Correio da Cidadania

Caso Tiririca

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Para poupar o eventual sacrifício da leitura deste texto por aqueles que são bastante preconceituosos, faço a declaração sintética do seu conteúdo: "Abomino os que aproveitam o caso Tiririca para dizer que o povo brasileiro é burro e não há racionalidade no voto dado. Neste povo, podem existir analfabetos, muitos incultos e não politizados, por culpa da manipulação consciente de poderosos, mas ele não é burro".

 

A grande maioria do povo brasileiro não capta bem como o legislador pode influir para melhorar a sua vida. Não imagina o que é o trabalho legislativo. Partindo para uma hipótese absurda, se o Tiririca se candidatasse a presidente, governador ou prefeito, duvido que o povo o elegeria, pois saberia muito bem que esta escolha iria influenciar sua qualidade de vida. Ele compreende melhor a função dos cargos executivos.

 

Por sua vez, raros são os legisladores que se dispõem a explicar o que pretendem fazer com o mandato, e mais raro ainda são aqueles que, conseguindo o mandato, procuram explicar o que estão fazendo. Alguns mandam comunicações, de tempos em tempos, explicando o que estão fazendo. Estes são dignos de mérito, pois se esforçam para mostrar que valeu o voto dado pelo eleitor. Se já existisse o "recall" entre nós, no meio do mandato, os eleitos poderiam ser cassados ou ratificados pelo próprio povo.

 

A grande mídia explica muito mal os projetos de interesse popular que tramitam nos legislativos, com falta de análises isentas. Não divulgam, muitas vezes, nada do que é principal em um projeto, pois, assim, fica mais fácil serem aprovadas leis benéficas para o capital e danosas para a sociedade. Muitos dos candidatos buscam também retirar de foco os itens principais nos seus discursos para merecerem o voto, torcendo para existir uma grande confusão na cabeça do eleitor.

 

Na sua enorme sapiência, ao votar no Tiririca, o povo está dizendo: "Parem de me iludir. Quero candidatos que expliquem para que servem os legislativos, como vão agir ao receberem o mandato e como vêm agindo desde o passado". Talvez, haja também um recado do tipo: "A demonstração de cultura de um candidato, sem haver honestidade de princípios, não é garantia de que ele irá melhorar minha vida. Tiririca disse, no horário eleitoral, que não sabia o que deputado faz. Pelo menos, ele é sincero".

 

Não se deve excluir a possibilidade de alguns, querendo ver o circo pegar fogo, apesar de entenderem o deboche que representa a escolha do Tiririca, terem votado nele.

 

Tenho medo de o povo caminhar, com a ajuda da mídia tendenciosa, para achar que um déspota bom é a solução. Ela fabricou um déspota dos tempos modernos, anos atrás, tendo ele chegado ao poder, mas, felizmente, por razões outras, durou pouco. No processo desta fabricação, busca-se sempre desmerecer o Legislativo e enaltecer o déspota, "salvador da pátria", dono de uma razão iluminada, um verdadeiro ser ungido pelos deuses.

 

Que tristeza existirem partidos que exploram esta confusão e lançam Tiriricas como seus candidatos, com interesses escusos. Lamentáveis também são os candidatos que buscam usufruir os votos dados aos Tiriricas para se elegerem. Você, que é consciente, anote a sigla destes partidos e os nomes dos beneficiários, para fazer campanha contra eles, que merecem nosso repúdio. Resta torcer para que Tiririca seja iluminado e procure merecer o voto popular recebido, e não siga mais seus "mentores políticos".

 

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros.

 

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