Correio da Cidadania

Estados Unidos: a direita com rótulo diferente

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Por que Democratas são representados por burros e Republicanos por  elefantes?
Elefante e burro, símbolos associados a Republicanos e Democratas, respectivamente.

A política norte-americana situa-se cada vez mais à direita, em especial entre os adeptos republicanos. Nenhuma das duas grandes agremiações se dispõe a frear o deslocamento, ainda que uns considerem, posto que equivocados, os democratas localizados à esquerda.
Isso seria possível se fosse observado o posicionamento republicano, hoje de maneira predominante de ultradireita, como se fosse apenas de centro-direita. Todavia, análise além da superfície do contexto estadunidense esvai a avaliação.

Como exemplo do enfraquecimento de sociedade com perfil supostamente socialdemocrata, basta evocar os índices oficiais de desigualdade no século 21 - https://www.federalreserve.gov/releases/z1/dataviz/dfa/distribute/chart/#range:2006.4,2022.3;quarter:129;series:Net%20worth;demographic:networth;population:all;units:levels.

É concebível vislumbrar um e outro parlamentar na esfera progressista, porém a maioria do partido, representada na Casa Branca, distancia-se da prática, conquanto se valha de discursos constantes nesse rumo. A postura não é inédita, nem única, uma vez que se repete ao redor do mundo como em países da América do Sul.

Siglas constituídas na Guerra Fria, onde predominava a rivalidade bipolar, ou mesmo antes já não representam a realidade da posição das direções partidárias atuais, desejosas de se instalar no poder – quer executivo, quer legislativo - ou nele se conservar.

Destarte, não se importam as lideranças com o caráter das alianças eleitorais, alicerçado na manutenção do status quo econômico e, portanto, desfavorável à parcela mais desapercebida da população. Na retórica a votantes, maquila-se a característica conservadora.

Após o fim da discórdia amero-soviética, parcela da antiga esquerda anunciar-se-ia como Terceira Via, uma amálgama em tese de virtudes do capitalismo e do socialismo; no entanto, seria o modo disfarçado de aderir ao ideário de direita – o neoliberalismo - embora não de forma total ou com ritmo menos acelerado como nos Estados Unidos democratas, no Brasil socialdemocrata ou na Grã-Bretanha trabalhista durante a década de 90.

Pouco depois, a ultradireita se consolidaria como neoconservadora à feição norte-americana. O dístico de via alternativa ou de equilíbrio se esboroaria, em decorrência da insuficiência de resultados sociais positivos.

Entre o final dos anos 90 e o início dos do corrente milênio, expectativas de reação estruturada ao pêndulo deslocado à direita adviriam; citem-se a França do socialismo, o Brasil do trabalhismo ou a Venezuela do bolivarianismo. Nenhuma delas iria no seu ápice abalar a base do capitalismo neoliberal; no máximo, sacudi-lo de modo efêmero, ao reduzir de maneira modesta a desigualdade de renda.

Contudo, o invólucro da direita conservadora modifica-se em roda viva, ou seja, sem pausa. Nos últimos anos, ela embala-se sob o rótulo do populismo republicano em solo estadunidense, ao misturar nacionalismo em função da decepção com as consequências econômicas da globalização e, ao mesmo tempo, intolerância com seus contraditores, já não considerados meros opositores, porém inimigos viscerais.

Assim, equipara-se a arena política a campo de batalha, onde a intimidação – virtual ou física – se torna frequente, de sorte que até invasão a um símbolo maior do país como o Capitólio tenha ocorrido em janeiro de 2021. Com revestimento populista, os republicanos propõem-se a voltar em 2024 à Casa Branca. Aguarde-se o contraponto dos democratas.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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