhando os
Dados do ALÉM. Os dados do próprio governo apontam para uma crescente desaceleração da indústria nacional, “nunca d’antes neste país” ao menos desde Collor, FHC e Lulla (As Três Moscas do Apocalipse” (dizem que os Mosqueteiros eram 4, e para mim, as moscas são 4).
Achar que colaborar com a especulação com o Dólar, moeda procurada pelos ricos europeus, para se protegerem da crise, e dificultando, sem outras medidas, a importação de veículos, como se o Brasil possa depender desta indústria para se desenvolver, é piada de mau gosto.
DiLLma na ONU foi fazer papel de capacho, atacando apenas aquilo que não vai acontecer , que é o fim das armas nucleares. Devia é ter dito que o Brasil vai ter a sua, se não houver uma destruição em massas delas, por países como EUA, Israel, Índia, Rússia, China e pior quem mais a tiver. Isso seria um Ato Soberano.

D. DiLLma poderia ter ido à ONU dizer que o país, o Brasil, irá trilhar um caminho de seu desenvolvimento por outros paradigmas de desenvolvimento, não mais este que o país vem se integrando secularmente, o de fornecedor de matérias primas.

Mas isso, nada mais é, do que um sonho destes que eu possa estar tendo e o meu subconsciente não deixa eu me lembrar, pois ficaria meio jururu, já de manhã cedinho. Sábios são os mecanismos de defesa de nosso cérebro...

Já WP, lamento que tenha pedido o senso de realidade e que seus apoiadores tenham adotado a covardia como emblema.
A meu ver, WP pratica um Harakiri Autossalvacionista, com suas palavras de ordem que não ecoam em lugar algum, pois em vez de ser The Fool On the Hill, não passa de um Crazy On the Hill, se é que me faço entender. Esta fase (Eu Não Tenho Nada Com Isso Que Tá Aí!) , quem sabe, não poderia ser aproveitada para um bom quadro de humor de Bordão, genuínamente brasileiro, mostrando um pelego que, ao ver o governo que apoiou e defendeu com unhas e dentes, não empregar nenhum de seus amigos, passa a declarar “Eu Não Tenho Nada A ver Com Isso!”.
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