Sem trégua

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Wladimir Pomar
11/01/2008

 

 

Diante de uma oposição que não dá trégua, e da necessidade imperiosa de realizar o crescimento com redistribuição de renda, os petistas e o governo confrontam-se com problemas teóricos e práticos de certa extensão. A começar pelo fato de que não governam o Estado, mas apenas uma pequena parcela dele.

 

Depois, eles se batem contra a ausência de grandes mobilizações sociais. Estas é que trazem à tona, em geral, e com vigor, os problemas estruturais mais prementes. E são elas que realmente empurrem as forças políticas para encontrar soluções que correspondam às expectativas e necessidades da maioria do povo brasileiro.

 

Esta maioria, por seu lado, ainda parece crer, firmemente, que basta brandir o instrumento do voto para que as forças políticas se sintam pressionadas a apoiar as medidas de cunho popular pretendidas pelo governo. O que leva o PT e o governo a se confrontarem, ainda, com as dificuldades para entender, realizar e explicar as mediações táticas que a desmobilização social lhes impõe, às vezes resvalando por caminhos que parecem levá-los para o lado oposto de sua meta.

 

A situação é de tal ordem que até algo tão democrático quanto os referendos populares e a eleição de uma Assembléia Constituinte tem sido adjetivado de imprudente, aventureiro e populista. A soberania popular está sendo empurrada para o limbo, colocando setores consideráveis do governo e da esquerda na defensiva.

 

Em outras palavras, a oposição, encastelada nos outros poderes do Estado, e também em parte infiltrada no próprio governo, não aceita qualquer forma democrática de luta transformadora, nem medidas que possam colocar em risco sua secular dominação. Tomemos como exemplo a decisão de acelerar o crescimento econômico. Em teoria, a aceleração do crescimento é possível com qualquer rearranjo que se faça no pacto entre os capitais estatais e os capitais privados. A redistribuição da renda, porém, mesmo de forma administrativa e compensatória, depende, e muito, do tipo de arranjo que for pactuado.

 

Portanto, permitir que o governo Lula realize, ao mesmo tempo, o crescimento e a redistribuição de renda, mesmo que beneficiando-se do crescimento, é impensável para vastos setores das classes dominantes. Não só porque podem perder parte de seus lucros presumidos, mas principalmente porque a redistribuição de renda pode fortalecer a base social e política do PT, abrindo condições para um possível fortalecimento desse partido no governo.

 

Num quadro como esse, a tentativa de paralisar o governo vai ocorrer em todos os campos: CPMF, carga tributária, nomeações para postos governamentais e nas estatais, privilégios na produção do biodiesel, para as grandes unidades agroindustriais, em detrimento da economia familiar, e por aí afora. Por mais que o governo Lula faça concessões, a opositores e aliados de ocasião, quase certamente não terá tréguas até 2010. É ver para crer.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

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