Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: pressão sobre o Kremlin

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Graças ao auxílio de Estados Unidos, o principal contribuinte, França, Grã-Bretanha, Alemanha e Polônia, a Ucrânia tem resistido à invasão da Rússia. Sem oficializar ainda a investida como guerra, o Kremlin recorre no momento à convocação de centenas de milhares de reservistas, a maioria dos quais provavelmente desanimada com um conflito de duração incerta e de resultado imprevisível diante da contraofensiva.

Nos últimos dias, cenas de redes televisivas mostraram filas de carros nas fronteiras em direção a países como Armênia ou Mongólia com ocupantes desejosos por suposto de evadir-se ao alistamento.

A mobilização dos contingentes de reserva expressa duas visões sintéticas: a pessimista refere-se ao reconhecimento de que a confrontação será de fato longa, devido à nova robustez adversária, ao passo que a otimista se relaciona com o poderio à disposição do governo, dado o número de efetivos a ser reintegrado nos próximos meses às divisões em combate e a necessária logística para poder acolhê-los.

De maneira paralela, Moscou anexou as regiões conquistadas a datar de fevereiro, duas em essência, de sorte que Kiev se tentar retomá-las, estaria ela a cometer a agressão. Destarte, a possibilidade de pequenos países emergentes como zona tampão entre os dois rivais parece projeto abandonado de modo definitivo.

A valiosa ajuda dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à nação agredida surpreendeu a opositora, em face da escala e da sofisticação dos equipamentos – emprego corrente de drones é um exemplo de eficiência contra o carnífice. A dúvida é caso se consolide a incorporação dos territórios à bandeira da Rússia qual seria o comportamento dos governos colaboradores da Ucrânia no tocante ao encaminhamento de armamentos.

Caso ela deseje retomá-los, o suprimento externo de armas poderia ser interrompido, posta a possibilidade de ampliar-se a disputa e atingir o continente; se ela aceitasse a perda territorial, o envio seria mantido, desde que estocadas para preservar o restante da sua soberania.

No entanto, depois das absorções recentes, embora não subscritas pela sociedade internacional, se Moscou cessasse os ataques e recuasse suas unidades, quais expectativas Kiev poderia ter em função da suspensão das manobras bélicas?

O Kremlin trata a arremetida em andamento como operação especial, voltada, entre outras justificativas alardeadas nos sete meses de contenda, à eliminação da extrema direita vizinha; países otanianos, contudo, não abrigaram nem o argumento aludido, nem posteriores, como a substituição do presidente local, Volodymyr Zelensky, e passaram a auxiliar a nação, em decorrência do desrespeito à independência ucraniana.

De toda forma, Moscou assiste à inquietação da própria população, ciosa de sua segurança e da sua qualidade de vida. O isolamento político e econômico da administração de Vladimir Putin tem consequências desabonadoras ao cotidiano como inflação - acima de dois dígitos - desabastecimento, risco significativo de morte aos integrantes das forças armadas em solo estrangeiro, entre outras preocupações - https://www.reuters.com/markets/europe/russias-inflation-will-be-12-13-2022-kremlin-aide-says-2022-08-29/.

À medida que o tempo corre, o Kremlin assume por sua conta e risco o crescente desgaste – se há poucas semanas era o problema econômico, em função da dependência das exportações energéticas para a Europa, agora o militar parece também atormentar bastante a burocracia russa.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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