Correio da Cidadania

Teorias sobre o socialismo

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Tomando como referência as teorias de O Capital, deduziremos que a sociedade capaz de substituir o capitalismo será fruto do desenvolvimento pleno do capital, não de seu desenvolvimento fraco, parcial ou desigual. Por isso, em certo momento, Marx supôs que a revolução, em alguns países capitalistas desenvolvidos, ajudaria os demais a não passarem pelos sofrimentos do capitalismo.

 

Depois, teve que voltar atrás, coerente com a teoria de que a dialética dos organismos sociais às vezes é atropelada pela dialética da história, antes de se desenvolver plenamente. E concluiu que a tendência intrínseca do capital, de tornar-se mundial, obrigaria o comunismo a também ser mundial, ou não existiria. Não viveu o suficiente para ver a comprovação de sua teoria de desenvolvimento do capital, nem para estudar o tortuoso processo de mundialização desse modo de produção.

 

Também não pôde conhecer as novas teorias do socialismo, surgidas dos desafios das revoluções e experimentos de sociedades socialistas, e das contra-revoluções do capital, que sacudiram o mundo, no século 20. E, menos ainda, ver a social-democracia e o socialismo revolucionário, as principais correntes socialistas desse período, chegarem a um auge, e despencaram em crise, antes do início do século 21.

 

Frente aos fracassos do socialismo soviético, dos experimentos heterodoxos da China e do Vietnã, agora começados a serem seguidos por Cuba, assim como da ofensiva neoliberal do capital, e da aparentemente paradoxal ampliação do círculo de democracias liberais (esta, prevista por Engels, numa de suas cartas a companheiros da social-democracia alemã), é natural que ressurjam antigas teorias, e surjam novas, a respeito da possibilidade ou impossibilidade do socialismo.

 

O socialismo utópico é uma delas. Seus fundadores supunham que, através da educação e do efeito demonstração do trabalho comunitário, seria possível convencer os capitalistas a não explorarem seus trabalhadores, e criar as condições para a transformação social. Para eles, a luta de classes pelo poder político não jogava papel positivo no processo de transformação.

 

Os novos utópicos, a partir dos aspectos negativos da experiência soviética, consideram que a interferência do Estado na economia e na vida social nada tem a ver com o socialismo. Supõem que lutar através do Estado é o mesmo que praticar um processo de autodestruição. Sendo uma parte do capital, o Estado não estaria em condições de enfrentá-lo.

 

Partindo desse pressuposto, propõem que os partidos e grupos socialistas construam, desde já, a prática socialista e, através dela, adotada por processos democráticos, constituam o fundamento para a elaboração da teoria socialista.

 

Não explicam como vão educar o Estado capitalista. Ou como seu socialismo, que poria à frente os seres humanos, e não as máquinas e o Estado, vai transformar o valor de troca em valor de uso naquelas sociedades em que as forças produtivas ainda são incapazes de atender a todas as necessidades sociais.

 

A revolução cultural chinesa, a maior tentativa massiva de construir um homem novo, numa situação de escassez, fracassou justamente porque o socialismo não pode vicejar na pobreza. Não por acaso, os chineses tiveram que voltar a Marx, e à sua tese de que o socialismo só pode evoluir a partir do pleno desenvolvimento das forças produtivas criadas pelo capital.

 

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

 

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Comentários   

0 #4 atençãoBetsaida 25-04-2010 20:25
esse artigo fala mais sobre o capitalismo do que o socialismo
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0 #3 Gabriel Martinez 22-10-2008 15:09
Na questão da China, muitos se esquecem de refletir sobre o básico - que resulta na diferença entre China e outros países capitalistas. O poder político é do Partido Comunista. Isso não quer dizer nada? Não é o que a história está mostrando.
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0 #2 Socialismo e determinismoCesar Rocha 18-08-2008 12:36
Êta determinismo... e evocações as surradas récitas do mantra marxiano! Wladimir, a crer nessa linha de argumentação, sabe quando o capitalismo tornar-se-á socialismo? Nunca.Desde o pós-Crise de 1929, o capitalismo assumiu uma racionalidade teleológica, a despeito de crises cíclicas, em seu projeto de acumulação e concentração da riqueza. Não é gratuíto que desde a muitos vemos minguar um \"pensamento econômico marxista\"... De modo que, creio eu que o advento do socialismo será a expressão da \"vontade\" política de um povo em sociedade e não de seus \"líderes vanguardeiros\", postos serem vonlutaristas, traiçoeiros, ao correr da história, não sabem o QUE FAZER, daí o retorno à lógica do Capital. Vide a NEP do Lênin... Assim o socialismo não será o ápice do denvolvimento capitalista (Marx) e muito menos obra da vanguarda (Lênin). Nesta quadra da história o que falta à militância (ativista)de esquerda é ser orgânica! Assumir a missão educadora quanto aos ideais socialista. Resgatar o \"iluminismo\" aprisionado ao projeto triunfante da burguesia. Afinal o que foi Marx, senão o rebente rebelde do Iluminismo, tardio. Quanto a efetividade histórica, aí é outra história. Por fim, sejamos realista: o advento do socialismo é uma crença (convicção) de todos nós que imaginamos socialista, não será fruto da história do Capitalismo. Mas contrução histórica dos povos.
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0 #1 El pan y el sueñoAlberto Nogueira 14-08-2008 14:31
Esforço-me para não ler teu artigo como se fosse uma versão do fim da história”. Como definir “o desenvolvimento pleno do capital"? Entendo que o socialismo não pode ser visto numa perspectiva de desenvolvimento das forças produtivas inferior à capitalista. Mas vejo a palavra "pleno" como uma invasora indevida em teu texto. Pablo Neruda cunhou uma expressão que resume a forma como entendo a possibilidade de transição: "Hay que compartir el pan y el sueño".Por fim, esforço-me mas não consigo entender a ultima frase do artigo. Quer dizer que os chineses voltaram a Marx para construir isso que é hoje a China? Se é assim, então posso depreender que o governo Lula, ruma para o socialismo, já que está desenvolvendo tanto quanto pode as forças produtivas nos marcos mais fiéis do capitalismo.
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