Correio da Cidadania

Estados Unidos: a repetição da tática para afligir a Rússia

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Inaugural Address by President Joseph R. Biden, Jr. | The White House
Na década de 80, os Estados Unidos (EUA) tiveram três administrações presidenciais consecutivas sob rubrica republicana: duas vezes seguidas com Ronald Reagan e uma com George Bush, sr., vice nos dois mandatos predecessores.

Em menos de dez anos, a população norte-americana observaria no início o ingresso do país em conflito de reduzida duração, o de Granada em outubro de 1983, e no fim a derrocada gradativa da União Soviética (URSS), a maior adversária na Guerra Fria, até sua extinção em dezembro de 1991.

Se consideradas as extremidades temporais daquela época, houve a conexão militar da Casa Branca com dois episódios: no começo daquele decênio, a participação indireta via patrocínio de agremiações políticas no ultramar sob justificativa do anticomunismo em diversas regiões do antigo Terceiro Mundo.

No encerramento da fase decenal, a direta, com o envio em torno de 700 mil efetivos próprios ao Oriente Médio com a finalidade de expulsar contingentes do Iraque estacionados sem autorização multilateral no Cuaite.

Lá, o governo estadunidense iria liderar uma coligação sob autorização da Organização das Nações Unidas (ONU) com mais de 30 países – o confronto entre divisões onusianas e iraquianas seria conhecido como Primeira Guerra do Golfo (1990-1991).

Inseguro após o malogro da longa confrontação em solo vietnamita nos anos 60 e 70, Washington se movimentaria nos anos posteriores de dois modos: o primeiro se relacionaria com a invasão com suas próprias tropas a Granada, pequena ilha situada no Caribe, sob justificativa de contenção do comunismo.

O segundo seria o mecenato ideológico a grupos ao redor do mundo com atividade armada como os contras na Nicarágua, os unitenses em Angola, os talibãs no Afeganistão e os renamistas em Moçambique, entre outras frentes partidárias antagonistas a diretrizes oriundas de Moscou no último período da disputa bipolar.

O financiamento estadunidense visava fustigar a contribuição russa a movimentos de emancipação colonial ou de autonomia nacional. A solidariedade ideológica durante a rivalidade amero-soviética afluía no apoio bélico.

Sem envolvimento de seus militares em combates duradouros, a Casa Branca, ao direcionar armas e auxílio financeiro à insurgência antiesquerdista, atordoava o Kremlin, ele mesmo já atarantado com seus problemas internos devido à ineficiência econômica e ao enrijecimento político.

Apesar do duplo êxito dos anos 80, os Estados Unidos só na década seguinte se arriscariam a deslocar grandes contingentes fora do próprio território; o fluxo castrense ultramar seria desacelerado depois de dois fracassos, Iraque e Afeganistão, por Barack Obama.

Conquanto a decisão tenha sido mantida até o presente, Joe Biden começou movimentação distinta no ano passado, ao embalar o país na Guerra da Ucrânia com provimento contínuo de armamentos, porém de maneira acautelada não de soldados ao leste europeu.

De novo, o objetivo de Washington é o de desgastar momento por momento Moscou. Como se fosse uma revivescência do período bipolar, embora de modo agudo, a Casa Branca busca corroer de forma oblíqua o Kremlin no limite de suas fronteiras.

Há cerca de quarenta anos, a tática contribuiu para o desmoronamento soviético na transição da década de 80 para a de 90; hoje, a ação é bastante temerária, por situar-se geograficamente próxima da Rússia e soar, assim, como afronta de monta.

Por outro lado, o propósito norte-americano aparenta ser mais modesto nos dias atuais, ao contentar-se com a substituição de Vladimir Putin por dirigente mais inclinado a laços estreitos com o Ocidente.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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