Correio da Cidadania

Estados Unidos: o pêndulo da atuação militar

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Said Khatib/AFP /Getty Images

Embora não seja inédito nas eleições presidenciais norte-americanas, não é comum uma disputa na qual haja um presidente e um ex. No pleito de 1912, os republicanos cindiram-se de maneira que houve a candidatura de Howard Taft pela própria agremiação, dado ser o titular da Casa Branca, e a de Ted Roosevelt, pelo Partido Progressista.

Com a divisão adversária, os democratas com Woodrow Wilson, ex-reitor de Princeton, ganhariam a disputa com facilidade no restrito Colégio Eleitoral. De modo surpreendente, Taft terminaria em terceiro lugar. O Partido Socialista indicaria Eugene Debs, expressivo representante sindical do movimento ferroviário, o qual receberia da população mais de 900 mil votos, equivalente a 6% do total de votantes.

Em 2024, seriam a princípio postulantes à Casa Branca Joe Biden, democrata, e Donald Trump, republicano, duas lideranças nascidas antes do irromper da Guerra Fria (1947). Ambos se formariam sob a perspectiva da primazia inexcedível da pátria no planeta, a despeito da ocorrência de movimentações revolucionárias durante a rivalidade bipolar.

Com a derrocada da União Soviética na transição dos anos 80 para os 90, a percepção da hegemonia aparentava consolidar-se, uma vez que nenhuma nação de porte afrontaria de frente os desígnios de Washington oriundos da democracia neoliberal.

A primeira e única ofensiva a terras norte-americanas na nova ordem global chocaria o mundo, ao ser efetuada em setembro de 2001 não por país, mas por organização terrorista integrista situada no Afeganistão, outrora seu aliado no embate contra o comunismo russo.

A reação da Casa Branca à agressão viria de forma imediata, ao atacar dias depois o território afegão com o propósito de capturar ou de eliminar formuladores e organizadores da investida contra Nova York e Washington e defenestrar o governo fundamentalista sob comando dos talibãs.

A ocupação do Afeganistão se somaria à do Iraque em pouco tempo e em ambas Washington se desgastaria bastante, ao descumprir objetivos anunciados à opinião pública como os de auxiliar a implementação de regimes democráticos em Cabul e em Bagdá ou de minar a força de agremiações fundamentalistas. Enfim, duas intervenções em vão aos olhos da elite americana.

De lá para cá, Washington sem dúvida acautelou-se e destarte evita transformar desavenças em disputas militares diretas, mesmo com as de alto grau de ameaça a sua segurança como são considerados os exemplos de Teerã e de Pionguiangue.

Todavia, isso não impede o envolvimento dos Estados Unidos com nações estimadas como aliadas de primeira linha como Israel ou Ucrânia. A um ano do pleito maior do país, nenhum aspirante à Casa Branca pode aparentar fraqueza ou hesitação em temas de política externa, ainda que a intensidade do apoio possa ser objeto de críticas em organismos internacionais.

Em 2016, republicanos criticaram democratas pelo andamento de duas guerras sem possibilidade de vitória, malgrado as duas tenham sido iniciadas na época de George Bush. Em 2020, sem participar de nenhuma peleja, o tópico militar diluiu-se em outros de maior relevância como o da pandemia do vírus corona.

Em 2024, voltará a questão bélica ao palco principal, porém, possivelmente com abordagem distinta da de oito anos atrás: não será a retirada de contingentes o ponto de cobrança, mas o de relacionamento com as duas confrontações caso elas se estendam até o processo eleitoral.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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