Correio da Cidadania

Economia no centro da eleição de 2012 dos Estados Unidos

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Com a atenção voltada para o pleito presidencial de 2012, republicanos e democratas tiveram severos embates entre si no Congresso por causa da composição do orçamento. Em um parlamento momentaneamente transformado em coliseu, as massas, ou seja, os eleitores, não desfrutaram de frenesi algum ao longo da contenda entre os dois grandes partidos, uma vez que seriam eles, ao final das contas, os maiores sacrificados.

 

O debate principal residiu na eventual autorização ao Executivo para ampliar seu limite de endividamento. Embora despesas sociais tenham sido invocadas para justificar o alargamento da dívida, como as da área de saúde, o objetivo real foi o de manter os gastos militares nos mesmos patamares. Satisfeito o intento, o andamento do governo Obama ajuda parcialmente a explicar a guinada ainda mais conservadora dos republicanos.    

 

Até o momento, destacam-se entre os aspirantes do Partido Republicano à presidência da República nomes próximos da visão de mundo chazeira, isto é, de uma perspectiva reacionária. O mais significativo deles é o atual governador do Texas, Rick Perry, de tendência democrata até o fim dos anos 80. Eleito três vezes, ele foi o vice de George Bush, no mesmo cargo, entre 1998 e 2000.

 

Despontam também entre outros a deputada de Minnesota, Michele Bachmann, ela mesma da ala do chá, e o ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, visto pelos democratas como o oponente mais preocupante, por ser da ala liberal republicana em termos sociais, ainda que também conservador religiosa e economicamente.

 

Perry agrada, ao mesmo tempo, o segmento religioso – próximo às vezes do fundamentalismo cristão - e o neoliberal, ao advogar redução expressiva de impostos, o que, na prática, beneficia apenas um estreito segmento da sociedade norte-americana. Além do mais, é firme defensor da pena de morte e opositor da centralização administrativa de Washington – menor que a de Brasília.

 

Outrossim, Perry encarnaria aos olhos do eleitorado o exemplo do self-made man e, portanto, do sonho americano. De classe média baixa, galgou o posto mais alto de seu estado, após breve passagem pelo oficialato da Aeronáutica. Casado há praticamente três décadas, ele busca representar o ideal da típica família norte-americana – não constam registros até o momento de escândalos, como infidelidade.

 

A sobrelevação do conservadorismo entre os republicanos deriva da sobrevivência de suas linhas-mestras na presente administração; assim, com o objetivo de destacar-se da situação, eles deslocam-se ainda mais para a direita – fenômeno similar à boa parte da América do Sul. No caso norte-americano, há uma diferença: a possibilidade de êxito eleitoral por conta da persistência dos efeitos da crise econômica do final de 2008.

 

Enquanto isso, os debates sobre a continuidade dos confrontos asiáticos perdem o viço. No Afeganistão, a coligação norte-atlântica parece já satisfazer-se com o controle de poucas áreas e com a aplicação de incursões aéreas não tripuladas punitivas à região, Paquistão incluído; no Iraque, a estável cotação internacional do petróleo nos últimos meses favorece a perspectiva de que as tropas estadunidenses ainda são importantes para a recomposição do país.

 

Não figuram mais no cerne das discussões sobre a política externa norte-americana o elevado número de mortes de civis afegãos e iraquianos, com famílias desestruturadas; o constante bombardeamento dos dois territórios, com solapamento das tentativas de recuperar minimamente a infra-estrutura; e a insuflação da violência local, com ataques de retaliação destinados de modo indistinto à população.    

 

Lamentavelmente, os conflitos incorporaram-se à rotina administrativa do governo estadunidense, ao se tornarem nas mãos dos tecnocratas meras rubricas orçamentárias. Sem a recuperação econômica, Barack Obama poderá vivenciar uma fragilidade política que de maneira similar lhe valeu a vitória há três anos. Por sorte, falta ainda a seus adversários definir a forma adequada de explorá-la.       

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

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