Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: recuo para possível trégua

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De maneira temporária, os Estados Unidos centram-se na denominada eleição do meio do mandato, momento em que republicanos, opositores, e democratas digladiam-se pelo estreito controle das duas casas parlamentares. O desfecho do pleito influenciará os rumos da acirrada disputa de Washington em 2024.

Na Câmara dos Deputados, os azuis detêm 220 de 435 assentos totais enquanto no Senado 48 dos 100, embora possam contar de modo esporádico com o apoio de dois independentes, um dos quais sendo o veterano Bernie Sanders.

A aguardada gigantesca onda vermelha alardeada durante semanas parece não ter abarcado o eleitorado, porque manteve-se predominância democrata em uma casa, a senatorial, ao passo que republicana na outra.

Nos próximos dias, a atenção de Washington deverá retornar a suas atividades correntes; nas externas, uma delas refere-se ao fornecimento do auxílio militar a Kiev, fator de contenção de Moscou sobre seu território ao ponto de provocar, de forma surpreendente, o recuo dos seus contingentes de parte do país invadido como Kherson, única capital conquistada no início da investida – milhares teriam tombado nos confrontos pelo controle da área.

A retirada das tropas do Kremlin tem sido interpretada de maneira distinta: da insuficiência da capacidade de combate constante ao preparo de contra-ataque de porte maior, ao afastar as unidades ucranianas das linhas de abastecimento imediatas.

No deslocamento, as forças armadas adversárias destruíram pontes, de modo que dificultasse o andamento dos efetivos kievitas. Segundo Mariyinsky, a devastação incluiria também o restante da infraestrutura da localidade, de sorte que os habitantes se encontram sem acesso à água potável e energia elétrica.

Apesar do êxito castrense do aliado euro-oriental, dado que os Estados Unidos (EUA) por nada deste mundo gostariam de uma vitória da Rússia, os norte-americanos sentem os custos – humanitários, políticos e econômicos - da confrontação.

Diante disso, acenam eles de forma pública com a necessidade da recuperação de tratativas de paz, de preferência sob patrocínio multilateral como o da União Europeia (UE) ou quiçá o da Organização das Nações Unidas (ONU), ou no mínimo do estabelecimento de cessar-fogo.

O desejo do ingresso da diplomacia ao invés da permanência das forças armadas deriva de iminente preocupação, ao ter em conta o horizonte invernal do continente europeu dentro de dias: o provimento sustentado de energia à Ucrânia, em decorrência do controle da Rússia das usinas locais e da assolação depois de meses de combates, e outrossim de países, mesmos os afluentes, como Alemanha, bem dependente do suprimento de gás do leste.

No momento, a proposição da Casa Branca, ainda que oficiosa, é oportuna ao Kremlin, visto que o revés em Kherson desagradou até o segmento nacionalista, mais próximo do governo. A região é uma das quatro incorporadas por referendo em setembro.

Assim, na perspectiva desse setor, a chegada de tropas ucranianas lá não representaria a retomada de seu território, mas sim indevida incursão a terras russas, de forma que a reação esperada de Moscou teria de ser incisiva.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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