Os erros do já ganhou
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- Wladimir Pomar
- 26/07/2010
Parece predominar em diferentes áreas da campanha da candidatura Dilma, inclusive no PT, a suposição de que a disputa está ganha e a vitória eleitoral é certa. Afinal, Lula tem a aprovação de 85% da população, 10% são neutros e apenas 5% são contra. Como admitir que sua candidata não seja eleita?
Com base nisso, nos círculos aliados do PT discute-se não a campanha, mas a participação no próximo governo. Grupos de pressão, ou lobbies, formam-se por todos os cantos, na perspectiva de loteamento de cargos nas empresas estatais, ministérios e outras agências governamentais. Cria-se um ambiente de já ganhou, que é um caminho batido para a derrota, porque desarma a estratégia de campanha e abre campo para erros infantis.
Desde os tempos antigos sabe-se que a vitória não é resultado dos méritos do vencedor, mas dos erros do derrotado. Isto é válido tanto para a arte militar quanto para a arte política. E um dos principais erros que se pode cometer, ao ir para uma batalha, mesmo que eleitoral, é supor que a vitória está garantida, que o adversário usará as mesmas táticas de sempre e que, portanto, não será preciso um esforço extra para derrotá-lo.
Um exemplo recente, na área do futebol, tão cara para nós, foi o da Holanda no jogo contra o Uruguai. A Holanda entrou em campo supondo que o time uruguaio usaria as mesmas táticas de seus jogos anteriores. Onze entre cada dez analistas esportivos juravam de pés juntos que o Uruguai havia chegado às finais por um desses caprichos da sorte. Além disso, como mudara seis jogadores para aquela partida decisiva, isso deveria tê-lo enfraquecido ainda mais. Certeza absoluta de uma vitória acachapante da Holanda.
Pelo desempenho visto em campo, o time uruguaio deve ter estudado em detalhe o time holandês e seus pontos fortes e fracos. E entrou em campo com uma tática totalmente diferente, e uma disposição de luta de dar inveja aos brasileiros, que antes dos paraguaios haviam pensado ter o jogo ganho e o perderam de cabeça baixa. A Holanda teve que suar a camisa e só venceu porque os uruguaios, apesar de tudo, cometeram alguns erros fatais nas finalizações a gol.
Seria útil que o PT e seus aliados voltassem a assistir ao vídeo da partida entre Holanda e Uruguai, colocando-se na visão da Holanda, e aproveitassem as lições desse jogo para reorganizar sua campanha presidencial. Afinal, neste primeiro tempo de campanha, quando a maioria dos analistas considerava que a candidatura Dilma já deveria ter entrado numa curva firme de subida, ela continua empacada num inconfortável empate técnico, menos pelos acertos do adversário do que pelo que parecem ser fraquezas de sua campanha.
Se a campanha Dilma permitir que os lobbies do já ganhou continuem prosperando, isso certamente paralisará as atividades que são fundamentais em qualquer campanha eleitoral: o contato direto, diário, incansável, com as principais camadas populares do eleitorado. Se ela não subir os morros e não andar nas periferias das capitais e grandes cidades do país, não visitar as palafitas nordestinas e amazônicas, não for às aglomerações humanas do interior, ou seja, não fizer aquilo que Lula fez, e bem, em praticamente todas as campanhas em que participou, ela estará cometendo não apenas um erro tático.
É lógico que Dilma não é Lula. Mas, isso talvez não seja um argumento que reduza aquela necessidade. Ao contrário. Se ela pretende que haja uma transferência de peso da popularidade do presidente, terá de ampliar ainda em maior escala as atividades relacionadas com uma agenda de contatos diretos com o povão, aquilo que se costuma chamar de corpo a corpo. Para não cometer erros fatais, teria que reduzir os contatos com os lobbies do já ganhou para 5%, no máximo.
Além disso, a candidatura Dilma parece estar presa a uma agenda positiva inflexível. Isto é, não é um erro ter uma agenda positiva, na qual o centro consista em apresentar as propostas para continuar avançando nas políticas implementadas pelo governo Lula, em especial aquelas relacionadas com crescimento econômico, ampliação da infra-estrutura, redistribuição de renda, reformas na educação e na saúde, combate à corrupção etc. No entanto, ficar amarrada a isso não basta, pelo simples fato de que Serra e Marina estão dizendo a mesma coisa, e pelo fato de que há muitos problemas ainda não resolvidos.
Nessas condições, se a agenda positiva não tiver flexibilidade para enfrentar positivamente os problemas existentes, principalmente aqueles relacionados com a vida do povo, deixando-os sem proposta, nem firmeza positiva diante dos ataques dos adversários, deixando-os sem resposta, isso certamente terá reflexos negativos em segmentos consideráveis do eleitorado, porque os adversários estão com o mesmo discurso e acrescentando a ele a crítica a problemas não resolvidos.
Apresentar-se como continuação do presidente Lula pode ser positivo, mas talvez isto precise de algo mais para conquistar corações e mentes. Se não forem apresentadas propostas concretas para corrigir a política de juros altos, reduzir os tributos das pequenas e micro-empresas, melhorar a segurança pública, só para citar alguns exemplos, aquele diferencial pode ser insuficiente.
Se não houver empenho em mostrar que os problemas existentes são a herança dos governos anteriores a Lula, que a candidatura Marina não tem sentido, se ela pretende ser um papel carbono do governo Lula, e que os ataques terroristas da campanha Serra mostram sua verdadeira natureza política, só para citar alguns outros exemplos, aquele diferencial também será insuficiente.
Se a campanha Dilma continuar no segundo tempo na mesma linha do primeiro tempo, talvez tenha a mesma surpresa da seleção brasileira no enfrentamento com a Holanda. Até hoje os jogadores não sabem direito o que ocorreu.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Comentários
A senhora devia ter mais respeito com os derrotados. Minha vida política é repleta (acho que só) de derrotas.
Aliás, na história do Brasil, e do mundo, todas as minhas referências, estranhamente, tanbém são de gente que tinham o estigma da derrota, salvo raras exceções e em frugases momentos.
Poderia citar, assim de chofre, 100 nomes destes derrotados, mas que nos mostraram o caminho da verdade, da justiça e da compostura pessoal.
Alguns, terminaram a vida em masmorras, assassinados (com ou sem tortura prévia), pobres e despossuídos, desdentados, amofinhados, doentes e até loucos. Mas com um brilho no olhar resplandecente, coisa que eu não vejo nos olhos de gente que pensa como a senhora, todos extremamante Sampaku (a maldição dos olhos).
Minhas críticas ao que se passa hoje, um direito meu, afinal, são muito mais extensas e de profunda inspiração do que uma mera "inveja".
A senhora me lembrou as lacerdistas e correlatas, que aprendi a detestar, desde muito cedo, na minha infância em família progressista.
A sra. também me lembrou aquelas pessoas que compravam um DKW velho e colocavam o plástico no vidro traseiro "A Inveja é Uma Merda".
Sua candidata não passa de uma Wemaguete, mas que, desgovernada, fará um grande estrago no país.
Lambuse-se com a sua vitória e soberba.
O Brasil cor de rosa de Dilma não existe. E ela se esquivou de debater reformas urgentes para a sociedade. Acesso a terra, direitos humanos, memória da ditadura, reforma política,entre outros tantos temas.
1. a fazer o corpo a corpo com as massas
2. pautar a resolução dos problemas que de fato estão no cotidiano do povo
3. dará um corte ideológico á campanha em função do combate ao neoliberalismo/privatizações do PSDB.
Lula, para ganhar de Alkimin no segundo turno foi forçado a fazer isto. Uso o termo \"forçado\" porque de fato o PT na última década, infelizmente tem optado pelas campanhas que têm como centro a linha \"paz e amor\", \"agenda positiva\". Só têm recorrido aos três itens que falei abaixo só quando é literalmente forçado. De fato, não há grandes diferenças do ponto de vista do \"discurso de campanha\" entre Dilma, Serra e Marina. Todos querem continuar a obra de Lula. Agora, quando Dilma tentar dar uma inflexão em sua campanha pode ser tarde demais. Uma situação Wladimir, você tem que adimitir, é a seguinte: na venezuela, cada indivíduo sabe o seu lado: ou é a favor das mudanças implementadas por Chavez ou é contra. Na Bolívia é a mesma coisa. A diferença é que as ações governamentais estruturantes (de natureza democrática e popular)educaram politicamente o povo. Ou seja, é a propria correlação de forças que educa as massas. Já no Brasil, o projeto rebaixado de governo Lula não permitiu essa educação/processo. E agora as massas estão sendo disputadas pelo marketing eleitoral e pela mediocridade dos discursos de continuidade que confundem as massas. Enquanto isso, o debate de projetos concretos fica no terceiro plano. É este tipo de opção rebaixada e despolitizada feita pelo PT que contribui para o rebaixamento do nível de consciência das massas. Um atraso político. Isso você não pode negar. Até entendo o teu desespero. Também queria que estivéssemos com uma plataforma mais popular e com uma campanha mais orgãnica com as massas, mas predomina a \"agenda positiva\". A agenda positiva se constrói ás custas de declarações da candidata Dilma contra as \"ilegalidades\" do MST. Lamentável.
A generosidade dos editores é imensa com esta gente. Por isso critico estes, que abusam da boa vontade alheia.
Alto lá, camaradas! Tudo tem limites!
Se querem fazer dicurso interno pra a campanha oltica, que se dirijam aos meios e endereços róprios para isso. Aqui Não!
Fica o meu protesto!
Aí já é demais para a minha frágil e pobre sacoleta (com todo o respeito...).
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