Correio da Cidadania

A crise e o papel da China

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Diante da crise sistêmica internacional, a China enfrenta a ameaça de uma redução significativa de suas exportações, em especial para os Estados Unidos e a Europa, e uma possível redução dos investimentos estrangeiros diretos. Tudo isso pode, certamente, repercutir negativamente sobre a produção industrial chinesa.

 

Por outro lado, a China não corre perigo em relação à fuga de capitais de curto prazo, nem possui problemas de liquidez. Desde 2000, vinha adotando medidas no sentido de preparar-se para uma situação de crise e recessão mundial. Com 4 a 7 trilhões de dólares em poupança e reservas internacionais, suas três principais políticas consistiram em manter a estabilidade do yuan, promover empregos e aumentar o consumo doméstico.

 

Paralelamente, a China aumentou os esforços para elevar suas importações e para fazer com que suas corporações agilizassem investimentos no exterior. Em outras palavras, mais do que antes, a construção de um forte mercado interno tornou-se a questão central para a China preparar-se e enfrentar a quase certa crise, cujo foco deveria ser os países desenvolvidos.

 

Entre 2006 e 2008, ao mesmo tempo em que mantinham controle sobre as políticas monetária e fiscal, e sobre a liquidez do mercado, os chineses extinguiram suas taxas agrícolas, reduziram as taxas de crédito e de reserva bancária, ampliaram o sistema de crédito rural, decidiram universalizar os serviços públicos e passaram a investir pesadamente em infra-estrutura e meio ambiente.

 

Finalmente, para que não restassem dúvidas sobre suas ações e intenções, o governo chinês anunciou na última semana um pacote de 570 bilhões de dólares para investimentos na construção de moradias de baixo custo e na infra-estrutura rural; melhoria dos sistemas de proteção, captação e distribuição de água; ampliação da geração e transmissão de eletricidade; aumento dos sistemas de transporte; salto na proteção e recuperação do meio ambiente; incremento na inovação tecnológica; apoio às pequenas e médias empresas; racionalização das indústrias; e reconstrução, em novas bases, das regiões atingidas por desastres naturais, especialmente aquelas atingidas pelo terremoto de 12 de maio deste ano.

 

Adicionalmente, o governo chinês decidiu reformar as taxas do imposto de valor agregado, de modo a reduzir os tributos industriais em cerca de 120 bilhões de yuans, ou algo em torno de 20 bilhões de dólares.

 

Como esse dinheiro todo não se destina a socorrer bancos, o sistema financeiro internacional não ficou satisfeito e as bolsas continuaram voláteis, torrando boa parte do dinheiro fictício que giravam pelo mundo. Mesmo assim, não há dúvidas de que, com todas essas medidas, a China vai desempenhar um papel muito positivo para evitar que a crise sistêmica do capitalismo atinja profundamente, não apenas a ela, mas a muitos países em desenvolvimento.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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