Estados Unidos e Brasil: aspirações desencontradas no início da gestão de Obama

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Virgilio Arraes
07/04/2015

 

 

Ainda no primeiro semestre de 2009, na esteira de uma tradição desamparada materialmente, o governo brasileiro esperançou-se com sua contraparte norte-americana com o propósito de assegurar para si um assento fixo no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS/ONU), caso houvesse uma ampliação das vagas a pedido da Secretaria Geral da instituição ou dos membros conciliares fixos.

 

Acalentado no canto da sereia do Itamaraty, o Planalto havia se aproximado no mandato anterior do presidente Lula da Índia, Alemanha e Japão, mais tarde autodenominado G-4, a fim de obter aquela importante alteração regimental, necessária por já não adequar-se o organismo onusiano aos tempos contemporâneos, mas, por outro lado, temerária pela inexistência de critérios objetivos no seio da comunidade internacional para o preenchimento de futuras cadeiras.

 

A princípio, todas as grandes potências permanentes são a favor de uma reforma no Conselho de Segurança, sem, no entanto, jamais pormenorizá-la. Na avaliação da diplomacia brasileira, isto já seria um ponto de partida bastante favorável. Assim, destacava-se de forma benfazeja a postura da Grã-Bretanha e da França.

 

Naquela altura, os Estados Unidos, enredados pela desproporcional crise econômica gerada a partir de seu próprio território, não se encantavam mais com o tema, nem mesmo para agradar de modo meramente retórico seus aliados.

 

De maneira adequada, a atenção de Washington voltava-se para a aprovação no seu parlamento de mecanismos dificultosos de novas expansões desmedidas de crédito, o que implicava novo papel no relacionamento nem sempre harmonioso entre o ministério da Fazenda e o Banco Central – Federal Reserve System (FED).

 

No cálculo de Brasília, uma das principais credenciais seria a ausência de oposição explícita ao seu pleito, sem considerar no próprio MERCOSUL a ausência de manifestação estimulante ou auspiciosa à candidatura. Na América Latina, o México mesmo não avaliava o desejo brasileiro como representativo de uma aspiração continental.

 

Indicativa de posicionamento desvinculado daquela aspiração imediata do país estava a nomeação de Thomas Shannon para o posto de embaixador, após passar pela titularidade da Secretaria de Assuntos Hemisféricos.

 

Experiente, com 25 anos de carreira diplomática, ele tinha como preocupação a temática econômica, dentro da qual um dos itens era o biocombustível, objeto de correta queixa do Brasil por visível dificuldade na exportação para os Estados Unidos diante da preferência comercial concedida a alguns países da América Central.

 

A depender do ponto de vista, a visão bonançosa ou condescendente da Casa Branca com o Planalto, concretizada no abrigo de uma democracia formal e no cumprimento estrito dos contratos financeiros, não desaguaria em concessões políticas em organismos mundiais de porte, mas na manutenção, tão-somente, de uma relação econômica considerada estável, fundamentada na posição de primeiro importador do Brasil – em torno de 15% em 2008.

 

Leia Também:

Estados Unidos e Brasil – Cuba e a Cúpula das Américas de 2009

 

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

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